A história do Brasil, até ontem, tinha duas cartas
consideradas emblemáticas. A primeira, datada de 22 de abril de 1500, redigida
por Pero Vaz de Caminha e endereçada ao rei dom Manuel de Portugal, comunicando
o descobrimento (que os portugueses chamam de “achamento”) do Brasil: “Aqui, em se plantando, tudo dá”. A
segunda, com data de 24 de agosto de 1954, foi escrita pelo então presidente da
República, Getúlio Vargas, pouco antes de cometer suicídio; “Saio da vida para entrar na História”.
A terceira, datada de ontem (09/09/21), escrita por um terceiro (Michel Temer)
e assinada pelo presidente Jair Messias Bolsonaro: “Não tive a intenção de agredir nenhum dos poderes (...), foi o calor
do momento”.
De todas as missivas acima, esta última mostra-se a mais impactante.
Em apenas um dia, o presidente Jair Bolsonaro, desdisse tudo o que afirmara
durante os dois anos e oito meses de governo. Dois dias antes da carta (07/09),
o presidente da República convocou a todos para assistirem a um espetáculo de
desacato aos demais poderes da República e, ontem, subiu ao picadeiro para
pedir desculpas das ofensas proferidas. Ou seja, desligou a energia que movia o
motor de seus apoiadores, sem avisá-los. Agora, refém daqueles a quem
considerava seus algozes, quebrou o encanto junto àqueles que lhes eram devotos
incondicionais.
Essa carta, pode ter acabado com o governo do presidente Bolsonaro.
Isso mesmo. Um governo - que na verdade nunca existiu porque sem propostas nem
planejamento -, embicou de vez quando, até para sair de cena o fez pelas mãos
do seu antecessor imediato [Temer]. Uma administração desastrada que, em
pouquíssimo tempo, aumentou o desemprego, trouxe de volta a inflação e (o pior
de tudo) não cuidou direito da pandemia da covid-19. Agora, com a bandeira
enrolada, deixa órfãos (alguns presos e outros foragidos da justiça) seus fiéis
devotos que, zanzando pelas ruas, se envergonham de o terem apoiado um dia.
Repito: quem não pode com o pote, não pega na rodilha. Vargas suicidou-se com
um tiro no peito. Bolsonaro, com a própria corda.
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