ODE

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

“ENFIA NO RABO DE VOCÊS...”

 




Foi assim que reagiu, o presidente Bolsonaro, irritadíssimo em pronunciamento feito numa churrascaria de Brasília, com relação às notícias divulgadas pela grande imprensa, de que o Poder Executivo federal dispendeu, durante o ano de 2020, 21 milhões de reais com a compra de iogurte; 2 milhões com a aquisição de chicletes; 15 milhões com latas de leite condensado, dentre outras compras de itens considerados supérfluos. Bolsonaro disparou: “Enfia no rabo de vocês, da imprensa, essas latas de leite condensado. Vão pra puta que pariu!”. Essa reação do presidente não causa surpresa, uma vez sabermos todos do desequilíbrio emocional do qual ele é portador. Na verdade, há um excesso por parte da imprensa, quando realça essas despesas, imputando-as ao consumo do Palácio do Planalto, o que não é verdade, pois, essas compras são feitas para atender às necessidades de todo o Poder Executivo, incluindo aí, ministérios, universidades, exército, etc. 

É claro que se constitui um verdadeiro absurdo, o fato de que o poder público, em tempos bicudos como o que vivemos, se deleite comprando chicletes, iogurtes, leite condensado, dentre outros itens desnecessários e em quantidades tão grandes. É desrespeitoso àqueles que ficarão agora sem o Auxílio Emergencial e aos brasileiros que sofrem vivendo abaixo da linha da pobreza. Mais desrespeitoso ainda é o presidente da República, chefe do poder maior da Nação, descer do pedestal de magistrado e proferir descomposturas usando termos chulos, ao invés de determinar averiguações para a apuração dos fatos ou proibir essa prática. Mas, não, O presidente, além do discurso pornográfico, justificou a prática, dizendo que a presidente Dilma Rousseff, em 2014, comprou mais leite condensado do que ele.

Esse comportamento inadequado do presidente faz-nos lembrar de tempos passados. José Sarney (1985/1990), talvez tenha sido o presidente mais fustigado pela grande imprensa, mas suportou todos os ataques com dignidade. Nas palavras do jornalista Florestan Fernandes Júnior, adversário ferrenho de Sarney: “Na véspera de passar a Presidência (...) Sarney foi à sala de imprensa do Palácio do Planalto e se despediu de todos os jornalistas que lá estavam. Eu que tinha escrito contra o seu governo, fiquei comovido e disse: ‘Presidente, podem dizer o que quiserem do seu governo, menos que o senhor não tenha sido um democrata’”. Isso demonstra que a liturgia do cargo de presidente não comporta excessos. A digna superioridade de Sarney contrasta com a incapacidade do “mito” de conviver com o contraditório. Falcão tem razão: mundiça é mundiça e pronto.

DSMR, em 28 de janeiro de 2021.

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