Hoje, 19 de fevereiro de 2020, completam-se exatos 90 anos da
visita do presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque à cidade de
Princesa. Acompanhado de alguns auxiliares de seu governo, o chefe do Poder Executivo
estadual aqui chegou à frente de uma comitiva composta por José Américo de
Almeida, Secretário do Interior e Justiça; coronel Elísio Sobreira, Comandante
da Força Pública do Estado; Antenor Navarro, Diretor de Saneamento da Capital e
Adhemar Vidal, Chefe de Polícia da Capital. João Pessoa foi o terceiro
presidente do Estado a visitar Princesa (antes a cidade havia recebido os
presidentes: Solon de Lucena e João Suassuna) e o único, até então, a não
trazer obra alguma para o município. Nessa data, completava-se dois dias que o
presidente paraibano havia homologado - com sua única assinatura -, a chapa
eleitoral do Partido Republicano da Paraíba, composta dos nomes que disputariam
as eleições do próximo dia 1º de março de 1930, tanto para a Câmara Federal
como para o Senado. O problema é que a chapa registrada à revelia da Comissão
Executiva do Partido omitia os nomes de vários próceres da política paraibana
que intencionavam serem reeleitos, inclusive o do ex-presidente do Estado, João
Suassuna, que era amigo íntimo e o maior aliado político do coronel José
Pereira Lima. Essa exclusão já vinha causando alguns descontentamentos no seio
partidário porque, a pretexto de promover a renovação da chapa, o presidente
manteve o nome de seu primo Carlos Pessoa.
Festa de recepção
Mesmo sabendo que o coronel Zé Pereira, deputado estadual à
Assembleia Legislativa do Estado, não estava satisfeito com a exclusão de seu
amigo Suassuna, o presidente, mesmo assim, resolveu visitar Princesa e o fazia
também com o intuito de promover sua própria candidatura à vice-presidente da
República, na chapa encabeçada por Getúlio Dorneles Vargas. Aqui chegado - o
que fez com algum temor de não ser bem recebido pela atitude tomada há dois
dias passados -, surpreendeu-se com a efusividade da recepção. Encontrou a
cidade toda engalanada, enfeitada com as cores da Aliança Liberal, o encarnado,
e o constante reboar de foguetões. Para recebê-lo o coronel Zé Pereira fez-se
acompanhar de vários correligionários, dirigindo-se para o povoado de Lagoa da
Cruz, a cerca de nove quilômetros da cidade, para receber o presidente
visitante, de lá se dirigindo o séquito, para a cidade de Princesa percorrendo
a velha estrada que ligava Princesa a Tavares e que atravessa a passagem
molhada no sangradouro do açude “Cedro” até a bifurcação do encontro com o
caminho que leva ao povoado de Lagoa de São João. Chegados ao centro da cidade,
formada estava, na calçada da casa do coronel, a Banda de Música “José Pereira
Lima”, sob a regência do maestro Joaquim Leandro de Carvalho, a executar
dobrados em homenagem ao nobre visitante. À exceção do Juiz de Direito, doutor
Clímaco Xavier (que era desafeto do presidente João Pessoa), todos os
representantes dos segmentos sociais da cidade estavam presentes, a exemplo do
prefeito José Frazão de Medeiros Lima; do vice-prefeito Glycério Florentino
Diniz; do presidente do Conselho Municipal (Câmara de Vereadores), Florentino
Rodrigues Diniz (Major Floro); do vigário paroquial, padre Francisco López; do
Promotor Adjunto, Manoel Medeiros Lima; do Delegado de Polícia, tenente Manoel
Arruda, dentre outras autoridades. Além
de ser recepcionado com grande pompa pelo coronel, o presidente foi agraciado
com um banquete e um baile oferecidos pelo atento anfitrião. Esse evento teve
lugar na casa do coronel José Pereira, situada à Rua Coronel Marcolino (“Rua
Grande”), ocasião em que foi lida uma saudação pela estudante Hermosa Pereira e
proferido, pelo coronel, curto discurso de saudação. Após o lauto jantar, o
coronel ficou na expectativa de que o presidente lhe informaria a respeito da
chapa. Em vão, nada foi dito e, logo após o início do baile, João Pessoa, após
tomar parte da dança com uma das damas da alta sociedade princesense,
recolheu-se em repouso, ao quarto de dormir a ele destinado.
Farsa de atentado
Um dos acompanhantes do presidente, Adhemar Vidal, após o rompimento
político de Pessoa com Pereira, espalhou uma falsa informação de que o coronel,
por ocasião dessa visita presidencial, mandara fechar o quarto em que João
Pessoa se instalara - por fora -, com a intenção de talvez, promover um
atentado à sua vida. Posteriormente, outro membro da comitiva presidencial,
José Américo de Almeida, desmentiu essa versão quando afirmou que o ato de
trancar a porta dos aposentos de João Pessoa, foi para garantir segurança ao
presidente. Nenhuma das duas versões têm veracidade. O quarto se foi trancado,
foi feito pelo próprio hóspede e por dentro. Em que pese as insatisfações de Zé
Pereira quanto à formação da chapa e por motivos outros que já vinham há muito
causando dissabores e estremecimentos na relação do chefe político sertanejo
com o presidente paraibano, jamais o coronel promoveria ou permitiria um
atentado à vida de seu ilustre hóspede. Enquanto o presidente repousava, os
membros de sua comitiva fizeram um périplo pelas ruas centrais, para conhecerem
a cidade. Admiraram a estátua de Epitácio Pessoa, o palacete dos “Pereira”, a
Igreja e outros prédios. No dia seguinte, 20 de fevereiro, logo cedo, após o
café da manhã, o coronel instou o presidente a lhes dar informações sobre a
composição da chapa. Este lhe respondeu, secamente, que um seu auxiliar faria
isso e, logo após o embarque do presidente, depois de secas e formais
despedidas, José Américo entregou ao coronel Zé Pereira um papel contido da
relação dos candidatos aprovados por João Pessoa e viu que nesse documento não
constava o nome do ex-presidente João Suassuna. Essa foi a gota d’água e o pote
cheio de mágoas transbordou, nascendo aí a semente do rompimento político que
ocorreria em brevíssimo tempo e que provocaria a Guerra de Princesa, o
assassinato de João Pessoa e a consequente eclosão da Revolução de 1930.
(ECRITO POR DOMINGOS
SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 19 DE FEVEREIRO DE 2020).
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