Uma das coisas mais tradicionais do Nordeste brasileiro
sempre foram as Feiras Livres. Mesmo com o advento das facilidades para a
aquisição de alimentos frescos, a exemplo de carnes, verduras, frutas, etc. -
que hoje se consegue comprar, durante toda a semana, em mercados permanentes -,
nada conseguiu acabar com a tradicional Feira Livre. Nem o advento da
geladeira. Em Princesa, onde a feira ocorre sempre aos sábados lembro-me que,
em tempos passados, era esse um dos principais eventos da semana.
Aos sábados, acorriam todos os que moravam na Zona Rural (até
fins da década de 1970, 60% da população residia nos chamados sítios), para
fazerem suas compras e também para venderem seus produtos agrícolas, pastoris,
artesanais, etc. Até os casamentos religiosos eram realizados, de forma
coletiva, nas tardes de sábado. O dia da feira era o dia em que tudo se
resolvia. Era o dia do encontro de todos. Até as querelas eram deixadas para ser
resolvidas aos sábados, uma vez se constatar, ao longo da história, que a
incidência de crimes por assassinato ocorria, em sua maioria, nos dias de
feira.
Em tempos recentemente passados, quando Princesa não era
ainda servida por energia elétrica para viabilizar a geladeira, as pessoas só
podiam desfrutar do prazer de comer carne fresca (chamada verde), aos sábados. É
tanto que, ainda hoje, há o costume de a “mistura”, nos dias de sábado, ser o
bode ou o porco. As verduras e as frutas, só eram comercializadas também no dia
da feira. Os cereais: feijão, milho, arroz, etc. eram vendidos em sacos com
suas “bocas” arregaçadas ou em caixões de madeira e medidos em “cuias”.
Outras sensações das feiras de Princesa eram as “canoas” de
Manezim Cristóvão; as tapiocas de Maria Costa; o “quebra queixo” de Chico
Pezim; o capilé de João Costa; os beijus de Chico Tamborete e os caminhões de
madeira feitos por Zé Honório, dentre outras coisas que hoje não existem mais,
além da “feira da troca”. Nos dias de sábado era uma festa sem par. Hoje, após
as mudanças impostas pela pandemia do covid-19, a feira continua existindo,
porém, não mais com aquele tamanho ou o charme de antanho. Funciona quase que
como uma obrigação para não quebrar a tradição.
Com a chegada da pandemia do coronavírus, foi essa, a
machadada final. Hoje, praticamente não existe mais a feira como ela era. Nem
aqui em Princesa nem nas outras pequenas cidades do interior. Resume-se, hoje,
as feiras livres, a parcas barracas onde se vendem roupas populares, algumas
panelas de alumínio e poucas bugigangas. A comercialização de frutas, verduras
e cereais, se dá, hoje, nos vários “sacolões” espalhados pela cidade. Na
verdade, a Feira Livre de Princesa não morreu ainda, no entanto, está só
arquejando.
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