Dois componentes fizeram da Guerra de Princesa um movimento
diferente, inusitado: aviões e estrangeiros. O levante dos rebelados de
Princesa, em 1930, contra o governo do presidente paraibano, João Pessoa
Cavalcanti de Albuquerque, liderados pelo coronel José Pereira Lima, o que
durou longos cinco meses, teve a participação de 4 importantes personagens que
não nasceram no país, de 2 aeronaves também fabricadas no exterior e de 1 filho
de estrangeiros. Essa situação caracteriza, aquele conflito, diferente de todas
as lutas ocorridas – até então, no interior do Brasil.
Quanto aos personagens, o primeiro e mais importante é o
japonês Yege Kumamoto. Nascido no outro lado do mundo, “seu Iês”, como era
conhecido em Princesa, aqui chegou na década de 1920, trazido pelo coronel José
Pereira que o conheceu, como imigrante - egresso da I Guerra Mundial -, no
porto do Recife. Chegando a Princesa, Kumamoto, mesmo sem falar uma única
palavra de português, rapidamente se adaptou e começou a trabalhar nas usinas
de algodão do coronel. Durante a Guerra de Princesa, Yege assumiu o papel de
tesoureiro-geral e era o responsável pela busca do dinheiro (em Arcoverde, então
Rio Branco), que vinha do Recife, e pelo pagamento dos homens de Zé Pereira em
armas.
Outros dois estrangeiros que tiveram efetiva participação na
Guerra de Princesa, foram os italianos Florindo Peroni - exímio piloto de avião
e Luigi Fossati, competente mecânico. Estes dois, foram contratados pelo
governo da Paraíba com a finalidade de promover o “bombardeio” de Princesa.
Essa empresa foi um fiasco. O aviãozinho “flit”, comprado por João Pessoa, não
conseguiu alçar voo e despedaçou-se ao esbarrar numa cerca num campo de aviação
improvisado, na cidade de Piancó. Mas o presidente da Paraíba, açulado por José
Américo de Almeida, não desistiu. Logo foi providenciada outra aeronave.
Nessa nova empreitada, mais um estrangeiro participou daquele
movimento de guerrilha. Foi o francês, nascido na Argélia, Charles Garcia
Astor. Este, também aviador, foi o responsável por pilotar o avião monomotor,
apelidado de “Garoto”, que, em face da avaria sofrida pelo “flit”, foi
adquirido em São Paulo para efetivar o desejado bombardeio da cidade rebelada. Diante
da impossibilidade do intento bélico, que seria de grande monta, o monomotor
pilotado pelo francês limitou-se a apenas despejar sobre o reduto rebelde,
panfletos conclamando a população a evacuar da cidade, e aos homens de Zé
Pereira a entregarem-se em face do iminente bombardeio da cidade. Não aconteceu
uma coisa nem outra, tampouco o prometido bombardeio.
Além desses quatro estrangeiros que participaram do conflito
armado de Princesa, um outro, neto de alemães, teve também participação efetiva
naquela guerra. Foi o militar, Jacob Guilherme Frantz. Nascido no Rio Grande do
Sul, sabedor da guerra que aqui se desenrolava, veio à Paraíba e apresentou-se
como voluntário para lutar ao lado da polícia paraibana, contra os rebeldes de
Princesa. Terminou sendo major da Polícia paraibana, deputado estadual,
deputado federal e prefeito de duas cidades paraibanas. Diante do aqui exposto,
constata-se haver sido, a Guerra de Princesa, um dos poucos eventos bélicos
ocorridos no Brasil, que tiveram a participação de estrangeiros e o uso de
aeronaves em seus movimentos. Algo verdadeiramente inusitado.
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