A serpente de Antônio
Nunes
Desde criança eu escuto essa estória. Dada a sua
contemporaneidade, chamo-a de uma lenda viva. Lembro-me, que da boca dos mais
velhos – alguns proferindo com muita convicção -, escutava sobre a existência
de uma serpente (grande cobra) que existia no açude Macapá, mais conhecido como
“Açude Novo”. Nada de anormal a existência de répteis em reservatórios de água.
Essa cobra, porém, é diferente. Tem uma história bastante peculiar e sempre foi
motivo de comentários hilários nas rodas de conversas em Princesa. O “Açude
Novo” – como todo princesense sabe -, dá com suas margens para a velha Rua da
Lapa, onde se estabelecia o antigo Cabaré de Princesa.
Conta-se, que nos idos da década de 1950, uma jovem rapariga
chamada Luísa - a quem se referiam como “Luisinha” -, que fazia ponto no
prostíbulo comandado por Estrela de Pedro Caboclo (o velho Cabaré), após ser
expulsa de casa por haver sido deflorada sem se casar, quando contava apenas 16
anos de idade, teve um idílio amoroso com um alto comerciante da cidade e,
desse libidinoso romance, nasceu uma criança que não poderia nem deveria ser do
conhecimento da sociedade. Ao nascer, a criança, por determinação do poderoso e
também pecador, pai do menino, a prostituta lançou vivo, o rebento, logo ao
nascer, nas águas do Açude Novo.
A partir daí, começa a lenda. No dia seguinte a esse hediondo
crime, a jovem meretriz, ainda adolescente, arrependeu-se terrivelmente do
feito criminoso e vivia pelos cantos a chorar. Não suportando mais esse
tormento, botou um véu na cabeça e foi para a igreja, em busca de perdão,
confessar ao padre o seu crime. Contritamente ajoelhada ao confessionário, aos
prantos, relatou toda a macabra história ao cura. Era frei Clemente. Um alemão
que lutara na II Guerra Mundial ao lado dos nazistas e tido como detentor de um
temperamento que era a antítese de seu nome.
Ao fim do triste relato da desventurada quenga, o padre - ao
invés da imposição de uma rigorosa penitência à pobre rapariga, com o intuito
de reparar sua culpa -, aos gritos e de forma quase ininteligível em seu
português mal falado e de sotaque esquisito, disparou sua sentença: “Maldita! Hás de queimar no fogo do inferno
por esse grande pecado! E tua cria, se transformará numa serpente! Em face
dessa “praga” do inclemente sacerdote, a
desvalida jovem saiu da casa de Deus desesperada e, chegando de volta ao
Cabaré, trancou-se num quarto, e dali só saiu morta quando se enforcou com o
punho de sua rede de dormir.
Após a sentença da Santa Madre Igreja, castigando o “livre
arbítrio” da desditosa prostituta, que foi enterrada em cova rasa, sem
extrema-unção, tampouco missa – o que não era permitido, pela Igreja Católica,
aos suicidas pobres -, o caso ganhou a rua e todos passaram a acreditar nessa
serpente moradora do “Açude Novo”.
Incorporando para si a lenda - Antônio Nunes, um marceneiro
que morava próximo ao Bairro do Cruzeiro e que gostava de no açude de pescar,
nas horas vagas, afirmava ser ele o único que “viu” a enorme cobra a serpentear
naquelas águas. Antônio Nunes, era um homem pacato, pertencente a uma família
de carpinteiros (dois de seus irmãos também trabalhavam a madeira: Silvino e
João) e gostava de contar estórias mirabolantes. Ao saber da tragédia da jovem
meretriz, Nunes viu aí um caldo de cultura que iluminou sua criativa imaginação
e passou a relatar seus constantes contatos – durante suas pescarias -, com a
famigerada serpente. Chegou ao ponto de afirmar que, certa vez, foi por ela [a
serpente], levemente picado e, por isso, passou o resto da vida mancando de uma
perna. Ainda hoje, há quem afirme sobre a existência dessa maldita serpente, o
nosso “Leviatã” com cara de menino que, a exemplo do monstro do Loch Ness, reina até hoje impávida nas
águas daquele quase centenário reservatório de água. Essa estória é conhecida
em Princesa como: A Serpente de Antônio Nunes.
Completando sua narrativa, uma vez ele mesmo me mostrou uma lesão no tendão do tornozelo direito e me falou que tinha sido um ataque dessa serpente, mas depois eu ouvi de fonte segura que Sebastião Medeiros mandou cortar uma cerca de aveloz que tinha ao lado desse local onde Seo Antônio contou que foi atacado e um certo dia ele tinha tomado umas pingas e foi tomar banho, quando o mesmo pulou enroscou o pé em uma forquilha de do aveloz e na tentativa de se soltar, tentava tirar com a mão, como a casca da madeira estava em estado decomposição, estava muito lisa, aí veio no pensamento dele que seria a cobra, e de tanto ele puxar o pé provocou uma lesão no tendão do tornozelo. Aí uma outra parte da estória contada por ele.
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