Há exatos 130 anos, foi proclamada a República brasileira.
Uma quartelada que deu certo. Como tudo no Brasil, um dos poucos países do
mundo em que as coisas acontecem sem que a população participe e, no mais das
vezes, sequer tome conhecimento, foi assim também com a ruptura que derrubou a
monarquia e instalou o regime republicano. É certo que já existiam movimentos
que exigiam a queda do imperador Dom Pedro II. O Partido Republicano se
manifestava nas ruas e no Parlamento já havia mais de 20 anos, porém, de forma
pífia, pois, na composição do parlamento que dava sustentação ao regime
monarquista, apenas dois deputados se faziam voz dissonante, representando o
Partido Republicano; como vemos essa agremiação não reunia forças suficientes
para promover uma mudança dessa natureza, uma vez não comportar adesões nos
meios políticos, tampouco participação popular. O que provocou mesmo a mudança
foram fatores outros, tanto os da conveniência da elite militar como os que
atendiam a motivos particulares. O caldo de cultura para a proclamação do novo
regime foi, sem dúvida, gerado pela Abolição da Escravatura – que desagradou
sobremaneira aos “barões” do império ao se verem privados da exploração da mão
de obra escrava -, somado ao natural afadigamento do Poder Moderador que era
exercido por um imperador senil que já não tinha mais muita vontade de
governar. Somado a isso, considera-se também a perspectiva de o poder ser
exercido pela filha de Dom Pedro II, a princesa Isabel, que era casada com o
não muito simpático francês conde D’Eu.
A gota d’água
A gota d’água que fez entornar o copo das insatisfações foi a
nomeação do primeiro ministro, Gaspar Silveira Martins, desafeto do marechal
Deodoro da Fonseca (inimigos por haverem, no passado, disputado o amor da mesma
mulher). Com isso, instigado pelos republicanos, Quintino Bocaiúva e Benjamin
Constant, o marechal, que era monarquista e se dizia amigo do imperador,
animado com a perspectiva de virar presidente, proclamou a República sem que
uma só pessoa do meio popular tivesse conhecimento do que estava acontecendo.
Na verdade, isso não causa surpresa, pois, o Brasil não foge à regra quando o
caso se trata de participação popular. A nossa cultura sempre atestou que
deixamos as coisas acontecerem “normalmente” sem provocá-las ou delas
participar. Foi assim com o Descobrimento, que aconteceu por acaso; com a
Independência que foi forçada pelas gestões domésticas da imperatriz Leopoldina
instigada por José Bonifácio; com a Revolução de 1930, que teve o dedo de
Princesa quando provocou a rebeldia que terminou dando cabo da vida do então
presidente paraibano, João Pessoa, o que se transformou no estopim que fez
eclodir aquela Revolução; com o golpe militar que, da noite pro dia mudou tudo
sem que povo tivesse também conhecimento e, por fim, com o restabelecimento da
democracia, fruto da habilidade de Tancredo Neves que se submeteu ao famigerado
Colégio Eleitoral e foi ungido presidente, destronando os militares e suas
vontades do poder. Taí uma República que se faz mais que centenária e que faz
lembrar aos que conhecem a história, que o Poder Moderador ainda hoje nos traz
saudades.
(Escrito por Domingos Sávio Maximiano
Roberto, em 15 de novembro de 2019).
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