ODE

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

LUIZ DE ANDRADE ROSAS

OBRA EM ALTO RELEVO, RETRATANDO A ANTIGA IGREJA DE PRINCESA, O SOBRADO DE RICHOMER BARROS E A CASA ONDE FUNCIONOU A ANTIGA COLETORIA ESTADUAL – DO ACERVO DE DONA CONCEIÇÃO LIMA BARROS.

LUIZ DE ANDRADE ROSAS, nasceu em Princesa em 22 de agosto de 1940 e era filho de João Rosas e de dona Maria de Andrade Rosas. Seu pai, em que pese ser oriundo de família de boa estirpe, era homem muito pobre e responsável pela criação de cinco filhos com o ofício de sapateiro, o que não lhes deu condições para proporcionar uma educação refinada a essa prole. Porém, usando dos recursos que se lhe apresentavam, iniciou os filhos na educação elementar quando conduziu quase todos a estudarem as primeiras letras na Escola particular da professora princesense, dona Maria Alice Maia. Ali foi alfabetizado Luiz Rosas, que desde cedo se apresentou com pendores para as artes e as letras. Após os estudos iniciais, foi matriculado no Grupo Escolar “Gama e Melo” onde fez o curso primário. Foi essa a formação educacional do nosso biografado. Luiz Rosas foi casado com uma mulher de quem logo se separou e com quem teve duas filhas.

O Artesão

Segundo depoimentos de contemporâneos de Luiz Rosas, já na escola ele se destacava tanto na habilidade com os desenhos e a manipulação de materiais que proporcionassem a modelagem de alguma coisa, como na arte de escrever poesias. Ainda muito jovem, fez-se contumaz usuário de bebida alcoólica, o que o fazia sem o consentimento do pai e às escondidas. Esse hábito nocivo para um rapaz tão novo provocou desagregação familiar, cumulando com o rompimento de Luiz com seu progenitor, que logo o pôs para fora de casa. Desamparado, Rosas partiu para morar na capital pernambucana. Lá, continuou com o vício da bebida, porém - concomitante a essa prática danosa à saúde e ao convívio social -, empenhou-se também em desenvolver sua arte. Sem frequentar nenhum estabelecimento apropriado para o desenvolvimento de sua formação artística, Luiz Rosas destacou-se, no Recife, como um dos mais hábeis artesãos na feitura de paisagens; replicação de fachadas arquitetônicas; reprodução de arvores; etc., tudo com o uso de papelão, cola, gesso, madeira e outros materiais reaproveitáveis.

Expunha e vendia o fruto de sua produção artística em praças públicas da capital pernambucana, o que era a fonte de seu sustento naquela cidade. Saudoso de Princesa, Luiz Rosas retornou à terra natal no início dos anos 80 e aqui ficou por algum tempo, perambulando pelas ruas a oferecer seus quadros por preços irrisórios. Lamentavelmente, os que adquiriram seus trabalhos, não os valorizaram, tampouco tiveram o cuidado de preservá-los. Tivemos muita sorte em encontrar uma de suas obras na casa do saudoso tabelião João Florêncio de Campos Barros (o retrato em alto relevo do conjunto arquitetônico: Igreja Matriz; Sobrado de Richomer Barros; Casa do major Feliciano, o que reproduzimos na fotografia acima) e, nessa colheita, conseguimos também algumas informações importantes acerca da vida do artista em tela.

O Poeta

Além de artesão de apuradíssima qualidade, Luiz Rosas era também poeta. Pena que tenhamos colhido apenas um fragmento de sua arte poética, o que, mesmo de forma incompleta, reproduzimos abaixo:

O desejo de te ter

É tão forte e incontrolável

Que mata a saudade que sinto de mim

Quando estou perto de você 

Te possuir é doce, é gostoso, um frenesi

                       Esqueço completamente de mim                   

Quando estou dentro de ti

 

Essa incompleta poesia me foi fornecida por uma parenta de Luiz Rosas, chamada Maria Adília Medeiros, que afirmava haverem sido feitos esses versos para uma antiga namorada que teve o poeta, na cidade de Arcoverde/PE, localidade onde provavelmente morreu no final da década de 1980.

Homenagem 

Antes desta iniciativa o nosso obscuro, porém grande artista princesense, já havia sido homenageado pelo escritor nativo, Paulo Mariano, quando em seu livro: “Princesa – Antes e Depois de 30”, escreveu sobre Luiz Rosas: “Pintor acadêmico; realizou um trabalho pautado em técnicas artesanais que consistia na superposição de materiais não convencionais (papelão, cola, gesso, palito de picolé, etc.), utilizados na reprodução, em alto relevo, de paisagens locais; algumas das quais já atingidas pela ética predatória do poder público. É natural de Princesa. Algumas obras foram expostas na I Semana Cultural de Princesa Isabel, em abril de 1985”. A fertilidade de nossa Terra na produção de artistas nos traz agora a satisfação histórica de resgatar os feitos de Luiz Rosas para que não se dissipem com o tempo. A recuperação da memória artística desse humilde conterrâneo faz-se maior, principalmente, pelo fato de que, grande parte de suas obras, retratam as coisas de Princesa e, por isso, está Luiz de Andrade Rosas definitivamente inscrito nos anais dos princesenses ilustres.

 



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