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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

90 ANOS DA GUERRA DE PRINCESA – CRONOLOGIA DE UM CONFLITO

 





O RETORNO DO CORONEL JOSÉ PEREIRA A PRINCESA

O coronel José Pereira retornou a Princesa em dezembro de 1936. Havia saído da cidade em 05 de outubro de 1930, fugido da Revolução, pelas mãos dos capitães do Exército, João Facó e Mena Barreto. Perambulou pelo interior do Nordeste por longos seis anos, somente retornando a Princesa quando Getúlio Vargas concedeu anistia aos adversários da Revolução de 30. Voltou a sua terra em grande estilo. Pessoas ainda vivas, que quando crianças testemunharam o retorno dele, atestam que foi, aquela, a maior festa já ocorrida em Princesa. Uma multidão se aglomerava desde o “Alto dos Bezerras” até a casa do Coronel (atual convento dos Frades Carmelitas), na Rua Grande. Zé Pereira, de pé, desfilava na “baratinha” do Padre Elizeu Diniz, vigário de Triunfo/PE, acenando com um lenço branco em uma das mãos e enxugando as lágrimas com a outra. Todos gritavam, histericamente, “vivas” ao Coronel. Lembrados dos velhos tempos de prosperidade, segurança, festas e tranquilidade política, vislumbravam, os que homenageavam, que com o retorno do “chefe”, haveria o restabelecimento de tudo isso. Princesa, em franca decadência, tinha na pessoa de Zé Pereira, a esperança da redenção e da resolução de todos os problemas que assolavam o município, principalmente pelo fato de contar, agora, com um prefeito recém-eleito (Manuel Florentino de Medeiros) e aliado do grupo político do Coronel.

É importante assinalar que o chefe político de Princesa voltou com o coração aberto ao perdão, demonstrando, num gesto de nobreza, capacidade para, mesmo sem esquecer, perdoar os inimigos, apaziguar os ânimos e pacificar o município. José Pereira Lima era um coronel atípico. Quase formado em Ciências Jurídicas (cursou até o quinto período da Faculdade de Direito do Recife/PE), foi diligente na promoção do desenvolvimento cultural do município quando criou aqui, Banda de Música; Grêmio Literário e uma Biblioteca onde se podia encontrar obras clássicas. Além disso, promovia também carnavais, bailes e outras festas tradicionais. Trouxe para Princesa, ainda na década de 1920, energia elétrica a motor; Cinema e Teatro. Foi tolerante até no campo religioso, pois, infenso à reprovação e às críticas da Igreja Católica quanto à instalação, em Princesa, de uma Igreja Evangélica, ainda em 1938, permitiu a construção do Templo e deu apoio para que fosse professado o culto protestante, mesmo em dissonância aos ditames do clero local que chegava ao ponto de instigar a população católica a agredir os “hereges” também chamados de “bodes”. Zé Pereira vestia-se como um cavalheiro, envergando, sempre, terno de linho branco diagonal da torre e, estranhamente, não portava arma alguma. Segundo relato do historiador Renato César Carneiro, em sua obra “CABRESTO, CURRAL E PEIA – A história do voto na Parahyba até 1930” (2009 – p. 160), José Pereira era “(...) o maior representante do fenômeno do coronelismo na Paraíba (...)”; “(...) o maior líder sertanejo do seu tempo (...)”; “(...) do ponto de vista pessoal, José Pereira Lima era conhecido pelo seu bom humor, elegância e generosidade, reconhecida até pelos seus inimigos. Diferente da maioria dos coronéis de sua época, era gentil e avesso à violência (...)”. Conforme consta em várias publicações que se referem à Guerra de Princesa e ao Coronel, numa demonstração do grande prestígio que gozava Zé Pereira junto a várias autoridades estaduais e nacionais, foi o mesmo, dentre pouquíssimas pessoas, convidado pelo então Presidente da República Epitácio Pessoa, para fazer parte da comitiva presidencial que recepcionou, no Rio de Janeiro, em 1922, o Rei Alberto da Bélgica, quando da realização das festividades comemorativas ao Centenário da Independência do Brasil.

Com o indulto que permitiu a volta do Coronel a Princesa, cessaram as retaliações aos seus amigos e correligionários. Interessante observar, porém, que o perdão para os mandantes das retaliações ocorridas imediatamente depois da vitória da Revolução, foi concedido muito cedo, enquanto que para os executores, nunca houve remissão. Resquícios até hoje persistem. De volta a Princesa, Zé Pereira, resolveu fixar residência em sua fazenda Abóboras, no município pernambucano de Serra Talhada, onde possuía também uma casa de residência no centro desta cidade. Durante o período compreendido entre seu retorno à terra e sua morte, o Coronel vivia em constantes deslocamentos entre Princesa, Recife e Rio de Janeiro.

DSMR EM, 29 DE OUTUBRO DE 2020.

 

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