Quase todas as pequenas cidades do interior do Nordeste têm
suas lendas e suas superstições. Não é diferente com Princesa, na Paraíba do
século passado, quando estórias contadas pelos mais velhos, traziam à luz fatos
engraçados e, ao mesmo tempo, tenebrosos. Mirabolantes que eram, ao mesmo tempo
fascinavam e metiam medo. É o caso da
fábula da sedutora figura da chamada: “Mulher de Branco”.
Essa lenda remonta aos anos das décadas de 50 e 60, quando os
mais velhos relatavam sobre a existência de uma entidade, na pessoa de uma bela
mulher de cabelos compridos, entonada num longo vestido branco, que
perambulava, nas noites de lua cheia, sempre após a meia-noite, pelas ruas
escuras de Princesa, ainda uma cidadezinha sem luz de Paulo Afonso.
Contavam, que essa “alma penada”, vivia nesse desassossego em
pagamento dos pecados cometidos em vida, quando foi infiel ao marido. A
famigerada Mulher de Branco não aparecia a todo mundo. Como um holograma,
surgia de repente, às vezes em tamanho tão grande, que se punha sentada no
parapeito da Igreja Velha. E, quando se fazia de tamanho normal, desfilava sua
faceirice, de pés descalços, pelas principais ruas da cidade.
Sua longa cabeleira brilhava à luz da lua e, suas formas
angulosas, davam conta de haver sido uma mulher de rara beleza. Essas aparições
noturnas fascinavam a todos, inclusive aos que não tinham o privilégio de
vê-la. Causos e mais causos eram contados sobre essa belíssima assombração;
estórias de Trancoso que além de animar as sessões de conversas nas calçadas da
cidade, serviam também para amedrontar meninos e meninas “impossíveis”.
Para alguns mais céticos, essas aparições da Mulher de Branco
eram uma falácia. Segundo estes, isso empanava comportamentos escusos de
mulheres casadas que pisavam-fora-do-caco. Mulheres que se escondiam por detrás
da lenda, quando se prestavam a encontros furtivos, pelas madrugadas, com homens
também casados. Pode ser que assim fosse, porém, alguns mais ousados afirmam
mesmo haver visto a tal Mulher de Branco.
O certo é que, a boca pequena, conterrâneos que já se foram,
me confidenciaram que somente alguns princesenses tiveram o privilégio de ver
de perto essa alvíssima entidade. Eram os “don
juans” daquele tempo, que perambulavam também, pelos becos da cidade,
vestidos em pesados capotes em busca de algum portão entreaberto. Eram os famosos
na arte de conquistar senhoras casadas que transgrediam o 7º Mandamento da Lei
de Deus.
Essas mesmas fontes, me diziam também que, por conta dessas
transgressões noturnas, em algumas casas decentes de Princesa (a exemplo do que
aconteceu com Euclides da Cunha), nasceram algumas espigas de milho no cafezal de
alguns casais e alguns grãos de café em seus milharais. A Mulher de Branco,
enquanto proporcionava estórias para amedrontar crianças, pavimentava o caminho
para o cometimento do 5º pecado capital. Pelo visto, a assombração, de branco
só tinha a indumentária.
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