A eleição do último dia 30 de outubro vai entrar para a
história política como um dos pleitos mais antológicos já havidos no Brasil. São
vários os ingredientes que o fazem diferente dos demais. Desde a disputa entre
dois candidatos, representantes de pensamentos completamente antagônicos, até à
forma como se desenvolveu em todo o curso da campanha eleitoral.
Disputaram, pela primeira vez, um presidente da República
ocupando o cargo, em busca da reeleição e um ex-presidente que já havia ocupado
esse cargo por duas vezes em busca do retorno a essa cobiçada cadeira. O
primeiro, representante da extrema-direita e, o outro, defensor do pensamento
de centro-esquerda: Jair Messias Bolsonaro (PL) e Luís Inácio Lula da Silva
(PT), respectivamente.
Venceu o candidato do PT. Em que pese haver sido vitorioso
com a menor diferença já registrada (1,9%) em eleições presidenciais, Lula
obteve a maior votação (mais de 60 milhões de votos) já alcançada por um
candidato à presidência da República. Uma eleição acirradíssima e contida de
componentes nunca vistos. Além de haver sido um teste para a democracia
brasileira – por seus componentes golpistas -, foi esta uma eleição inusitada.
Depois da redemocratização (1985) e do estabelecimento do
instituto da reeleição para cargos majoritários no Brasil, nenhum dos
mandatários que concorreram a um novo mandato, de forma consecutiva, perdeu a
reeleição. Para conseguir a sua, Jair Bolsonaro fez de tudo o que se apresentou
ao seu alcance. Com a ajuda do “centrão” e o apoio da maioria do Congresso
Nacional, até a Constituição foi mudada para viabilizar sua eleição. Em vão.
Mesmo com o arrombamento dos cofres públicos e o uso abusivo
da máquina pública, Lula venceu Bolsonaro num Brasil divido em dois. Com um
discurso apelativo em prol das políticas de amparo social, o candidato petista
arrebanhou os votos da região mais pobre do país quando obteve massiva votação
no Nordeste, algo nunca visto. Dos 1.793 municípios nordestinos, Lula foi
vitorioso em 1.778, enquanto Bolsonaro ganhou em apenas 15 municípios.
Pelo visto, Jair Bolsonaro, não esperava por esse resultado a
ele desfavorável. Mesmo com a derrota configurada, o presidente fechou-se em
copas e, até agora, sequer pronunciou-se em reconhecimento da vitória de Lula.
Em contrapartida a esse comportamento, os demais poderes constitucionais da
República já emitiram notas parabenizando Lula e reconhecendo sua vitória.
Também os países mais importantes do mundo ocidental já se declaram favoráveis
ao resultado das urnas brasileiras.
Mesmo com seu histórico de pronunciamentos golpistas, quando
sempre duvidou da lisura das urnas eletrônicas, o silêncio do presidente Jair
Bolsonaro não mete medo em mais ninguém, uma vez que até os seus correligionários
mais próximos, a exemplo do presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira
(PP), já se pronunciou reconhecendo a vitória de Lula. Na verdade, Bolsonaro
pelejou para perder e, quase não perde. O Brasil venceu!
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