ODE

quinta-feira, 12 de março de 2020

O NOSSO POLICARPO DO PARAGUAI



Ontem (10/03/20), o ex-governador Ricardo Coutinho foi denunciado pela 2ª vez pelo Ministério Público à Justiça paraibana pela contratação de empresa para produzir dossiês contra conselheiros do TCE/PB – Tribunal de Contas do Estado da Paraíba. A situação de Coutinho, que já está difícil, se agrava mais ainda a cada desdobramento das investigações da “Operação Calvário” que apura atos de corrupção praticados em suas duas gestões como governador do Estado, quanto ao uso indevido do dinheiro público quando desviou recursos da saúde e da educação para pagar compras e serviços que lhe valeram altas propinas pagas pelas empresas favorecidas. Ricardo Coutinho, que se arvorava de paladino da moralidade quando dizia que tudo estava podre na Paraíba e quando defendia o direito dos filhos dos pobres à educação e, aos desamparados, uma saúde de qualidade, destacou-se nessa voluntariosa e enganosa propaganda, conseguindo ludibriar a todos, alcançar o poder e desbancar as oligarquias às quais tanto atacou. Ontem à noite, quando mudava os canais da televisão buscando noticiários ouvi o nome “Paraíba” e parei. Era na Globo News, noticiando sobre a nova denúncia contra o ex-governador. Num átimo, me lembrei de um romance que li, ainda muito jovem, intitulado Triste fim de Policarpo Quaresma, de autoria do escritor carioca Lima Barreto, publicado em 1915.

Comparações que no final, não casaram

Essa obra trata do nacionalismo e patriotismo de seu personagem principal, Policarpo Quaresma, ativista exaltado que defendia um Brasil mais igualitário e atacava a chamada sociedade burguesa que só se preocupava com seus interesses. Quaresma, que morava com sua irmã Olga, que o chamava intimamente de “Poli”, tinha um, sonho: um país esplêndido. As coincidências falam por si quanto aos primórdios das comparações e a similaridade de apelidos. Ricardo Coutinho, nascido na capital paraibana, desde cedo exerceu militância política. Inicialmente na escola e depois nos sindicatos. No falsoafã de promover mudanças em prol de um país melhor e de uma Paraíba mais justa, mobilizou estudantes e trabalhadores através de suas propostas inovadoras e conseguiu ser eleito vereador por três mandatos consecutivos e duas vezes deputado estadual. Começou no PT e terminou no PSB. Por este Partido foi eleito e reeleito prefeito da capital, João Pessoa, e governador do Estado também por duas vezes. Alcançou essa ascensão tão rapidamente embasando seu discurso na igualdade,moralidade, honestidade e outros “dades”. Criticava as oligarquias políticas tradicionais que, encasteladas no poder  muito tempo, enriqueciam ilicitamente através do surrupiamento do dinheiro do povo. Ninguém pode negar que fez administrações organizadas (em termos de organização é um craque) e pródigas em obras importantes (para ele principalmente).

“Poli” e “Cori”

As ações de Coutinho em prol da saúde e da educação, malgrado os altos gastos dispendidos com essas duas importantes atividades, o resultado para o povo não foi tão salutar quanto foi para si, para seu irmão Coriolano, a quem chama carinhosamente de “Cori” e para alguns amigos e auxiliares mais próximos. Foi nesses dois setores da administração [saúde e educação] onde grassou o grosso da corrupção. Segundo os investigadores da “Operação Calvário”, foram mais de 134 milhões de reais desviados em pagamentos de propinas. Hoje, o nosso Policarpo (Poli) se encontra novamente denunciado; já foi preso e solto e, agora, monitorado por uma tornozeleira. Ontem seu irmão (Cori) foi também novamente acusado de corrupção. O sonho do nosso “Poli” vem se tornando um pesadelo quando ao invés de continuar defendendo os filhos dos pobres (termo sempre de seu agrado), tanto ele quanto “Cori”deixaram de serem filhos de pobres para se transformarem em ricos pobres-diabos da política paraibana. “Poli” e “Cori” são dois dos principais personagens da derrocada dessa ambiciosa obra intitulada: “Projeto de poder da esquerda socialista da Paraíba. É o triste fim de Policarpo Quaresma.


(ESCRITO POR DOMINGOSSÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 11 DEMARÇO DE 2020).

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