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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

FELICIANO RODRIGUES FLORÊNCIO

FELICIANO RODRIGUES FLORÊNCIO, mais conhecido como Major Feliciano, nasceu em Princesa em 13 de dezembro de 1851. Era filho de Francisco Rodrigues Florêncio e de dona Rosa de Medeiros Florêncio. Feliciano teve idade provecta, morreu em 1944 aos 93 anos de idade. Pode-se dizer que foi ele o patriarca de muitas das famílias mais importantes e tradicionais de Princesa. Ramificam-se dele ou se entrelaçam com o dele, os seguintes sobrenomes de famílias princesenses: Florêncio; Rodrigues; Medeiros; Barros; Frazão; Leandro; Florentino; Lima; Andrade; Pereira, Carvalho, dentre outros vários. Muitos dos personagens que protagonizaram a história recente de Princesa têm com o velho Major alguma identificação: José Pereira; Richomer Barros; José Frazão; Aloysio Pereira; Sebastião Medeiros e muitos outros. Feliciano, além de próspero agricultor, agropecuarista e proprietário de vastas terras, destacava-se também por ser detentor da patente de Major da “Guarda Nacional”. Constituiu família através de duas uniões matrimoniais. As primeiras núpcias contraiu com dona Joaquina de Andrade Lima com quem teve os filhos: João; Luiz; José; Maria e Antônia. Do segundo casamento, com Maria Adélia de Medeiros, nasceram: Ana, Noemi e Francisco.

Desilusão amorosa

Segundo descrito no livro de autoria de Ada Florêncio Barros da Nóbrega (neta do Major): “Feliciano Rodrigues Florêncio – O moço, o major, o velho” – Ideia – 2013 – João Pessoa/PB, o velho, quando jovem aos dezoito anos teve uma paixão por uma moça moradora no termo de Floresta/PE, chamada Úrsula, paixão que não logrou êxito uma vez estar a jovem prometida a outro rapaz. Esse desengano amoroso, segundo narra sua neta escritora, cobriu de tristeza toda a existência do Major Feliciano. Extraído do livro acima citado:

 “(...) Quando comecei a escrever sobre ele [Feliciano], a primeira coisa que coloquei no papel, como fato da maior relevância, motivo preponderante do seu viver, foi sua paixão pela moça de Floresta, tal como inúmeras vezes ouvi-o narrar. Acho que o episódio máximo que o envolveu para sempre necessitava ser dividido, se possível, com todos os humanos que pudessem se alegrar ou chorar com ele (...)”.

Líder e revolucionário


Feliciano Florêncio era um líder por natureza, começando esse exercício em casa quando, na qualidade de patriarca de um clã, sempre proveu a todos os seus filhos de meios para que se desenvolvessem como donos de casa e pais de família. Cuidava de tudo. Destemido, nunca se intimidava com nada e tinha respostas para tudo. Lutou na “Guerra de Princesa” ao lado do coronel Zé Pereira – de quem era parente e amigo íntimo -, como um dos comandantes ou chefes de grupo daquele movimento revoltoso que instituiu o “Território Livre de Princesa”. Era da linha de frente. Depois da luta, com a vitória da “Revolução de 30”, foi preso sob a acusação de desobediência civil. Submeteu-se à prisão, mas não abandonou Princesa. Resistiu e protestou contra as perseguições impostas a seus familiares, especialmente à sua destemida filha, Antônia Florêncio Carlos de Andrade (“Dona Toinha”) desafiando os poderosos que acabavam de assumir o poder e, impávido, chegou até a pedir garantias diretamente ao presidente (governador) do Estado para si, seus familiares e seus amigos. Quando da ocupação de Princesa por um pelotão do exército comandado pelo capitão João Facó, este, o convocou para retirar-se da cidade, ao que o Major respondeu: “Daqui não saio para canto nenhum. O que foi que fiz? Não matei, não roubei, não desonrei. Sou um pai de família, vivo do meu trabalho, por que vou ter que abandonar tudo e me retirar?”. Não saiu de Princesa e enfrentou tudo até as coisas se acalmarem. Conta-se que, instado pelo então Delegado de Polícia, Antônio Diniz - que era também irmão do novo prefeito da cidade -, para visitar sua filha [Antônia] presa na cadeia de Princesa, o Major – considerando aquele convite um acinte -, o pôs de casa para fora num perigoso desafio que poderia lhes causar grandes prejuízos em detrimento de sua própria liberdade ou integridade física.

O fim

Findas as querelas de 1930 viveu, o Major, o resto de seus dias em Princesa sem nunca haver sido desrespeitado nem desrespeitar ninguém. Depõe contra o famoso Major (pela dubiedade de depoimentos), sua posição tomada quanto ao hediondo crime perpetrado, com a participação de um de seus filhos (José Policarpo) contra o médico cearense, doutor Ildefonso de Lacerda Leite, em Princesa, em 1902. Conforme escritos da época, Feliciano foi conivente com essa tragédia – se não diretamente envolvido, porém, no mínimo, omisso – que abalou Princesa e foi notícia em toda a imprensa do Nordeste e até nacional. Nessa ocasião, foi preso – juntamente com o então vigário da paróquia de Princesa, Padre Manoel Raymundo de Nonato Pitta -, acusado de urdir o assassinato do médico cearense. Em tempo breve, considerado inocente, foi absolvido e solto.

O velho Major, em que pese haver tido pouca instrução formal, sabia ler e escrever e era afeito a tiradas sábias na sua filosofia matuta, o que encantava a todos, porque carregada de sinceridade e destemor no dizer. Nada o abalava, pois, segundo sua neta Ada, a única coisa que o afetou fortemente na vida foi perder o seu verdadeiro amor, dor que não poderia jamais ser sobreposta por outra qualquer. Segundo a escritora, essa desventura o fez forte para enfrentar as agruras da longa vida.

O Major Feliciano foi um homem do seu tempo. Além da forte influência que exerceu no meio familiar o fez também nos âmbitos político e social, uma vez que foi ele, o único princesense, até hoje, a presidir o Poder Legislativo por quatro vezes consecutivas, realçando que, naquela época, o cargo de Presidente do Conselho Municipal (equivalente à Câmara Municipal de hoje), detinha as funções de Prefeito da Vila ou da Cidade. Foi também, em 1909, Suplente de Juiz Municipal. Dada à grande influência que teve o Major Feliciano Florêncio, na vida política e social de Princesa, está o mesmo a merecer esta sucinta rememoração que, a exemplo da homenagem a ele prestada, logo após sua morte, quando a Câmara de Vereadores aprovou uma Lei dando seu nome à Rua mais antiga de Princesa (Rua “Major Feliciano”, localizada no Bairro do Cruzeiro”), o inscrevemos agora na relação dos princesenses ilustres.




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