ODE

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

O Circo em Princesa

Entre as décadas de 60 e 70 do século passado, Princesa era uma diminuta cidade, que se restringia a pouquíssimas ruas. É tanto que, a periferias, eram os Bairros do Cruzeiro e do Cancão. Nesse pequeno e encantado burgo, uma das maiores sensações era quando da chegada de um Circo, coisa que acontecia com frequência. O Circo que mais gostávamos e que já tinha identidade com a cidade, era o Circo da Viúva. Aqui chegava e aqui fazia morada. Armado no final da Rua Nova, onde é hoje a Praça Epitácio Pessoa ou, em outras vezes, no pátio do Cancão, passava meses apresentando seus espetáculos.

O Circo da Viúva passava temporadas tão extensas em Princesa, que a elite do elenco daquela lona chegava a alugar casas, onde moravam por vários meses. Mesmo assim, com o intuito de renovar o ânimo dos princesenses, todo final de mês, havia um “espetáculo de despedida”, com casamento do palhaço e tudo. Eram noites memoráveis. No mais das vezes, atraídos pela intensa animação da música lá dentro, quando o vigia estava distraído, nós, meninos pobres que não tinham dinheiro para pagar o ingresso, entrávamos pelos arames, acompanhados por alguns adultos muquiranas.

São lembranças que não se apartam da minha memória. As gêmeas, Jacklene e Jackleide, dançando de minissaia; o palhaço Xexéu com suas divertidas brincadeiras; Rogério Almeida fazendo peripécias com sua motocicleta no “Globo da Morte”; o mágico Wilson, acendendo um cigarro e arremessando várias piolas, numa ilusão de ótica que nos deixava bestificados; Birôco e Dorinha fazendo estripulias no trapézio; sem falar no malabarismo de Tinoco com vários cones e bolas às mãos. Depois dessas apresentações preliminares, findava-se, o espetáculo, com a apresentação do drama: “A Louca do Jardim”.

Era uma festa só. À tardinha, o palhaço saía, pelas ruas da cidade, em pernas-de-pau, cantando o “Benedito Bacurau” e convidando a todos para o espetáculo logo mais à noite. Os meninos e meninas que acompanhassem o palhaço e respondessem à sua cantoria, recebiam um carimbo no braço e - sem tomar banho para não apagar a tinta do carimbo -, tinham o direito de entrar de graça no Circo. Havia espetáculos todas as noites. Os ricos, ficavam aboletados nas cadeiras e, os pobres, atrepados nos poleiros. Na entrada do Circo, estava Nana de Vigó vendendo rolete de cana e, lá dentro, Passarinho com sua tábua de pirulitos e castanhola, e um menino vendendo o cavaco chinês de “seu” Manezim Pereira.

Eram tempos memoráveis, românticos, naquela Princesa bucólica onde todos se conheciam e, ao invés da maldade de hoje, havia muita inocência, desprendimento e distância dos outros lugares. Aquilo era o nosso mundo, onde valores decentes eram cultivados. Gostávamos de ler, de conversar e, até as brincadeiras, tinham cunho cultural ou educativo. Não havia culto ao hedonismo e, o respeito, era a regra. Como já disse Roberto Carlos: “Velhos Tempos, Velhos Dias”. É certo, que o saudosismo é um sentimento inócuo, porém, lembrar das coisas boas com alegria, é salutar para o espírito e nos coloca mais perto uns dos outros, trazendo à baila as felicidades de criança.



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