O major Feliciano
Rodrigues Florêncio era um homem austero e afeito às convenções sociais e
sempre exigia que fossem as mesmas respeitadas. Certa vez, por ocasião da visita
do então interventor (equivalente a governador) do estado da Paraíba, Ruy
Carneiro, a Princesa o major procurou saber onde estava hospedada a autoridade
e resolveu ir visitá-la. Para tanto, logo ao amanhecer do dia, chamou sua
esposa e disse:
- Mulher, ajeita meu
“liforme” e meus “botins inglês” que eu vou visitar o governador.
Atendido em sua
ordem pela mulher, aprontou-se todo e partiu em seu desiderato. Chegando à casa
onde dormira o Interventor, fez-se anunciar e, todo enfatiotado, sentou-se a
uma poltrona e ficou a aguardar o aparecimento do chefe do Governo do Estado.
Em poucos minutos, adentrou Ruy Carneiro à sala onde estava o major. Logo que
pôs os olhos na figura da autoridade, o major espantou-se com os trajes do
interventor que se encontrava de pijamas e uma toalha enrolada no pescoço. Sem
titubear ou fazer cerimônias, Feliciano foi logo dizendo:
- Espere meu
sinhô! Isso é estilo de um governador de Estado receber as visitas? Volte,
troque de roupa e venha me receber.
O interventor ficou
encabulado e falou:
- Eu não quis dar
maçada ao senhor; peço que me desculpe, realmente fui muito indelicado, major.
Mesmo assim, o
major insistiu:
- Tá o diabo! Onde
já se viu uma falta de estilo dessas, meu sinhô? Vá se aprontar que eu fico
esperando.
O major Feliciano era assim. Não tinha papas na língua, tampouco distinguia a quem dizer o que pensava. Nesse caso, para ele, a investidura num cargo público de relevância deveria também ser acompanhada de indumentárias adequadas e compatíveis, uma vez que, no seu entender, o respeito deveria ser mútuo, ou seja: teriam que se apresentar compostos, tanto o visitante quanto o visitado. Para o major, que nunca se achou menos importante do que ninguém, as “importâncias” eram as mesmas.
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