Hoje, 14 de outubro de 2019, a minha mãe, Osana Maria
Roberto, se viva fosse, estaria completando 105 anos de idade. Pessoa de
bondade extrema e que dedicou grande parte de sua vida a servir aos outros,
principalmente aqueles mais necessitados. Quase tudo em sua vida aconteceu de
forma extemporânea. Já com mais de 30 anos de idade, resolveu ser freira.
Porém, um fato diferente de sua vontade mudou totalmente sua vida. Em setembro
de 1953, o senhor Manoel Maximiano dos Santos (Major Nequinho), rico
comerciante residente em Princesa, enviuvou de sua segunda esposa e, movido
pela informação de que seu compadre Manoel Roberto Ferreira na cidade vizinha
de Flores/PE tinha três filhas solteiras, resolveu visitar o compadre. Lá
chegando interessou-se pela filha mais de Manoel Roberto, uma moça de 49 anos
chamada Maria. Porém, enquanto o major confabulava com o amigo na sala de estar
da casa deste, vislumbrou outra moça, bem mais nova, no interior da casa.
Perguntou ao compadre quem era aquela, ao que obteve como resposta: “É Osana, minha filha mais nova”. Ao que
o major disse imediatamente: “Pois,
compadre Manoel, é com ela que eu quero noivar”. Meu futuro avô chamou a
minha futura mãe e perguntou: “Osana,
compadre Nequinho quer noivar com você. O que você acha?”. A filha, de
forma humilde e submissa, respondeu: “Se
for da vontade de meu pai...”. E assim, Osana deixou de ser noiva de Cristo
para noivar com o Major. O noivado durou pouco, pois, já em 03 de janeiro de
1954, Osana Maria Roberto se casava com Manoel Maximiano dos Santos. A despeito
da extemporaneidade, as coisas com ela aconteciam rápido também. Já em 12
janeiro de 1955 Osana tinha o primeiro filho do major. Ela contava com 40 anos
de idade e, o major, 78; pouco mais de dois anos depois, em 15 de julho de
1957, Osana dava à luz o segundo filho (este que escreve) e, em 26 de setembro
de 1960, aos 46 anos ela tinha a sua última filha, Maria do Bom Conselho. A
convivência de minha mãe com meu pai, apesar de efêmera (07 anos apenas),
revestiu-se de exacerbado “respeito”, pois, Osana chamava o major de “seu
Nequinho” e se dirigia ao mesmo sempre o chamando de “senhor”. Era assim o
estilo daquela época.
Vida difícil
Em maio de 1960, antes mesmo de a última filha nascer, morreu
o major de infecção generalizada. A partir daí, as coisas tornaram-se
dificílimas para dona Osana. Passamos toda a família, de ricos para miseráveis.
As dificuldades para promover a criação dos filhos se apresentaram logo após o
falecimento do marido e, Osana, já com quase 50 anos de idade, conseguiu um
emprego no Hospital São Vicente de Paulo, através de amizade construída com
dona Maria Aurora Diniz pela convivência nos ofícios religiosos da igreja
Matriz de Princesa. Com muita dificuldade criou os três filhos pautando sempre
sua orientação na ética, honradez, respeito e rígida religiosidade.
Filantropia
Mesmo sem descuidar da educação e encaminhamento dos filhos,
dona Osana cuidou também daqueles mais necessitados que encontrasse
desamparados. Fossem velhos, adultos ou crianças, estava sempre pronta para
servir com dedicação. Na qualidade de membro da Ordem Franciscana Secular,
seguia à risca o apostolado franciscano quando estava sempre pronta para
socorrer os mais pobres e mais necessitados, o que fazia, muitas vezes, usando
as dependências de sua própria residência. Em reconhecimento pelo muito que fez
dona Osana, o vereador Batinho apresentou Projeto de Lei à Câmara Municipal que
aprovou a adoção do nome de “Dona Osana Maria Roberto” para uma das ruas do
Bairro Maia de Princesa e, mais tarde, foi também dado seu nome à Unidade de
Apoio Infantil da Prefeitura de Princesa. Temerosa da morte, a minha mãe teve o
alento de falecer de forma tranquila: teve um infarto na tarde do dia 18 de
junho de 1999 e morreu na madrugada do dia seguinte sem muito sofrimento. Por
tudo o que representou para nós e pelo muito que fez por muitos, está, dona
Osana a merecer – no que seria a data de seu aniversário -, esta homenagem e,
tenho certeza de que ela não está nos poleiros, mas sim nas cadeiras
confortáveis do picadeiro que é o céu para onde muitos pensam que vão.
(Escrito por Domingos Sávio Maximiano
Roberto, em 14 de outubro de 2019).
Linda homenagem. Parabéns!
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