ODE

segunda-feira, 11 de abril de 2022

JOSÉ GOMES SOBRINHO

JOSÉ GOMES SOBRINHO nasceu na cidade paraibana de Itaporanga, em 16 de janeiro de 1911. Era filho de Euclides de Carvalho e de dona Maria Alves de Carvalho. Casou-se com dona Francisca Chaves Gomes Necy, com quem teve os filhos: Judith; Euclides; Francisco; Ruth; Maria Célida; Maria das Vitórias; Maria das Graças; Arsênio e Maria do Carmo. Estudou as primeiras letras e o curso primário na cidade onde nasceu. Desde criança demonstrou muito interesse pelas coisas da Igreja Católica. Foi coroinha e, aos 12 ou 13 anos, revelou ao pai que desejava ser padre. Naquele tempo, eram três as profissões almejadas pelos pais para seus filhos: sacerdócio, exército e medicina. Por conta disso, de pronto, o senhor Euclides apoiou a intenção do filho. Segundo me relatou o senhor João Mandú Neto, o pai do nosso biografado teria familiares residindo no Rio de Janeiro, e foi para lá que enviou o filho, José Sobrinho, para o Seminário dos Padre Redentoristas.

Ingressado no seminário, periodicamente, José vinha visitar a família em Itaporanga. Já com cerca de 18 anos de idade, Zé Sobrinho contraiu uma pneumonia e veio do seminário para ser tratado em casa. Chegado à sua cidade, estava sempre a participar dos ofícios religiosos na Igreja Matriz. Certo dia, viu na fila da comunhão uma bela jovem por quem se interessou imediatamente. Logo procurou saber seu nome. Disseram-lhe que se chamava Francisca, mas, conhecida também por “Necy”. Dias depois, na saída da Igreja, abordou-a e encetou uma conversa, aparentemente banal, mas já contida de algum interesse amoroso. Em face da receptividade da moça, falou namoro a ela, no que foi correspondido. Dada à sua situação de seminarista o fato provocou alguns comentários, porém, logo se tornou público e virou uma coisa normal. Diante disso, José dirigiu-se ao pai e comunicou ao mesmo sobre sua paixão, acrescentando que não voltaria mais para o Seminário.  Mesmo triste e decepcionado, o senhor Euclides aceitou a escolha do filho. A partir daí, José Sobrinho continuou seus estudos chegando quase a se formar advogado.

Chegada a Princesa

Nomeado para o cargo de Coletor Estadual, Zé Sobrinho foi designado para trabalhar na chefia da Coletoria Estadual de Princesa. Já casado com sua querida Necy, chegou aqui no ano de 1951 onde logo fez muitas amizades, pois era homem muito sociável, de bom trato e de educação refinada. Além da atividade como Coletor, assumiu uma cadeira, como professor de francês no recém-inaugurado (1949) Ginásio “Nossa Senhora do Bom Conselho”. O professor Zé Sobrinho, como era chamado, era homem inteligente e ilustrado.  Além de dominar muito bem o idioma Latim (que aprendera no Seminário), falava fluentemente, além do Português, o Francês e o inglês. Na referida escola, Zé Sobrinho ensinava francês aos ginasianos e, mais tarde, latim aos alunos do curso Clássico. Quando chegou a Princesa, já tinha todos os filhos e, estes, lhe chamavam carinhosamente de “Pai Zé”. Essa forma de ser chamado disseminou-se de forma tal, que quase todos em Princesa - principalmente os jovens a quem ele ensinava -, o chamavam também de Pai Zé.

Na escola, o professor era querido por todos e tinha uma forma peculiar de lecionar. Começava pela chamada através da caderneta, quando não fazia uso da prática de chamar os alunos pelos números correspondentes, mas sim, pelo nome de cada um. Quando calhava de um aluno ser homônimo de algum santo da Igreja Católica, Pai Zé, conhecedor profundo das coisas dessa religião, fazia preleções sobre a vida daquele santo. No meu caso, Domingos Sávio, quando chamava meu nome, dizia: “São Domingos Sávio, chamava-se realmente, Domenico Joseph Savio. Santo mártir que foi morto aos 15 anos e idade quando levava a eucaristia para presos... Foi aluno de Dom Bosco”. Nos dias em que estava muito inspirado, o horário destinado para ministrar a aula era totalmente consumido com essas dissertações religiosas. Outra coisa interessante do professor eram as notas que ele dava pelos trabalhos que fazíamos. Se a apresentação do trabalho estivesse bem-feita, com uma capa bem ornada por uma flor, um coração ou com inscrições em letras góticas ou garrafais, ou algum motivo de inspiração religiosa, Pai Zé nem abria o trabalho, apunha na capa a nota: 100. A única vez que vimos o professor irritado foi quando de uma brincadeira de mau gosto feita por um dos alunos. Certa noite, ao adentrar à sala de aula, Pai Zé, após fazer a chamada, escutou do aluno Rafael Teodósio, mais conhecido como “Pacú”, a seguinte brincadeira: “professor, Elizabeth tá com o cu sujo”. Na verdade, Pacú se referia ao pescoço da colega que, em francês, se escreve cou e se pronuncia cu. Diante disso, o professor repreendeu seriamente e expulsou-o da sala. O professor Zé Sobrinho era um homem bom, porém, não admitia falta de respeito com ninguém.

Religioso, rábula, cervejeiro e desportista

José Gomes Sobrinho, flechado pelo cupido, desistiu do sacerdócio, mas não se afastou das atividades religiosas. Frequentava a Igreja de forma contumaz e era Zelador do Apostolado da Oração, associação que reverenciava o Sagrado Coração de Jesus. Nas solenidades religiosas, Zé Sobrinho participava ativamente, inclusive fazendo coro com as cantoras da Igreja: Odívia Maximiano; Doralice Marrocos; Antônia Gastão, dona Nina Marrocos e outras, que cantavam acompanhadas por dona Irene Sérgio dedilhando a Serafina. Nessas ocasiões, Pai Zé, que tinha a voz de tenor, entoava os hinos em voz alta. Lembro-me, nitidamente, quando ele cantava o hino sacro: “Coração Santo, Tu Reinarás. O Nosso Encanto, Sempre Serás”.

Além da atividade como funcionário público estadual, nosso biografado fazia também as vezes de advogado amador, o que se chamava, à época, de rábula. Funcionava nos juris populares, defendendo réus, principalmente aqueles que não tinham meios para contratar um advogado. Além de todos esses “fazeres”, Zé Sobrinho, que não era de ferro, gostava também de tomar uma cervejinha, o que o fazia, quando não no bar de Chico França, na bodega de Mirô Arruda. Bebia com vontade e, quando já estava no ponto, ficava vermelho igual um peru e começava a discursar de forma muito veemente, porém, incompreensível pela impostação da voz já prejudicada pelo líquido ingerido. Amante do futebol emprestava apoio ao time Esplanada, que era dirigido por doutor Zezito Sérgio e gostava de assistir às partidas daquele esporte que eram realizadas no Estádio Municipal. José Gomes Sobrinho, embora não tenha nascido em Princesa, foi a terra que adotou como sua e aqui viveu até o fim da vida. Somente daqui saiu quando já doente, foi residir em João Pessoa, onde faleceu. Por tudo o que representou para a educação; o esporte; a religião e o serviço público está, esse importante homem a merecer figurar com destaque no panteão dos princesenses ilustres.









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