NOMIN NOMINANDO DINIZ NETO, mais conhecido como
MANITO, nasceu em Princesa em 15 de fevereiro de 1944, era filho de José
Nominando Diniz e de dona Laura Dantas Diniz. Neto de Nominando Muniz Diniz
(“seu” Mano), era MANITO o querido do chefe do clã “Diniz”. Perdeu o pai muito
cedo e foi criado pelo avô. Casou-se com dona Rosa e teve, com ela, dois
filhos: Júnior (que levava seu nome) e Cinthia. Pulou a cerca e constituiu
família com uma nissei em São Paulo com quem teve mais dois filhos. Alguns
podem até questionar porque incluo MANITO nessa relação de princesenses
ilustres e eu, aproveito para justificar essa inclusão: era MANITO uma pessoa
de grande coração e de inteligência privilegiada. Em que pese seu
comportamento, muitas vezes, dissonante dos padrões exigidos pela sociedade
quando, contumaz consumidor de bebida alcoólica e farrista por excelência, era
também de grande coração e, em sua profissão de advogado, um grande causídico.
Se não inscrito nas relações de advogados famosos, ricos e bem sucedidos, mas
reconhecido em Princesa como o defensor dos pobres e desvalidos, pois, sempre
esteve à disposição dos despossuídos para defendê-los, gratuitamente, junto aos
tribunais. Formado advogado, foi MANITO, por obra e graça do prestígio do avô,
nomeado Advogado de Ofício (o equivalente hoje a Defensor Público). Nessa
condição, veio “destacar” na Comarca de Princesa onde esteve presente sempre -
não por obrigação, mas, por prazer -, a defender aqueles mais necessitados que
o procurassem no exercício de seu mister. De família política, foi MANITO,
submetido às urnas – não por vontade própria, mas, por imposição familiar -,
quando se candidatou a deputado estadual no pleito que se realizou em 1970. Não
logrou êxito, porém, obteve uma expressiva votação na região polarizada por
Princesa. Esses votos, além do prestígio familiar, lhes foram dados,
gratuitamente, pelo muito que sempre fez pelos mais pobres quando os defendia
sem nenhum interesse financeiro junto à Justiça e às Delegacias de Polícia. Era
MANITO, conhecido como o advogado dos pobres. Abraçava as causas daqueles que
não tinham com que pagar e o fazia com muita dedicação como se dinheiro
estivesse ganhando. Certa feita, quando defendia um homicida do município de
Água Branca que havia cometido duplo assassinato (matou a mulher que o traía e
o “urso” que a “comia”), MANITO, após emocionante discurso em defesa de seu
constituído que havia sido “covardemente” traído pela mulher, perorou da
tribuna do Fórum:
“Vejam, senhores jurados, quão
humilhante é a situação desse “corno”. Aqui, cabisbaixo na sua vergonha de
haver sido traído pela mãe de seus filhos. Traído covardemente, repito,
enquanto trabalhava para adquirir o sustento da família. Se não mereceu o
respeito da esposa a quem amava e respeitava, deve merecer a compaixão dos
senhores jurados e ser livre para continuar sua faina diária em busca do pão de
cada dia para sustentar sua numerosa prole. Coloquem-se, os senhores, neste
momento, no lugar desse “corno” e entenderão sua atitude que foi tão somente um
ato em defesa de sua própria honra, que foi maculada por uma mulher a quem amava,
confiava e respeitava!
Após esse discurso contundente e
apelativo de MANITO, o senhor promotor de Justiça apresentou aos jurados o
“pau” usado pelo réu para matar sua mulher e o amante. O instrumento do crime,
medindo aproximadamente um metro, continha, ainda, manchas de sangue, ao que
protestou, junto ao meritíssimo juiz, o “advogado dos pobres”, dizendo:
“Senhores jurados, eu garanto-lhes
que o “pau” que provocou a desonra desse “corno”, era muito maior do que esse
que o senhor promotor nos apresenta agora!”.
O discurso de MANITO
surtiu efeito. Após a votação dos jurados, o réu foi absolvido por sete votos a
zero.
Certo dia, MANITO,
muito espirituoso e engraçado, estava observando os trabalhos da construção da
“estrela” na Praça “Dona Nathalia do Espírito Santo” – obra encetada pela
administração de seu tio Antônio Nominando -, quando acompanhado pelo
correligionário Gerson Patriota (um curioso de obras e com fama de sabe-tudo),
que preocupado com a grande quantidade de lama que deveria ser removida daquela
lagoa para que pudesse ser construída a referida “estrela”, perguntou ao mestre
de obras:
“Diga-me uma coisa: como farão para retirar essa lama toda no braço?”. Manito antecipou-se ao chefe dos
trabalhos e disse; “Ah, Gerson, esse
serviço vai ser feito com o aritendel!”. Aí, Patriota assentiu em tom de
convencimento: “Ah! Com o aritendel é
outra coisa!”. Manito virou-se prá Batista de Nequinho, mestre de obras que
estava ao seu lado e perguntou; “O que
diabo é aritendel?”.
MANITO era assim,
espirituoso, inteligente e engraçado. Fazia a festa nas rodas formadas nas
calçadas e nas mesas de bar. Detentor de amplo conhecimento das coisas e de
verve fácil se fazia entender por todos quando confabulava sempre de forma
divertida, sem escolher plateia, fossem adversários ou correligionários. Generoso
e desapegado às coisas materiais era sempre pródigo com os outros e, quando
defendia alguma causa em que auferia algum honorário, fazia a festa pagando
bebida e comida pra todo mundo. Por
conta desse comportamento, durante sua convivência com os princesenses, nunca
constituiu nenhuma inimizade sendo sempre amigo de todos.
Em que pese todas
essas qualidades, foi MANITO, misteriosamente assassinado em 27 de maio de
1995, aos 51 anos de idade, quando dormia em sua residência em João Pessoa/PB,
com um tiro na cabeça – crime que completa, hoje, 24 anos –, ocorrência
nebulosa que até esta data não teve solução quanto aos autores dessa violência
e que deixou, a alguns de seus familiares e a muitos amigos, uma saudade
daquele que, somente com sua presença e sua luminosa inteligência, preenchia o
vazio da tristeza que nunca foi sua companheira.
ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO
ROBERTO, EM 27 DE MAIO DE 2019.
Justa homenagem ao saudoso Tio Manito, homem de rara simplicidade, advogado de singular sagacidade, cuja fluência verbal o fazia transitar com maestria desde núcleos de agricultores e poetas,a ilustrados Magistrados e Desembargadores!!! Ferrenho defensor da liberdade, desde tenra infância, onde, muitos não sabem, mas sua primeira fala como advogado* (advogar - falar em nome de), aconteceu aos sete anos de idade, onde, atendendo o clamor de outra criança, dirigiu-se à delegacia de Princesa Isabel, falou com o delegado e "soltou" o pai do seu amigo! Homem de riso e gestos largos, defensor incansável da liberdade de expressão, e da justiça, lamentavelmente vítima de um mistério(?), que apenas revelou a covardia de quem o cercava quando de seu último suspiro, vítima de um tiro (que ninguém que estava nos quartos ao lado conseguiu) escutar..., quem dera que Arthur Conan Doyle* pudesse ter sido não apenas um escritor, mas o pai daquele Detetive que investigava e sempre descobria e punia os culpados...!!! Como sobrinho, amigo e colega de profissão, nó nos resta lamentar e seguir lutando e orando, por um país mais justo, e trabalhando por maior efetividade dos nossos trinunais!!! Justa e merecida homenagem, muito bem escrita por outro amigo de singular coragem e precisão histórica em seus escritos!!! Meus respeitos!
ResponderExcluir*Arthur Conan Doyle é o autor dos livros de Sherlock Holmes, famoso detetive inglês, obra de fantasia de leitura agradável e recomendável!!!Gustavo Floro Avellar Diniz, Advogado e Sobrinho do saudoso Manito.
Me encho de felicidade em ler uma homenagem tão linda ao meu avô. Passei meus 28 anos ouvindo minha mãe, Cynthia, contar histórias extraordinárias sobre ele.
ResponderExcluirA maior tristeza das nossas vidas foi o seu assassinato. Que pena, meu avô querido, não ter podido ouvir suas histórias contadas por você. Te amaremos para sempre!