Nos idos da década de 1960, doutor Archimedes Souto Maior foi
designado juiz da Comarca de Princesa. Era um homem alto, de fisionomia austera,
bem vestido e portador de um vasto bigode que trazia suas pontas cuidadosamente
retorcidas. Aqui chegando, demonstrou logo ser detentor de grande autoridade.
À época, circulava pelas ruas de Princesa, uma “Moça Velha”
(como eram chamadas, naquele tempo, as mulheres que já com a idade um pouco avançada
não haviam se casado), de nome Ana e que tinha um apelido que detestava: “Pé de
Banha”. Os rapazes, filhos das famílias nobres da cidade, tinham o costume de
gritar – escondidos -, os apelidos das pessoas que não gostavam de assim serem
chamadas. Ana era uma delas, que se via aturdida com as constantes provocações.
Certa tarde, o jovem “Pipita”, amparado numa esquina, ao ver
passar a donzela solteirona, gritou: Ana “Pé de Banha!”. Esta, irritada com as corriqueiras
chateações e sabedora da chegada do novo e autoritário juiz, resolveu
procurá-lo para que providências fossem tomadas quanto a essa falta de respeito.
Para tanto, se dirigiu ao hotel de “Dona Sinhá” – onde o juiz estava hospedado
-, e relatou o fato de estar sempre sendo alvo da desfeita de ser apelidada pelas
ruas da cidade.
Doutor Archimedes escutou seu relato e, ao final, disse,
calmamente: “Dona Ana, tenha paciência,
pois, eu cheguei a Princesa não faz nem um mês e já estão me chamando de
‘bigode de arame’”. Ana, impotente diante daquela sucumbência judicial, deu
uma rabissaca ao magistrado e saiu desbulhando impropérios contra aquele que
deveria resolver seu problema e não o fez. A partir daí, passou a não ligar
mais para o apelido.
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