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quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Jesus, Madalena e a Igreja

Yeshua é o nome de Jesus em aramaico, que significa Josué, filho de José. Cristo, significa “Ungido” ou, por metonímia, o Crucificado. Figura inspiradora das religiões cristãs, Jesus Cristo - mesmo não havendo comprovação histórica de sua existência, é ele o símbolo maior da mais importante confissão de fé do Planeta. O culto a Jesus teve início logo após a sua morte por crucificação, há quase dois mil anos, sendo, nos primórdios, professado clandestinamente. Na verdade, o cristianismo começou a se organizar como religião, após a conversão de Paulo de Tarso, soldado romano, entre 33 e 35 d.C. Todavia, somente no século IV, com a conversão do imperador romano, Constantino, ao cristianismo, tornou-se a religião cristã, culto oficial de Roma, cessando as perseguições. Anos depois da morte de Jesus, foram escritos os chamados Evangelhos, pelos discípulos Marcos, Mateus, Lucas e João. Desaparecidos por longo tempo, alguns desses escritos foram encontrados e, já organizada, a Igreja Católica, esta selecionou os que lhes interessavam e os tornou o guia oficial da maior religião cristã no mundo.

De acordo com os Evangelhos, Jesus tinha discípulos que lhes acompanhavam em suas andanças e pregações. Mesmo depois da seleção feita pela igreja romana sobraram, nas chamadas Escrituras Sagradas, sutis referências a uma figura feminina: Maria Madalena. No entender de alguns estudiosos da religião, essa criatura era também uma discípula de Jesus, e única mulher que privava de sua intimidade; por isso, tida até como amante ou esposa do Messias. Para essa dedução, baseiam-se, os historiadores, no fato de que, naquela época, os homens judeus não podiam ser tocados senão por suas mulheres e, em várias partes das Escrituras Sagradas, há relatos de contatos físicos entre os dois, Jesus e ela, numa comprovação de algum achegamento.

De acordo com o Velho Testamento, as mulheres eram seres inferiores e nocivos: “A mulher é mais amarga do que a morte – Eclesiastes 7:26-28”. O revolucionário Jesus, mudou tudo. Aceitou uma mulher [Madalena] no seu meio e as defendeu publicamente: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”. Maria Madalena é o nome de mulher mais citado por Jesus no Novo Testamento. Para muitos dos que estudam os primórdios do cristianismo, Madalena pode ter sido uma liderança importante e ter contribuído muito para a formação da religião, após a crucificação. O assunto sexo sempre foi um tabu para a Igreja Católica e, desde a instituição do celibato para os clérigos - o que foi decretado pelos dois Concílios de Latrão (1123 e 1139), mulheres foram praticamente banidas do interior dos conventos e passaram a ter um papel meramente decorativo nas coisas da Igreja. Quanto aos padres, foi-lhes imposta a castidade obrigatória, ou seja, um ato arbitrário e conservador em detrimento dos desejos dos outros que, ao mesmo tempo, transformou-se num incentivo à hipocrisia e à prática desenfreada do homossexualismo no seio da religião católica romana. Mas isso é outra história.

Quanto a Madalena, para a Igreja Católica, a partir do século VI, em face da Bula exarada pelo Papa Gregório Magno, ela foi tornada uma pecadora e banida da congregação cristã. Desde aí, ao longo dos séculos seguintes, em obediência à determinação pontifícia, Madalena era sempre citada como cortesã e prostituta. Durante esse tempo, a Igreja, que sexualizava tudo quando cuidava dos fiéis apenas da cintura para baixo, escondeu a importância dessa mulher tentando desconstruir sua contribuição para a organização da própria instituição católica. Em tempos recentes, no afã de mudar para continuar do mesmo jeito, a Igreja, pôs de lado a infalibilidade papal - instituída pelo Papa Pio IX no Concílio Vaticano I -, para atender interesses circunstanciais, quando agora, o Papa Francisco, em 2016, canonizou a polêmica figura feminina, com o título de Santa Maria Madalena. Para muitos católicos, esse pode ter sido um forte recado da Igreja, quanto à possibilidade da inserção das mulheres em postos importantes dessa instituição cristã ou, por outra, admitir que uma mulher foi também protagonista na construção daquela instituição.



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