Nascida Maria Gomes de Oliveira, apelidada de “Maria Déa” e consagrada para a história como “Maria Bonita”, essa mulher que, coincidentemente, nasceu no dia 08 de março de 1911 (Dia Internacional da Mulher), malgrado ser a companheira do maior facínora da história do Cangaço brasileiro, entrou para a história pela sua coragem e por ter sido a primeira mulher a fazer parte daquele segmento que assolou as terras nordestinas na primeira metade do século passado. Maria Bonita que era filha de José Gomes de Oliveira e de dona Maria Joaquina da Conceição, casou-se, aos 15 anos de idade com um sapateiro estéril, chamado José Miguel da Silva (Zé de Neném), com quem (claro) não teve filhos. Nasceu num povoado chamado Malhada da Caiçara, pertencente ao que é hoje o município de Paulo Afonso na Bahia. Nesse mês de março, consagrado às mulheres do mundo todo, nada mais natural do que prestar essa homenagem a uma mulher diferente que fez história na contramão quando, de forma inusitada, tomou nas mãos um fuzil e transformou-se na primeira cangaceira da história.
Amigo da família, Lampião sempre passava pelas terras onde morava sua futura companheira. Certo dia, informado de que a jovem senhora nutria forte sentimento em relação a ele, o “Rei do Cangaço” aproximou-se de Maria Déa, gostou e levou-a com ele. Quem contestaria? Corria o ano de 1930 e, Maria, com apenas 19 anos fez história como a primeira mulher a fazer parte de um bando de cangaceiros. Mesmo sem ser detentora de muita beleza, num afago bajulatório dos cabras, com o intuito de agradar ao chefe, foi logo cognominada de “Maria Bonita”. Com Lampião, Maria teve uma filha (Expedita Ferreira Nunes) e mais três abortos. Não pode criar a filha, que foi entregue a um casal de vaqueiros amigos de Lampião, que a criaram dizendo sempre ser ela filha do mais famoso casal de cangaceiros do Nordeste brasileiro. Durante os 09 anos em que viveu no Cangaço, Maria Bonita nunca deixou de estar ao lado de Lampião e sempre lutando também. É tanto que, no fatídico dia 28 de julho de 1938, quando uma volante da polícia alagoana surpreendeu o bando de lampião na grota de Angicos (município de Poço Redondo, no estado de Sergipe) e dizimou quase todos os cangaceiros ali arranchados, estava Maria ao lado do “Rei do Cangaço” e foi também chacinada, degolada e exposta, juntamente com o valente companheiro, nas escadarias da Igreja Matriz da cidade de Piranhas. Em que pese haver sido, Maria Bonita, a mulher do mais famoso cangaceiro do Brasil, está, sem dúvida, reconhecida como uma mulher diferente, destacada e, portanto, inscrita nos anais da história do Brasil pela sua coragem e pelo inusitado de haver sido diferente. Tudo isso faz-nos lembrar a música cantada por Martinho da Vila: “Existem mulheres...” Maria Bonita foi uma delas.
(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 20 DE MARÇO DE 2020).
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