Lamentavelmente, só vim me dar conta disso, ontem à noite. O
dia 02 de junho é comemorado como o Dia Internacional da Prostituta. Criada na
França, essa efeméride é recente, data de 1975, quando no dia 02 de junho
daquele ano, cerca de 100 prostitutas francesas, tomaram coragem e se reuniram
numa igreja de Lyon, ocasião em que reivindicaram seus direitos. Classe
milenarmente discriminada, as prostitutas, servidoras da vida, estão, há 46
anos tendo seu dia de reconhecimento. Porque não,se até Jesus Cristo as
defendeu? Quem não conhece aquela passagem dos Evangelhos em que o Nazareno, em
suas andanças, deparou-se com uma turba de judeus se preparando para apedrejar
uma adúltera e, Jesus, admoestou-os dizendo:”Quem
não tiver pecado, atire a primeira pedra!”. Mesmo esse merecimento divino e
essa homenagem tardia, não retiramdas mulheres de vida livre o intrínseco
preconceito. Mesmo sendo hoje, banalizada essa milenar profissão, quando os
cabarés comuns se restringem a pouquíssimos estabelecimentos e, os de luxo, se
traduzem em suntuosos motéis, tudo isso funcionando às claras, o preconceito
persiste alimentado pela hipocrisia, porém, atenuado pela conquista de novo
papel da mulher em nossa sociedade.
A Estrela de Princesa
Como em toda cidade do interior, Princesa já teve também seu
Cabaré institucional. Comandado por Estrela de Pedro Caboclo, o prostíbulo
princesense funcionava à Rua da Lapa, no Bairro do Cruzeiro. As raparigas que
ali faziam ponto eram, na sua maioria, vindas de outras cidades e, muitas
delas, amasiaram-se com homens ricos da cidade que, apaixonados, com elas se
casaram e as tornaram mães de família e mulheres de bem. Discriminadas, viviam
adstritas ao gueto da imoralidade e só podiam circular pela cidade se
acompanhadas da chefe, Estrela, que era respeitada por todos. Cidadãos da alta
roda da sociedade, compareciam àquele prostíbulo, aos domingos, para jogar
baralho, beber cachaça e comer a buchada feita por Estrela, a matriarca do
Baixo Meretrício. Até comícios eram ali realizados, como o meeting comandado pelo doutor Antônio
Nominando Diniz, em 1968, onde e quando proferiu antológico discurso, em
homenagem às meretrizes, o que reproduzimos aqui:
“Chamam-nas de mulheres de vida
fácil. Porém, quão difícil é entender onde está a facilidade de uma vida,
quando se é obrigado a corromper o santuário do corpo para adquirir o sustento
para a sobrevivência. São, portanto, mulheres de vida difícil, dificílima, que
sofrem o preconceito das elites para, de forma imoral, proporcionar a
moralidade. São mulheres que dormem tarde, como guardas noturnos, velando pela
segurança das famílias de bem”.
Embora eivada de preconceito, a profissão mais antiga do
mundo - que o ex-presidente americano, Ronald Reagan, confundia com política -,
merece sim uma data comemorativa, não somente para homenagear as raparigas, mas
para realçar os benefícios que elas sempre trouxeram aos desamparados do
verdadeiro amor. Embora tardiamente, exaltamos essa data. Viva as quengas do
mundo todo! Elas merecem o seu dia de glória!
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