ODE

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

WALDEMAR EMYGDIO DE MIRANDA

 

WALDEMAR EMYGDIO DE MIRANDA, nasceu em Recife em 05 de agosto de 1897, filho do professor Auxêncio da Silva Viana e de dona Maria dos Passos de Miranda Andrade. Ainda pequeno, seus pais resolveram, no início do século passado, mudarem-se para a então Vila Bela (atual Serra Talhada/PE) onde abriram uma escola particular na Praça Sérgio Magalhães, centro daquela Vila. Ali, viveu Emygdio de Miranda com seus pais até os 18 ou 19 anos de idade. Logo cedo se tornou afeito ao uso de bebidas alcoólicas o que o faria contumaz consumidor e, mais tarde, completamente dependente e viciado. Desprezava Miranda, as coisas de valor material. Romântico e muito inteligente, desde cedo se revelou um amante da poesia. Jovem ainda estabeleceu forte contato com os livros que eram os instrumentos de trabalho de seus pais, ao mesmo tempo em que começou a escrever poesias e poemas que encantavam as rodas dos saraus literários daquele tempo.

 

Chegada a Princesa

 

No afã de divulgar seu trabalho e de participar de eventos culturais em outras cidades, começou a viajar em visita às cidades vizinhas a Vila Bela. Visitou as cidades de Caruaru, Arcoverde, Triunfo e Princesa. Aqui chegando, no início dos anos 20, aos 25 anos de idade, encantado com a efervescência cultural que encontrou na Vila paraibana, ali aportou com vontade de ficar. Encontrou campo fértil para o desenvolvimento de sua arte literária até porque incentivado pelo coronel José Pereira Lima, de quem se fez amigo por ser este também um amante da arte da poesia e, portanto, promotor da cultura do lugar. Influenciado pelo Movimento Modernista promovido em São Paulo quando aconteceu naquela cidade a revolucionária “Semana da Arte Moderna”, Emygdio de Miranda, inspirado nesses novos ares artísticos e culturais, escreveu ao pioneiro do Modernismo no Nordeste, o também poeta, jornalista e crítico literário Joaquim Inojosa de Andrade: “É preciso entanto, confessar que ainda há bem pouco, fôra eu partidário decidido das ideias velhas... Confesso o meu grande pecado em haver sido passadista”. No dia 17 de outubro de 1925, Emygdio de Miranda fundou em Princesa uma “Sociedade de Letras” denominada “Grupo Literário Joaquim Inojosa” e comunicou ao patrono em 28 de outubro de 1925: “Ilustre doutor Joaquim Inojosa, Recife. Os signatários da presente, membros efetivos do Grupo Literário Joaquim Inojosa (sic) que nesta localidade foi fundado sob o vosso patrocínio, com os nobilíssimos intuitos de trabalhar pela Escola Modernista cujo supremo chefe aqui no Nordeste é o erguido vulto, emocionados agradecem vossa carinhosa lembrança pela remessa que fizeste dos exemplares de Arte Moderna e o Brasil Pandeiro (...)” (Paulo Mariano – pp. 176 e 177). Com a iniciativa de instalar em Princesa o Movimento Modernista, Emygdio de Miranda fez com que a nossa cidade fosse a única no estado da Paraíba a dar apoio ao Manifesto Modernista de 1922.

Professor e poeta

 

Além de poeta, foi também, Miranda, professor tendo desempenhado essa função, com muita competência, em Princesa. Na verdade, o poeta, de todas as cidades por onde passou fez destacar o seu interesse especial pela Vila paraibana, pois, era aquele lugar - nos anos 20, período que precedeu a ”Guerra de Princesa” -, um recanto de prosperidade pelas riquezas que produzia advindas da cultura do algodão, uma vez ser Princesa o maior produtor desse têxtil no estado da Paraíba. Emygdio de Miranda não teve o prazer de ver suas poesias compiladas e publicadas em vida. Após sua prematura morte, aos 35 anos de idade – causada, principalmente, pelo vício do alcoolismo – ocorrida em 29 de maio de 1933, teve, pela generosidade de alguns amigos, seus poemas publicados em dois livros póstumos: “Rosal” e “Rosa da Serra”. Em uma dessas publicações está essa magnífica poesia:

 

A UM BURGUÊS

 

Tu, ventrudo burguês analfabeto,

Escultura rotunda da irrisão,

Para quem o viver mais limpo e reto

Consiste em ser devoto e ter balcão;

 

Tu, que resumes todo o teu afeto

No dinheiro – o metal da sedução

Pelo qual negociarás abjeto

Tua esposa, teu lar, teu coração,

 

Escuta, ó ignorantaço, o que te digo:

Esse ouro protetor, que é teu amigo,

Que te deu o conforto de um paxá,

 

Pode comprar qualquer burguês cretino;

Mas a lira de um vate peregrino

Não compra, não comprou, não comprará.

 

Emygdio de Mirando morreu pobre e abandonado na então vila de Rio Branco (atual Arcoverde/PE) onde foi sepultado como indigente. Hoje (29/05/2019), quando se completam 86 anos de seu falecimento, além da homenagem já concedida quando tem seu nome aposto numa das placas que nomina uma das ruas de Princesa, está, esse grande poeta e educador - mesmo não tendo nascido em Princesa -, a merecer a homenagem do povo da terra que escolheu para viver, porque considerado um ilustre princesense, uma vez haver dado grande e significativo contributo para a construção do nosso legado cultural.



 

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