ODE

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

PERFIS DE PRINCESENSES ILUSTRES


                                                          Lápide de Marcolino em Irerê
                                                                    Marcolino já idoso
                                                                  Marcolino em 1930


MARCOLINO FLORENTINO DINIZ


MARCOLINO FLORENTINO DINIZ, mais conhecido como Marcolino Pereira Diniz ou, simplesmente, “Cabôclo Marcolino”, nasceu no Distrito de Patos de Irerê, então pertencente a Princesa, em 10 de agosto de 1894 e era filho do coronel Marçal Florentino Diniz e de dona Maria Augusta de Andrade Lima. Casou-se com dona Alexandrina Douettes Florentino Diniz, filha do major Florentino Rodrigues Diniz (major Floro), com quem teve os filhos: Maria Augusta, Antônio e Wilson. Marcolino criou-se naquele povoado e ali aprendeu as primeiras letras. Alfabetizado, foi estudar o curso primário na cidade pernambucana de Triunfo. Concluída essa etapa, foi enviado pelo pai para estudar o curso secundário na cidade do Recife. Apto, ingressou na Faculdade de Odontologia da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco, porém, por motivos que não sabemos, abandonou o curso na metade de sua ministração.

Homem de negócios

Desistido de estudar, Marcolino convenceu o pai de que deveria adentrar no ramo comercial. Homem de posses, o coronel Marçal Florentino resolveu instalar um estabelecimento comercial para o filho na cidade de Cajazeiras/PB. Ali, Marcolino morou por um período de mais ou menos cinco anos, tempo em que, além de comercializar estivas num grande armazém, editava também um pequeno Jornal regional. Sem motivos que conheçamos, o nosso biografado fechou as portas de seu negócio e retornou a Patos de Irerê. Já casado com Alexandrina Douettes (descendente de franceses), passou a trabalhar junto ao sogro, major Floro.

Coiteiro de Lampião

A partir do início da década de 1920, Marcolino estabeleceu forte amizade com Lampião, cangaceiro famoso do Nordeste cognominado “Rei do cangaço”. A amizade com o cangaceiro era tão forte que este se hospedava frequentemente na casa de Marcolino, onde jogavam baralho numa grande mesa existente sala de jantar de sua casa. Foi também na casa de Marcolino que o médico princesense, doutor Severiano dos Santos Diniz, tratou do grave ferimento no pé direito de Lampião. Há quem diga que o butim resultante do assalto dos cangaceiros à cidade paraibana de Sousa, foi entregue, por Lampião, para Marcolino guardar: 40 contos de reis. Daí a polêmica existente sobre a inimizade de Lampião com o coronel José Pereira Lima (tio e cunhado de Marcolino), quando, segundo as más-línguas - conforme suposta alegação de Marcolino a Lampião -, teria se apossado do dinheiro do cangaceiro sem a anuência do amigo guardião. Mas isso é outra história (ou estória?) que carece de maiores esclarecimentos. O certo é que, enquanto o sobrinho acoitava Lampião, Zé Pereira o mandava perseguir. Daí, a existência de mal-estares e de um estremecimento na convivência dos dois parentes.

Na “Guerra de Princesa”

Marcolino foi um dos mais importantes “chefes de turma” das tropas dos “Libertadores de Princesa” por ocasião da rebelião promovida pelo coronel José Pereira em 1930 contra o Governo de João Pessoa. O filho do coronel Marçal foi, juntamente com Luiz do Triângulo, responsável pela estratégia que desbaratou a chamada “Coluna da Vitória”, enviada por João Pessoa para invadir Princesa e que foi destroçada na saída do então distrito de Água Branca. Com muita coragem, Marcolino comandou a luta que expulsou a polícia paraibana do povoado de Patos de Irerê, ocasião em que morreram vários soldados e somente dois “libertadores”. O também chamado “Cabôclo Marcolino”, imortalizado na música de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”: “(...) O ‘Cabôclo Marcolino’ tinha oito boi zebu, uma casa de varanda, dando pro norte e pro sul... Ai Xanduzinha, Xanduzinha meu xodó (...)”, teve também problemas graves com a polícia quando, independente das lutas de 30, nas festas natalinas de 1926, Marcolino assassinou o juiz da cidade de Triunfo/PE num acerto de contas por motivo de velhas rixas e dizem que foi resgatado da cadeia daquela cidade pernambucana atendendo às ameaças de Lampião de que, se não libertassem seu amigo, invadiria aquele burgo.

Vida atribulada

Como vimos, Marcolino Florentino Diniz, que faleceu em 21 de dezembro de 1980, teve existência por demais atribulada e nada construiu na vida, pois, mesmo havendo sido filho de pai rico e genro de homem riquíssimo, terminou seus dias de vida pobre e no ostracismo. Ademais, vale salientar que, em face de uma vida tão movimentada, pouco ou nada se tem a dizer de algo importante ou benéfico que possa ter produzido pelo bem comum. Em que pese a ausência de qualquer benemerência, promovida pelo “Cabôclo Marcolino”, mesmo assim, está o mesmo a merecer ser inscrito na galeria dos ilustres pela participação em muitos dos acontecimentos importantes de sua Terra.


(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em 31 de outubro de 2019).

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