FLORENTINO RODRIGUES
DINIZ, mais
conhecido como Major Floro, nasceu no dia 06 de agosto de 1873, em Patos de
Princesa, atual Patos de Irerê (hoje pertencente ao município de São José de
Princesa) e era filho de Joaquim Rodrigues Florentino e de dona Alexandrina
Maria de Sant’Anna. Casou-se em primeiras núpcias com dona Leonor de Jesus
Douetts, com quem teve uma filha que foi chamada de Alexandrina. Com a morte de
sua primeira mulher, o Major Floro desposou dona Maria Dulce de Barros Diniz,
tendo com ela três filhos: Leonor, Abraão e Floro. Nada pudemos colher sobre a
infância e juventude do nosso biografado, tampouco sobre sua formação
intelectual. Sabemos apenas que, Florentino Diniz, sabia ler e escrever e que
desde cedo, demonstrou grande vocação para o empreendedorismo no campo da
indústria e do comércio, sem deixar de lado as tradicionais atividades de seu
meio, a agricultura e a pecuária.
O Político
Com a súbita e inesperada morte do coronel Marcolino Pereira
Lima, em 11 de setembro de 1905, a ausência da liderança do coronel falecido
gerou alguns conflitos de interesses pela busca do direito de ocupar o “trono”
vazio. Major Floro, que era irmão do coronel Marçal Florentino Diniz não nutria
muitas simpatias quanto à detenção de poder absoluto pelo coronel Marcolino e
viu aí uma oportunidade de, na qualidade de homem mais rico de Princesa,
assumir o comando da então Villa. Observando a movimentação do terceiro filho varão
do mandatário morto, em busca de sua unção para substituir o pai no comando de
Princesa, Major Floro procurou o irmão, Marçal, e mais alguns amigos para
formarem frente aos interesses de José Pereira Lima. Este, jovem de apenas 21
anos de idade, acabara de chegar do Recife quando abandonou o curso de Direito
e tentava agora tomar o lugar do pai. Segundo o historiador princesense, Paulo
Mariano, em seu livro: “Princesa – Antes e depois de 30”, temos: Com a morte do coronel Marcolino Pereira, em
1905, surge a primeira disputa pela fatia do poder, uma vez que brota a
primeira insatisfação política de que se tem conhecimento e que ganha corpo com
a participação ativa do Presidente do Conselho Municipal o proprietário rural,
tenente-coronel João Baptista da Silva; o industrial, major Floro Florentino
Diniz; o fazendeiro tenente-coronel, Deodato de Paula e Silva, mais conhecido
como Deodato Grande; o também fazendeiro, capitão Manoel Lopes, do sítio
Salgadinho, além de outros que se insurgiram contra a transferência do poder
político para o coronel José Pereira. O movimento, contudo, não logrou êxito,
em razão dos mecanismos de que o coronel dispunha”. Em face desse
movimento, o jovem José Pereira antecipou-se, rumou para a capital do Estado e
conseguiu, junto ao presidente Monsenhor Walfredo Leal, a anuência para assumir
o comando de Princesa. Por algum
tempo, o poder ficou meio que dividido entre o filho do coronel Marcolino
Pereira Lima e Marçal Florentino - que era cunhado e futuro sogro de Zé Pereira
-, com as bênçãos do rico major Floro. Como vemos, naquele tempo o poder
efetivo não era exercido pelos constituídos, mas sim, pelos coronéis.
Observemos que, enquanto Zé Pereira mandava em tudo; os investidos nos cargos
oficiais não detinham nenhum poder de mando. Durante a “Guerra de Princesa”, enquanto
José Frazão de Medeiros Lima e Glycério Florentino Diniz detinham as funções de
prefeito e vice-prefeito, respectivamente, o major Floro exercia o cargo de Presidente
do Conselho Municipal, porém, quem dava as cartas, na mesa do poder, era o
coronel José Pereira Lima.
CASARÃO DO MAJOR FLORO
SELO DO VINHO PRODUZIDO PELO MAJOR
FLORO
O empresário
Como já vimos, o major Floro era o homem mais rico de toda a
região. Segundo o escritor princesense Otávio Augusto Pereira Sitônio Pinto, em
citação no seu livro “Dom Sertão, Dona Seca”, quando discorre sobre a
importância e a influência exercida pelo nosso biografado no próspero Povoado
de Patos, disse: “O major Floro era o
dono de Patos”. Naquele Povoado, o major mandava e desmandava. Tudo de
importante que ali existia havia sido construído por ele. Até a pequena igreja
foi Floro quem mandou construir. Prova disso é o fato de aquele templo, até
hoje, pertencer aos seus descendentes. Patos recebeu energia elétrica primeiro
do que Princesa. Ali, ao redor do grande e confortável casarão que servia de
morada para o major Floro e sua família, foram construídos engenhos de açúcar
demerara e de rapadura. Funcionava também uma usina para descaroçamento de
algodão. Além das atividades fabris, grande comércio atacadista se instalou em
Patos com a finalidade de, além de prover às necessidades do Povoado, suprir de
estoques os armazéns de secos e molhados; as lojas de tecidos, chapéus,
calçados e vestes manufaturadas, quando tudo era vendido para outras praças
também. Porém, a “joia da coroa” de seus empreendimentos - não pelos lucros que
poderiam proporcionar, mas, pela sofisticação e o inusitado -, era a fábrica de
vinhos. Em Patos, o major Floro produzia o “Vinho
Velho de Fructas” que era “exportado” até para o Recife. O empreendedorismo
do major fez daquele arruado o Distrito Industrial de Princesa. Era ali, graças
ao patriarca, que as coisas aconteciam. Nesse tempo, até uma professora
particular (Maria Alice Maia), foi contratada pelo major para ensinar às crianças
do lugar.
Sociedade e Cangaço
FAC-SIMILE DO TELEGRAMA RECEBIDO, DE PARIS, PELO MAJOR FLORO, REMETIDO POR SEU AMIGO, O EMPRESÁRIO JOÃO PESSOA DE QUEIROZ
Sociedade e Cangaço
O major Floro, enquanto homem de posses e, casado com uma
mulher de fina educação – dona Leonor Douetts provinha de família de origem
francesa e aportou em Triunfo/PE vinda de Cajazeiras/PB pela mão de uma irmã
freira que a fez acompanhá-la quando veio dirigir o Colégio “Stella Maris” -,
possuía residência também em Triunfo. Era uma casa bem localizada no centro
daquela cidade e montada com todo o conforto para alojá-lo e à sua família por
ocasião das festas de fim de ano e quando do acontecimento de outros eventos
sociais. Malgrado ser, o major Floro, um homem de hábitos refinados, que
cultivava amizades com pessoas do maior prestígio, a exemplo do industrial
pernambucano João Pessoa de Queiroz – que residia em Paris e com quem Floro
mantinha constante correspondência (reproduzimos acima um telegrama recebido de
Paris pelo major) -, comungava com o sobrinho-genro Marcolino Florentino Diniz
- que era casado com sua filha Alexandrina -, quanto ao gosto por algumas
coisas escusas. Simpatizava com as atividades criminosas do cangaceiro Lampião
e dava-lhe guarida em suas propriedades. Para maior irritação de Zé Pereira,
que nessa época já combatia o “Rei do Cangaço”, autorizou a realização do
casamento do cangaceiro “Meia-Noite” na capela do Povoado - consagrada a São
Sebastião -, de sua propriedade, com todas as honras concedidas às pessoas de
vida normal. Por motivos dessa natureza, somado às dissenções políticas
ocorridas no passado, o major não privava da completa amizade do coronel José
Pereira Lima, de forma que se olhavam enviesados. Mesmo assim, Floro
compartilhava atividades econômicas com o chefe de Princesa, pensando sempre no
desenvolvimento do seu lugar e na auferição dos indispensáveis lucros. No
exercício do segundo casamento, o major teve vida menos intensa. Dona Dulce,
diferente da descendente de franceses, era mais discreta e menos afeita às
atividades sociais dando preferência às coisas do lar e da fazenda. A segunda
esposa valorizava as coisas do sobrenatural quando cultuava a prática de
“rezadeira”; não somente para curar doenças, mas também voltada para os casos
de “achados e perdidos”. Era, enfim, uma mística.
A Debacle
Fiel ao velho
ditado que reza: “Pai rico, filho nobre,
neto pobre”, com o major Floro não foi diferente, pois, enquanto o
patriarca passou a vida amealhando recursos vários, oriundos de atividades
também variadas, tanto seu genro quanto seus filhos, não primaram em conservar
ou aumentar o patrimônio do velho, mas sim - principalmente o genro e os netos
-, em dilapidá-lo. Por causa disso, o major viveu seus últimos dias já não tão
rico como antes, porém, ainda com muitos recursos financeiros e bens imóveis e
semoventes. Durante sua não tão longa existência, nunca perdeu a dignidade,
tampouco a autoridade com os seus e morreu no mesmo lugar onde nasceu. Conforme
consta em seu atestado de óbito, o major Florentino Rodrigues Diniz faleceu no
dia 05 de julho de 1933 - aos quase 60 anos de idade, vítima de “syncope
cardíaca” (infarto) -, no casarão onde sempre morou e que hoje está abandonado
e sendo, aos poucos, destruído pelo tempo sem que ninguém tome alguma
providência quanto à recuperação daquele que foi um dia o centro econômico e
financeiro, mola propulsora para o desenvolvimento do que é hoje Princesa. Em
face da importante contribuição dispensada pelo nosso biografado em prol do
desenvolvimento, político, econômico e social da nossa Terra, está o mesmo a
merecer homenagem maior do que a que já ostenta quando dá seu nome a uma das
ruas da cidade sendo agora, inscrito no panteão dos filhos ilustres de
Princesa.
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