ODE

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O Natal de antigamente

Um comentário despretensioso do conterrâneo Gilson Kumamoto, nas redes sociais, se referindo ao Pastoril, me deu inspiração para escrever sobre o Natal, mais especificamente sobre o Natal da Princesa das décadas de 1960/70. Naquele tempo, tudo girava em torno da Igreja. As festividades de final de ano se confundiam com a Festa da Padroeira. Já em meados de dezembro a Rua Grande se enchia de barracas (toscas conformações feitas com madeira e palhas de coco) que funcionavam como bares onde eram servidas, além de bebidas, as comidas típicas da região.

No entorno da Igreja Matriz, comandado pelo vigário e organizado pelas associações religiosas, montava-se a quermesse onde aconteciam os leilões que eram “chamados”, de cima de um palco, por Parajara Duarte, o mesmo palco em que acontecia o Pastoril, quando se digladiavam os partidários do cordão azul e do cordão encarnado. Também se instalava o que mais se parecia com um parque de diversões com canoas e o juju de “seu” Manezim Cristóvão, além do “jogo do mocó” patrocinado por frei Alberto.

Como tudo em Princesa era contido de política, o Pastoril - dança realizada por moçoilas da sociedade em que desenvolviam jornadas com cantos alusivos ao Natal -, tinha como torcedores do cordão Azul os partidários dos “Pereira” e, o cordão Encarnado - sob o comando de João Mandú - era louvado pelos “Diniz”. No Pastoril, os ramalhetes das pastorinhas eram oferecidos aos ricos comerciantes que contribuíam com dinheiro para a Igreja. Já nos leilões, a disputa era acirrada: quando algum dos nominandistas oferecia um lance numa galinha assada, um pereirista cobria o valor, e vice-versa.

Era tudo muito divertido, mas antes do profano, havia a festa sacra. O novenário iniciava no dia 23, culminando com a coroação da Padroeira no dia 31 de dezembro. No dia 1º de janeiro acontecia a Missa Solene e a Procissão com a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho. Os homens de bens carregavam o andor da Santa, no que eram acompanhados – em filas – pelas associações: “Filhas de Maria”; “Franciscanos”; “Zeladoras do Sagrado Coração de Jesus”, dentre outras. No novenário, cada noite tinha um patrocinador, sempre representante das classes mais abastadas, o que proporcionava contribuições avultadas para a Igreja. Era assim o Natal de antigamente.



 

 

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