MANITO E O COMÍCIO NO SÍTIO ALMAS
Em 1970, na campanha eleitoral foi candidato a deputado
estadual, Manito, atendendo ao convite do amigo de seu avô (“seu” Mano),
correligionário e vereador Severino Ferreira de Sousa (Nêgo Bonfim), partiu
para fazer um comício no arruado das Almas, ligado ao povoado de Patos de
Irerê, então pertencente a Princesa. Lá chegando, o candidato começou a
estabelecer os contatos necessários para arregimentar eleitores para a
concentração de logo mais à noite. Sentindo que a coisa não estava muito
animada, Manito teve uma ideia: Triunfo. Chamou seu motorista, conhecido como
“Chico da Caçamba” e foi à vizinha cidade pernambucana, que dista pouco mais de
01 quilômetro daquele arruado.
Arregimentação complicada
Chegando a Triunfo, o candidato começou a tomar algumas
talagadas de cachaça e aproveitou para fazer alguns contatos com amigos e
conhecidos, com o intuito de convidá-los para o evento político que aconteceria
naquela noite. Não satisfeito com os chamamentos já realizados resolveu, o
candidato, convocar as moradoras do Bairro do “Gato Preto”. Lá chegando, ocupou
uma das mesas dos muitos bares ali existentes e passou quase que o resto da
tarde em farra com as mulheres que lá faziam ponto. Aproveitou a oportunidade e
convidou a todas para o comício. Já ”puxando fogo” pagou a conta, desceu a
ladeira e voltou para as Almas. Chegando de volta ao arruado, constatou que já
estava tudo pronto para a festa cívica: o caminhão-palanque já estava no lugar
e todo enfeitado com as cores do partido; as galinhas para o jantar já estavam
mortas; as cervejas conservadas no pó de serra dentro de um pote de barro e, o
povo dos sítios vizinhos começando a chegar.
Animação abortada
Todos já estavam muito alegres. De repente, a coisa ficou
mais animada ainda com a chegada de uma camioneta, repleta de moças muito
maquiladas e vestidas com trajes curtos e muito decotados. Serelepes, já
desceram do carro saracoteando e fazendo grande algazarra. Aconteceu o comício.
“Manito” discursou (falava bem), como sempre, enaltecendo a todos os presentes,
agradecendo aos anfitriões e pedindo votos para a sua eleição. Foi ovacionado,
principalmente pelas convidadas especiais que gritavam sem parar: “Manito!”,
Manito!”, “Manito!”. Terminada a fala do candidato, falou o vereador
Nêgo Bonfim (que também era conhecido como Nêgo Benedito), agradecendo as
presenças de todos e convidando os circunstantes para se confraternizarem num
jantar na casa de seu sogro o senhor João Benedito. Encerrada a manifestação
política, desceram todos do palanque e foram para a casa do anfitrião comer
galinha de capoeira com arroz de festa e tomar vinho jurubeba e cerveja morna.
Tudo em desordem
Junto aos primeiros convivas que tomaram assento à mesa de
“seu” João Benedito, estavam – muito alegres e zoadentas -, as torcedoras de
“Manito”. Adentrando à casa, o neto de seu “Mano” já encontrou o velho na sala,
sobrancelhas arqueadas, expressão carrancuda, a perguntar-lhe mesmo antes de
abrir a boca, que situação era aquela. “Manito” entendeu a aflição do dono da casa e perguntou:
“Tá tudo em ordem, seu João?”, ao que o velho respondeu: “Tá tudo em ordem o quê, Manito! Você enche a minha casa de rapariga e ainda vem me perguntar se tá tudo em ordem?!”.
A festa foi um aborto. Acabou-se antes de começar. Por interveniência do ex-vereador Valdemar Barbosa – líder político da região -, que estava presente e do genro do anfitrião, a casa do velho foi evacuada das quengas e a festa foi transferida para local mais apropriado: a zona do “Gato Preto”, em Triunfo.
ESCRITO POR DOMINGOS
SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 28 DE JANEIRO DE 2020.
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