Seguindo a cronologia da Guerra de Princesa, o que faz parte
das rememorações e comemorações do nonagésimo aniversário daquele importante
conflito, trazemos hoje as ações retaliativas do presidente João Pessoa contra
Princesa motivadas pelo rompimento político do coronel José Pereira com o chefe
do Poder Executivo Estadual. Em 24 de fevereiro de 1930, portanto há 90 anos,
João Pessoa, logo após a troca de telegramas com Zé Pereira, o que teve
confirmado o rompimento político, demitiu todos os funcionários públicos
estaduais que serviam em Princesa. Exonerou as seguintes autoridades: o
prefeito José Frazão de Medeiros Lima; o vice-prefeito Glycério Florentino Diniz;
o adjunto de promotor Manoel Medeiros Lima e o diretor do Grupo Escolar “Gama e
Melo”, professor Severino Loureiro. O delegado de polícia Manoel Arruda e mais
oito soldados foram chamados de volta à Capital e os subdelegados de Tavares,
Belém, Alagoa Nova (Manaíra) e São José (São José de Princesa) à época
distritos, foram todos exonerados. O chefe da Mesa de Rendas do Estado, Manoel
Carlos de Andrade, que era irmão do coronel Zé Pereira, já havia sido
transferido para a cidade de Patos/PB. Somente os funcionários federais
continuaram no desempenho de suas funções no município, a exemplo do juiz de
direito, doutor Clímaco Xavier; do coletor federal, Leônidas Wanderley; do
escrivão da Coletoria Federal, Tiburtino Carlos de Andrade; do telegrafista,
Richomer Góis de Campos Barros e do Oficial do Registro Civil, Silvino de Medeiros
Lima. Logo que demitiu esses servidores, o presidente João Pessoa expediu
telegrama ao presidente da República, Washington Luís, com o seguinte teor: “Assim procedi, primeiro porque a polícia
não podia assistir inactiva a invasão da cidade por facínoras armados”.
A mentira travestida de verdade
Essa informação encaminhada ao presidente da República não
estava contida de veracidade. Na verdade, já intencionado em invadir Princesa -
talvez para impedir a realização das eleições de 1º de março daquele ano em que
ele próprio disputava o cargo de vice-presidente da República como companheiro
de chapa de Getúlio Vargas -, João Pessoa usou as demissões como pretexto para alegar que o pequeno burgo princesense estava infestado de bandidos e
cangaceiros, contratados pelo coronel. Notícia falsa para justificar a ação
invasora já planejada e que seria promovida pela polícia paraibana em 28 de
fevereiro daquele ano de 1930. Para justificar ainda mais sua ação
persecutória, o presidente paraibano fez divulgar, através do Jornal Oficial do
Estado, “A União”, a seguinte nota: “(...)
Atento à circunstância de que em Princesa a Prefeitura e secretaria desta,
promotoria adjunta, escrivania do cartório, agência do Telégrafo Nacional,
professorado, advogados e solicitador eram exercidos por sobrinhos, irmãos e
parentes afins do coronel, essa cidade dos Cariris Novos era um feudo absoluto
e fechado ao poder pessoal de um homem”. (Extraído do livro Revolução Estatizada, do historiador
José Octávio de Arruda Mello). Na verdade, desses funcionários, o único parente
do coronel Zé Pereira era o chefe da Mesa de Rendas, Manoel Carlos de Andrade
que era seu irmão. Vê-se que essas demissões já prenunciavam as intenções do
presidente Pessoa em desfechar ataque à cidade, como veremos adiante. Com isso,
estava tudo se preparando para o início da Guerra de Princesa, evento que mudou
a história do Brasil.
(ESCRITO POR DOMINGOS
SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 24 DE FEVEREIRO DE 2020).
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