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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 “A HISTÓRIA COMO EU CONTO”

RAMALHO LEITE

Esse trabalho, escrito pelo jornalista e político paraibano, Ramalho Leite, intitulado “A história como eu conto”, foi editado e lançado em 2017, pela Editora A UNIÃO/Forma; contém 222 páginas e relata vários fatos inerentes à história da Paraíba. Em 10 das partes escritas, há referências a Princesa, que vale a pena rememorar, para conhecimento das várias interpretações que foram dadas aos fatos ocorridos em 1930. Ramalho Leite não foi testemunha ocular, porém, na qualidade de jornalista, ateve-se aos fatos com muita competência em garimpá-los nas folhas dos jornais da época, tanto da Paraíba, quanto do Recife, Rio de Janeiro, etc.

Nas páginas 92 e 93, o autor faz uma referência aos “jovens turcos”, segmento político paraibano do início do século passado que, inspirados na Revolução Turca que derrubou o Império Otomano e instaurou a República naquele país, sob a batuta do líder Mustafa Kemal Atatürk, se fizeram assim chamar pelas inovações que defendiam à época. Os “jovens turcos”, aliados do ex-presidente Epitácio Pessoa, “(...) eram adeptos da pregação epitacista que buscava o desenvolvimento do estado, via integração do nosso interior produtivo com o mercado litorâneo”. Em que pese ser um movimento reformista, logo essa facção foi recheada também pelos coronéis do sertão, inclusive por José Pereira Lima, de Princesa. Isso corrobora o reconhecimento de que, Zé Pereira, mesmo sendo um coronel de patente comprada, era um homem com intelecto suficiente para fazer parte de um grupo político de vanguarda.

Outro fato interessante que, mesmo em face das várias leituras que já fiz sobre o episódio, eu não conhecia, o que faz parte da história que envolve o episódio da Guerra de Princesa, consta do livro ora resenhado. Nas páginas 110 e 111, Leite escreve que a escolha do presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, para figurar na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, como candidato a vice-presidente, nas eleições de 1º de março de 1930, não foi nada que o possa engrandecer. Ao contrário, depois da recusa de três convidados, os aliancistas recorreram a Epitácio Pessoa, e este submeteu o sobrinho a aceitar a incumbência político-eleitoral. Primeiro, foi convidado o senador pelo Distrito Federal, Paulo de Frontin, que recusou alegando que estava aderindo à chapa oficial representada por Júlio Prestes e Vital Soares. Depois, a cúpula aliancista consultou o deputado baiano, Simões Filho, que também aderiu à chapa do Catete. Os emissários de Getúlio Vargas, antes de João Pessoa, procuraram ainda o governador de Pernambuco, Estácio Coimbra, que também se negou em aceitar. Restou apenas o presidente da Paraíba, que, a 29 de julho de 1929, recebeu o seguinte telegrama do tio, Epitácio Pessoa: “Rio – 29 de julho – Comunico autorizei presidente Antônio Carlos convidá-lo figurar chapa como vice-presidente. Isto significa que aceitarás”. Da imposição do tio eu já sabia, porém, sobre o processo da escolha, tomei conhecimento nessa obra de Ramalho Leite.

Nas páginas 122, 123, 124, 126, 127 e 128, no capítulo intitulado “Como foi vista lá fora: a ‘Guerra de Princesa’”, Ramalho Leite traz à luz comentários sobre a insurreição princesense, quanto ao conflito de informações travado pelos jornais da Paraíba e de Pernambuco, e sobre o que repercutia no Rio de Janeiro e no mundo. Enquanto o comandante do Estado Maior das Forças da Polícia Paraibana, em Piancó, José Américo de Almeida, para agradar ao presidente João Pessoa, maquilava informações, dando conta de vitórias mentirosas no campo de luta, e que seriam divulgadas pelo Jornal oficial A UNIÃO e, muitas vezes reproduzidas pelos jornais da Capital Federal, o Jornal do Commercio do Recife, veiculava notícias favoráveis ao coronel José Pereira. De José Américo, o presidente João Pessoa recebeu o seguinte rádio:

“Piancó – 4 – Os cangaceiros foram surpreendidos na fazenda do Oriente, situada no município de Pombal, pela coluna dos tenentes Manoel Benício e Marques Filho, debandando nos primeiros tiros dos atacantes. Os bandidos recuaram, continuando as forças ao encalço dos que fugiam. Essas correrias visam especialmente o roubo, como aconteceu com a fazenda do coronel João Alves, neste Município, que foi despojado de seus bens, no valor de cerca de 80:000$000.

Essa notícia, veiculada pelo jornal A UNIÃO, foi reproduzida pelo Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, em 08 de julho de 1930. No entanto, segundo Ramalho Leite: “As informações ufanistas do graduado auxiliar de João Pessoa [Zé Américo] eram, contudo, contestadas por outros informantes que conseguiam chegar às páginas do ‘Diário’, através de correspondentes do Recife:”

“’José Pereira Amplia seu Raio de Ação’, era a notícia. ‘Recife – 7 – Noticiam de Princeza que a gente de José Pereira amplia seu raio de ação por outros municípios entre os quais o de Piancó, Pombal, Patos, Souza, Conceição, Misericórdia, São José de Piranhas, São João do Rio do Peixe, Cajazeiras e Teixeira, onde a população se mostra preocupada com o rumo dos acontecimentos”.

Segundo o autor: “Cada facção fazia divulgar sua própria versão”. Tudo o que acontecia em Princesa, repercutia no Rio de Janeiro. Ambos os lados enviavam notícias que lhes eram favoráveis para que jornais da Capital Federal veiculassem. Os de João Pessoa davam conta de que o presidente paraibano estava entrando com ação no STF – Supremo Tribunal Federal para que tivesse autorização para importar armas e munições. Enquanto isso, José Pereira encaminhava, aos jornais, telegrama do advogado, João Duarte Dantas, emitido do Recife, com o seguinte teor:

“Recife, 9, (especial para ‘A Noite’): O deputado José Pereira recebeu o seguinte telegrama, procedente da Parahyba: ‘Nosso amigo Heitor Santiago acaba de informar estar inteirado de fonte oficial, que Princeza será bombardeada, de hoje até sábado, por um avião que se encontra em Teixeira, e que empregará gazes asphyxiantes fabricados num laboratório allemão de Rio Tinto... Confio na altivez dos princesenses, que manterão, serenos, sua defesa heróica. Abraços (a) João Dantas’”.

Como vemos, João Dantas, exilado no Recife e, mesmo assim engajado na luta, estivera em Princeza, por uma semana, durante o conflito, e cuidava em prestar informações importantes ao coronel José Pereira.

No livro, Ramalho Leite discorre também sobre a repercussão do assassinato de João Pessoa, dando conta de que a tragédia foi mesmo o estopim da Revolução de 1930, corroborando também a influência da Guerra de Princesa para os acontecimentos que provocaram a queda da chamada República Velha. É, portanto, esse livro, de lançamento recente, importante para o conhecimento da nossa história.

Severino Ramalho Leite nasceu em Bananeiras/PB, em 06 de outubro de 1943, filho de Arlindo Rodrigues Ramalho e de dona Maria Eurídice Leite Ramalho, casou-se com dona Eleonora Aragão Ramalho. Jornalista e advogado, formado em 1967 pela Faculdade Direito da Universidade Federal da Paraíba, ingressou na política em 1965 quando elegeu-se vereador do município de Borborema. Em 1970 foi nomeado promotor de justiça em João Pessoa. Em novembro de 1974 elegeu-se deputado estadual pela ARENA, reelegeu-se em 1978. Eleito suplente de deputado federal em 1990, assumiu uma cadeira na Câmara Federal em 1992.  Deixando a política, dedicou-se às letras e lançou vários livros. Hoje, aos 77 anos de idade, reside em João Pessoa/PB.



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