ODE

sábado, 15 de fevereiro de 2020

O DISCURSO DE QUIRINO






O advogado Antônio Quirino de Moura nasceu no município de Santa Helena/PB em 15 de fevereiro de 1934. Completa, exatamente hoje, 86 anos de idade. Intelectual refinado e poliglota, foi na seara política onde mais se destacou para o público. Exerceu o cargo de prefeito da cidade de Cajazeiras (1973/1977); foi vice-prefeito da mesma cidade (1992/1996); desempenhou as funções de deputado estadual à Assembleia Legislativa da Paraíba durante o período de 1970 a 1991, além de exercer as funções de Secretário Adjunto de Educação na gestão do governador Roberto Paulino e de Secretário Executivo da Indústria e Comércio no governo Maranhão III. Por ocasião da fundação da APLA - Academia Princesense de Letras e Artes, em 13 de dezembro de 2019, o doutor Antônio Quirino esteve presente à solenidade, realizada aqui em Princesa, no “Palacete dos Pereira”, ocasião em que proferiu o seguinte discurso em homenagem àquele evento, o que reproduzimos à seguir:
     “Estou aqui por convite do amigo e conterrâneo Francelino Soares, Secretário Geral da ACAL (Academia Cajazeirense de Artes e Letras) de nossa terra. Vim de longe. Percorri quilômetros. Andamos ladeados pelo verde das estradas, visualizando o azul das serras. Peregrinamos no deserto da imaginação; encontramos o oásis, Lagoa da Perdição, o mesmo território livre e independente da República de Princesa:
‘Vi terras da minha terra
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado
Foi esta Princesa que amei’
(M. Bandeira, plágio)

     Vim de longe, repito, vim da terra de Padre Rolim, consagrada num arroubo de oratória do princesense, Alcides Carneiro: ‘Cajazeiras, cidade que ensinou a Paraíba a ler.’ Hoje, estou aqui, relembrando os poucos dias e oportunidades, quando na Secretaria de Educação, cumpria ordem do governador de então, Dr. Roberto Paulino: ‘Vá a Princesa, construa o ginásio de esportes, anseio dos estudantes e do diretor do colégio Nossa Senhora do Bom Conselho’. Assim foi feito e bem feito. Inaugurado, com festa memorável, também incluindo o baile de conclusão de formandos, com orquestra e tudo mais, dançamos a valer, na expressão do forrozeiro Flávio José:

‘Aceite a dança
Solte a trança e jogue o laço,
Se tropeçar no compasso,
Caia por cima de mim,
Que te seguro, te beijo e abraço,
Caia por cima de mim.’

     Fiz amizades, delas ainda recordo, porque não? E, novamente, de Alcides Carneiro, a expressão sentimental: ‘Recordar não é viver. Recordar é viver de lembranças. Viver de lembranças é morrer de Saudades’. Sobre a Academia Princesense de Letras e Artes, tanto já foi dito e tão bem dito, neste encontro literário solene, que se dispensa acréscimo. Não posso, no entanto, omitir ligeiras referências. Cajazeiras acordou pela voz de 40 filhos seus e criou, organizou e instalou definitivamente uma Academia de Artes e Letras. Alcides bradou, um dia, em praça pública, ao entardecer, de braços estendidos, na inauguração do monumento erigido ao Padre Rolim, em 1937, fitando o sol poente: ‘Cajazeiras, terra que ensinou a Paraíba a ler’. Ressoando aquele grito de alerta estamos aqui, não para lhe ensinar a construir uma Academia, porém, apenas, como colaboradores, estreitando cada vez mais os laços de amizade, com tão hospitaleira gente. Princesa é celeiro cultural da Paraíba precisa apresentar ao Brasil sua riqueza cultural através da Academia Princesense de Letras e Artes. A história cultural de Princesa será escrita a partir de hoje. Antes e depois da APLA. Princesa sempre foi, repito, um celeiro de renome, com: Tertúlias Literárias; Cordéis; Repentistas; Violeiros; Narradores; Jornalistas; Cientistas Políticos. Os patronos e Acadêmicos desfilarão com seus feitos e méritos na devida oportunidade, para conhecimento dos princesenses. Emancipação política de Princesa Isabel, em 18.11.1921, evidencia ser mais jovem que Cajazeiras, 58 anos. A efervescência da sua mocidade fez-se presente desde 1922, quando Princesa foi a única cidade da Paraíba a apoiar o Manifesto Modernista, (Otávio Sitônio Pinto, membro da Academia Paraibana de Letras). O deputado José Pereira Lima, criou o Clube Literário, instalou uma biblioteca para leitores e letrados, e/ou amigos da leitura, sendo, então, quem sabe, a semente da hoje Academia Princesense de Letras e Artes. Parabéns! Arte musical, igualmente, refletiu a sensibilidade da alma nobre e empreendedora dos princesenses, fazendo ecoar seus acordes por sua célebre filarmônica, até na Alemanha, França e Rússia. A criação da Companhia de Teatro tornou esta cidade pioneira no ramo. Poetas, oradores, conferencistas renomados, escritores de igual penhor e até seresteiros, acordando as madrugadas enluaradas, tendo a frente Alcides Carneiro a declamar: ‘Enquanto houver lua cheia, serenata e violão, haverá amor na terra e festa no coração’. Preciso terminar. Vou terminar mesmo. Deixo apenas dois lembretes. Os conselhos ficam por conta de Nossa Senhora. O primeiro, para nós, mais avançados no tempo e no remanso da vida: ‘Envelheçamos rindo como as árvores fortes envelhecem, agasalhando pássaros no ninho, dando sombra e conforto a quem padece’. O segundo lembrete, à esta juventude que superlota este recinto também: ‘Aproveitem o tempo. Preencham todos os vazios, aproveitem o dia – carpem diem – como diziam os romanos. Carpem Vitam, aproveitem a vida. Gozem a libidinosa mocidade, porém, com juízo, prudência e dignidade. Aproveitem a fim de que a vida não passe efêmera e vazia, num adiantamento eterno, que sempre se espera, e numa eterna esperança, que sempre se adia’ (José Brasileiro Vilanova – compêndio). Por último, assim como Alcides Carneiro entendeu, e bradando espalhou a sua expressão: ‘Cajazeiras cidade que ensinou a Paraíba a ler’. Neste momento, em que é criada a Academia de Letras e Artes de Princesa Isabel, entendo, igualmente, ‘Princesa, cidade que ensina a Paraíba a realizar sonhos culturais’ (AQM).


(DISCURSO PROFERIDO POR ANTÔNIO QUIRINO DE MOURA POR OCASIAÕ DA INAUGURAÇÃO DA APLA – ACADEMIA PRINCESENSE DE LETRAS E ARTES).

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