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terça-feira, 28 de junho de 2022

Hipocrisia e vingança na esteira do assassinato de João Pessoa

Às 17:30 horas do dia 26 de julho de 1930, na Confeitaria Glória, no centro do Recife, o presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque era assassinado pelo advogado paraibano João Duarte Dantas. Esse crime - um dos mais famosos do Brasil -, deu motivo para a reorganização dos tenentes conspiradores, membros da Aliança Liberal, o que possibilitou a eclosão da Revolução de 1930 em outubro daquele ano.

Morto, João Pessoa, os revoltosos de Princesa, comandados pelo coronel José Pereira Lima, abaixaram as armas. A Guerra de Princesa, que já durava cinco meses, foi suspensa por ordem do coronel e, a cidade, foi ocupada pelo Exército Brasileiro com o intuito da manutenção da ordem. Entusiasmados, alguns seguidores de Zé Pereira comemoraram o fato do assassinato, mas este, pragmático e intuitivo que era, declarou: “perdemos a guerra...”

Num ato de hipocrisia explícita, o coronel José Pereira, mandou rezar - no dia seguinte à tragédia da Confeitaria Glória - uma missa solene em sufrágio da alma do desditoso presidente João Pessoa. Aliás, não foi somente em Princesa que missas foram celebradas em demanda da salvação presidencial, mas, em quase todas as cidades do Estado e em várias das capitais do Brasil. Muitos dos princesenses que compareceram ao ato litúrgico, persignaram-se mais em agradecimento à partida de João Pessoa do que mesmo em pedido de sua salvação.

Mais tarde, a partir de outubro, com a vitória da Revolução, um ex-aliado do coronel foi nomeado prefeito de Princesa: Nominando Muniz Diniz (“seu” Mano). Quase que ato contínuo à sua posse como novo alcaide, Nominando Diniz, decretou a desapropriação da estátua de Epitácio Pessoa (erigida em pedestal numa Praça de mesmo nome) fazendo-a deixar de ser propriedade do coronel Zé Pereira e passando-a a pertencer à municipalidade. A estátua, em corpo inteiro, havia sido financiada às expensas de Zé Pereira.

Não bastasse isso, em novembro daquele ano de 1930, dando vazão ao desejo de vingança incontida, tanto dos que comandavam a nova ordem quanto dos que aqui se fizeram adesistas, “seu” Mano, na qualidade de prefeito, expediu um Decreto mudando o nome da então “Rua da Ladeira” para Avenida Presidente João Pessoa. Como vemos, João Pessoa, que não conseguiu adentrar às ruas de Princesa com sua Polícia Militar, entrava agora como nome de uma das principais ruas da cidade.

Na verdade, quando da morte de João Pessoa, com o intuito de ressuscitar as articulações revolucionárias, os tenentes aliancistas de tudo fizeram para mobilizar a Nação em favor da ruptura institucional. Campanha foi deflagrada para homenagear o presidente assassinado e, das 26 capitais de Estado do Brasil, somente sete não apuseram o nome de João Pessoa em uma de suas principais vias. Missas, foram celebradas pelo país inteiro. Tantas, que, tirante da que foi rezada em Princesa, certamente a alma de João Pessoa deve ter ido direto para o céu sem sequer passar pelo purgatório.

A missa da hipocrisia pode ter sido um faz-de-conta, no entanto, as providências do novo prefeito foram pra valer. Até hoje, a estátua do presidente Epitácio Pessoa (a única de corpo inteiro existente no Brasil), continua exposta na Praça que leva seu nome e, a Avenida Presidente João Pessoa continua também ostentando o mesmo nome. Se a missa de Zé Pereira não serviu para salvar a alma de João Pessoa, a vingança de Nominando se fez realidade quando permitiu que o ilustre inimigo de Princesa fizesse morada, para sempre, no lugar que detestava.



 

  

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