ODE

sábado, 25 de junho de 2022

DOUTOR ARCHIMEDES E ANA “PÉ DE BANHA”

Nos idos da década de 1960, doutor Archimedes Souto Maior foi designado juiz da Comarca de Princesa. Era um homem alto, de fisionomia austera, bem vestido e portador de um vasto bigode que trazia suas pontas cuidadosamente retorcidas. Aqui chegando, demonstrou logo ser detentor de grande autoridade.

À época, circulava pelas ruas de Princesa, uma “Moça Velha” (como eram chamadas, naquele tempo, as mulheres que já com a idade um pouco avançada não haviam se casado), de nome Ana e que tinha um apelido que detestava: “Pé de Banha”. Os rapazes, filhos das famílias nobres da cidade, tinham o costume de gritar – escondidos -, os apelidos das pessoas que não gostavam de assim serem chamadas. Ana era uma delas, que se via aturdida com as constantes provocações.

Certa tarde, o jovem “Pipita”, amparado numa esquina, ao ver passar a donzela solteirona, gritou: Ana “Pé de Banha!”. Esta, irritada com as corriqueiras chateações e sabedora da chegada do novo e autoritário juiz, resolveu procurá-lo para que providências fossem tomadas quanto a essa falta de respeito. Para tanto, se dirigiu ao hotel de “Dona Sinhá” – onde o juiz estava hospedado -, e relatou o fato de estar sempre sendo alvo da desfeita de ser apelidada pelas ruas da cidade.

Doutor Archimedes escutou seu relato e, ao final, disse, calmamente: “Dona Ana, tenha paciência, pois, eu cheguei a Princesa não faz nem um mês e já estão me chamando de ‘bigode de arame’”. Ana, impotente diante daquela sucumbência judicial, deu uma rabissaca ao magistrado e saiu desbulhando impropérios contra aquele que deveria resolver seu problema e não o fez. A partir daí, passou a não ligar mais para o apelido.



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