Já fiz rimas pros juízes
Doutores da minha serra,
Já falei das meretrizes
Que vive uma eterna guerra,
Mais agora vou mudar
Pra dar espaço e falar
Dos Ilustres da Minha Terra.
Começo por João Caití
Que se fez um soberano,
Em todo boteco aqui
Foi freguês de muitos anos,
Rugas em seu rosto vinga
Por causa da amiga pinga
Que agora traçou seus planos.
Falo também de Zé Grosso
Duma feição maltratada,
Homem forte, alto e moço
Que vive além e do nada,
Sua vida é um sofrimento
Anda dando passamento
Rolando pela calçada.
Teve o professor “Tózim”
Um homem de meia idade,
Que andou até o fim
Pelas ruas da cidade,
Já falou bem estrangeiro
E no Rio de Janeiro
Trabalhou em Faculdade.
Falo de ‘meu’ Zé Miranda
Que o brejo nos presenteia,
Por aqui quando ele anda
Sempre alguém lhe aperreia,
Dizia com vaidade:
-Aqui na vossa cidade
Sou o campeão de cadeia.
Teve um cidadão calado
Que andava sempre só,
Preguiçoso, encapotado
Fala mansa, ‘bocoió’,
Um cabra novo ‘mufino’
De um certo modo granfino
Que atendia por Cocó.
Santo Antonio “o cobrador”
De distinta prontidão,
Fama de namorador
E de um bom cidadão,
É gago do início ao fim
E se fizer atchim
Joga pedra até no cão.
Sete Couro andava penso
Já era seu natural,
Sem documento e sem lenço
Levava a vida normal,
Com sua japona preta
Ele saía careta
Em dias de carnaval.
Tião Badé o galã
Namorador de muvuca,
Tereza sua eterna fã
Nunca lhe tirou da cuca,
Por aqui foi campeão
E não nasceu um cidadão
Pra lhe bater na sinuca.
“Seu Musa”, este foi bravo
Sempre vagou por aí,
Descendente de escravos
Também viveu por aqui,
Sem leitura, sem esquema
Foi órfão desse sistema
Foi guerreiro de Zumbi.
E Maria de João Costa
Toda festa era no pé,
Eu até faço uma aposta
Que você sabe o que é,
Numa mesa preta e tosca
Ali se vendia rosca
Seguido de capilé.
‘Luis Borná’ ou Lulinha
Sempre pronto em bacanagem,
Nunca desviou da linha
Pra fazer uma malandragem,
Cabeceiro da mão cheia
Um bonachão sem ‘pareia’
Que amava uma vadiagem.
“Ciço de João Vermelho”
Um ‘galeguim’ bem rosado,
Era toda hora no espelho
Fazendo seu penteado,
Ele amava uma branquinha
Bem cedo, de manhãzinha
Foi malandro diplomado.
Vou falar de Mané Gato
Boêmio de botequim,
Um vivedor desses nato
Que nunca passou ruim,
Pra pintor não tem ‘pareia’
E deixou Princesa cheia
Com o diabo dum ‘pantim’..
Com a voz de locutor
Chegado a um rabo de saia,
cabra bom namorador
Chefe da Rua da ‘Paia’,
Quero aqui mencionar
O Ricardão do lugar
“Espedito Pade Maia”.
Vou prosseguir e ressalto
Com um cidadão decente,
Nosso ‘Cíço de Adauto’
O seu bigode e seu pente,
Na cachaça é outra linha
Responde por Estrelinha
E é doido pra matar gente.
Não posso esquecer jamais
Do cantor do coração,
Desse boêmio que faz
Chorar gente e violão,
É um galante matreiro
Que quando fala em Cruzeiro
Só lembra ‘Paulo Bocão’.
Tem também outro galã
Taxista há muito anos,
Que de outro galã é fã
E se faz tão soberano,
Provocando redevur
Nosso ‘Bosquim de Lulu’
É o Waldick Soriano.
Vou lembrar de um cidadão
Muito alegre, gozador
Ele é um bonachão
Um boêmio pescador,
Grande amigo do juiz
Por aqui vive feliz
E atende por Pecador.
Boêmio irremediável
Mecânico de qualquer frota,
Edelson foi um sujeito
Sempre pronto na lorota,
Por aqui foi bom rapaz
Amante dos carnavais
E a vida inteira por Cota.
Lembro aqui de Passarinho
Vendendo castanha assada,
Dizendo que Zé Galego
Morreu nessa madrugada,
Esse também tem um amor
A companheira Silô
Sua eterna namorada.
Também não posso esquecer
Nem se omitir da refrega,
Desse que me fez correr
E um dia quase me pega,
Morava num esconderijo
Fedia demais a mijo
E se chamava ‘Burra Cega’.
Manézinho da carroça
Vou aqui também dizer,
Nunca usou meia e sapato
E se lhe oferecer,
Uma troca na carroça
Por uma morena grossa
Ele diz não. Pode crer.
Nessa lista masculina
Jamais eu posso esquecê-la
dessa linda concubina
Que os homens sorriam ao vê-la,
A visita era sagrada
Domingo comprar buchada
No cabaré de ‘Estrela’.
Mas também como esquecer
Da Maria Catabí,
De Maria Bate Birro
Que viveu bem por aqui,
Me lembro bem de Arlinda
Fia Côca sempre linda
Com seu look por aí.
E ainda tinha Dasdores
Que morreu numa coivara,
Tinha Bem, tinha Clotilde
E também Rosa Muvara,
Maria Doida guereira
Que vem sua vida inteira
Novinha com a mesma cara.
Nesta lista ainda tem
O velho Mané Pitita,
Chico Raposa, Coquinho
Pamonha que corre e grita,
Dormia la no vapor
Gritava, fazia horror
Deixando a cidade aflita.
E agora pra terminar
Me desculpe alguma falha,
Mas falo ainda em Fugêncio
Também em Rasga Mortalha,
Relembro Zé Marcelino
Zé Maceió um menino
Que come toda migalha.
Você pode contestar
Discordar do que rimei,
Pode até ignorar
Das figuras que eu falei,
Não tem brasão de nobreza
Mas ‘Ilustres em Princesa’
Só são esses que eu citei.
Poeta cordelista
Rena Bezerra
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