O MAJOR FELICIANO FLORÊNCIO E O INTERVENTOR
RUY CARNEIRO
O major Feliciano
Rodrigues Florêncio era um homem austero e afeito às convenções sociais e
sempre exigia que fossem as mesmas respeitadas. Certa vez, por ocasião da visita
do então interventor (equivalente a governador) do estado da Paraíba, Ruy Carneiro,
a Princesa o major procurou saber onde estava hospedada a autoridade e resolveu
ir visitá-la. Para tanto, logo ao amanhecer do dia, chamou sua esposa e disse:
- Mulher, ajeita meu “liforme” e meus “botins inglês” que eu
vou visitar o governador.
Atendido em sua ordem pela mulher, aprontou-se
todo e partiu em seu desiderato. Chegando à casa onde dormira o Interventor,
fez-se anunciar e, todo enfatiotado, sentou-se a uma poltrona e ficou a
aguardar o aparecimento do chefe do Governo de Estado. Em poucos minutos,
adentrou Ruy Carneiro à sala onde estava o major. Logo que pôs os olhos na
figura da autoridade, o major espantou-se com os trajes do interventor que se
encontrava de pijamas e uma toalha enrolada no pescoço. Sem titubear ou fazer
cerimônias, Feliciano foi logo dizendo:
- Espere meu sinhô! Isso é estilo de um governador de Estado
receber as visitas? Volte, troque de roupa e venha me receber.
O interventor
ficou encabulado e falou:
- Eu não quis dar maçada ao senhor; peço que me desculpe,
realmente fui muito indelicado, major.
Mesmo assim, o
major insistiu:
- Tá o diabo! Onde já se viu uma falta de estilo dessas, meu
sinhô? Vá se aprontar que eu fico esperando.
O major Feliciano
era assim. Não tinha papas na língua, tampouco distinguia a quem dizer o que
pensava. Nesse caso, para ele, a investidura num cargo público de relevância
deveria também ser acompanhada de vestimentas adequadas e compatíveis, uma vez
que, no seu entender, o respeito deveria ser mútuo, ou seja: teria que se apresentar
composto, tanto o visitante quanto o visitado. Para o major, que nunca se achou
menos importante do que ninguém, as “importâncias” eram as mesmas.
(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em 30 de setembro de 2019, inspirado em relato
extraído do livro da
escritora princesense Ada Florêncio Barros da Nóbrega).
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