ODE

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A carta de Bolsonaro

A história do Brasil, até ontem, tinha duas cartas consideradas emblemáticas. A primeira, datada de 22 de abril de 1500, redigida por Pero Vaz de Caminha e endereçada ao rei dom Manuel de Portugal, comunicando o descobrimento (que os portugueses chamam de “achamento”) do Brasil: “Aqui, em se plantando, tudo dá”. A segunda, com data de 24 de agosto de 1954, foi escrita pelo então presidente da República, Getúlio Vargas, pouco antes de cometer suicídio; “Saio da vida para entrar na História”. A terceira, datada de ontem (09/09/21), escrita por um terceiro (Michel Temer) e assinada pelo presidente Jair Messias Bolsonaro: “Não tive a intenção de agredir nenhum dos poderes (...), foi o calor do momento”.

De todas as missivas acima, esta última mostra-se a mais impactante. Em apenas um dia, o presidente Jair Bolsonaro, desdisse tudo o que afirmara durante os dois anos e oito meses de governo. Dois dias antes da carta (07/09), o presidente da República convocou a todos para assistirem a um espetáculo de desacato aos demais poderes da República e, ontem, subiu ao picadeiro para pedir desculpas das ofensas proferidas. Ou seja, desligou a energia que movia o motor de seus apoiadores, sem avisá-los. Agora, refém daqueles a quem considerava seus algozes, quebrou o encanto junto àqueles que lhes eram devotos incondicionais.

Essa carta, pode ter acabado com o governo do presidente Bolsonaro. Isso mesmo. Um governo - que na verdade nunca existiu porque sem propostas nem planejamento -, embicou de vez quando, até para sair de cena o fez pelas mãos do seu antecessor imediato [Temer]. Uma administração desastrada que, em pouquíssimo tempo, aumentou o desemprego, trouxe de volta a inflação e (o pior de tudo) não cuidou direito da pandemia da covid-19. Agora, com a bandeira enrolada, deixa órfãos (alguns presos e outros foragidos da justiça) seus fiéis devotos que, zanzando pelas ruas, se envergonham de o terem apoiado um dia. Repito: quem não pode com o pote, não pega na rodilha. Vargas suicidou-se com um tiro no peito. Bolsonaro, com a própria corda.




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