ODE

terça-feira, 4 de julho de 2023

As meizinhas de antigamente

Quem, com mais de 60 anos de idade, não lembra do famigerado Emulsão Scott? Era um remédio que as nossas mães, quando crianças, nos obrigavam a tomar, que servia (segundo elas), para estimular o apetite e promover um crescimento saudável. A meizinha era um líquido pastoso, contido de ferro e fósforo, com um gosto horrível de peixe, mas que “fortalecia os ossos”. Associado à essa emulsão, tomávamos também o famoso Biotônico Fontoura. Esse, pelo menos era gostoso de beber e servia também como vitamina e estimulante do apetite para crianças e adolescentes em crescimento. Na composição do Biotônico, havia 9,1% de álcool, o que nos fazia alegres e que fez Sebastião de “seu” Mano se viciar na cachaça. Há, inclusive, uma história engraçada quando Maria Aurora mandava, junto da feira, para João Pessoa, alguns frascos de Biotônico Fontoura para os meninos de doutor Antônio. Dirigindo a ambulância do Hospital São Vicente, que conduzia a feira, Sebastião bebia tudo na estrada e jogava os frascos do remédio no mato e, lá chegando, dizia, descaradamente: Eita! Tita esqueceu de mandar o Biotônico”.

Eram muitos os remédios receitados por doutor Severiano e, depois, por doutor Zezito Sérgio e que eram comprados na farmácia de Edezel Frazão e na de “seu” Alfredo Carlos. Para as doenças mais simples e corriqueiras, como dor de cabeça e febre, os remédios mais receitados eram os cachetes de Acetin para as crianças e Atroveran para os adultos. O Veramon era também muito usado para as dores de cabeças mais persistentes e, o Cibalena, analgésico e antipirético, servia para todo tipo de dor, inclusive a dor de dente. Porém, o mais famoso de todos os comprimidos para o alívio das dores era o Cibazol. De todos os remédios que tomávamos quando crianças, o que todos gostávamos era o Benadryl – uma solução doce de sabor maravilhoso que servia como antialérgico e relaxante para dormir. Um dos remédios mais comuns, ministrados nas crianças para curar problemas intestinais, era o Leite de Magnésia Phillips, um laxante e antiácido que era também terrível de beber. Mas, o pior tormento para as crianças era o tal de Merthiolate, que era usado como antisséptico nos cortes e arranhões.

Além desses medicamentos para a cura de doenças corriqueiras, sofríamos também com os piolhos. Além da intermitente coceira, sempre que chegávamos da Escola, as mães botavam Detefon nos cabelos e amarravam nossas cabeças com um pano. O veneno matava os bichos mas nos deixava tontos. A tristeza não era maior porque, via de regra, a mãe dava também uma colher de Benadryl para desintoxicar. Naquele, tempo, tratava-se as febres também com a introdução de supositórios e para combater a ascaridíase e matar as lombrigas, tomávamos Mebendazol. Lembro-me aqui de outra história engraçada: Juarez era um menino mais novo do que eu e neto de uma vizinha chamada Amália. Certo dia, estando sua avó, Amália, conversando com minha mãe, chegou Juarez, chorando e com as calças nos joelhos, dizendo: “Vó, caguei uma cobra!”. Amália correu para ver e viu três lombrigas serpenteando em meio à bosta. Correu em “seu” Alfredo e comprou um supositório de Mebendazol pro neto.

Doutor Severiano era aficionado nas doenças do fígado. Diante dos desconfortos e das reclamações de seus pacientes, quase sempre, ele atribuía o mal a problemas hepáticos. Para tanto, Severiano receitava o famoso Chophytol associado às drágeas de Xantinon, necessários para a liberação de mais bile pelo fígado e assim resolver os problemas digestivos e suas consequências. Para as inflamações nos brônquios, um dos remédios mais indicados eram os xaropes expectorantes de Fimatosan e Melagrião. Para as mulheres com problemas da menstruação, os médicos receitavam o Regulador Xavier nº 1 para as que tinham excesso de sangria e o nº 2 para as que menstruavam em escassez. Naquele tempo, quando as mulheres davam à luz uma criança, passavam 30 dias na cama, de meias e com a cabeça amarrada. Banho? Só depois de 8 dias do parto e, para estimular a contração do útero, tomavam generosas doses de cachaça. Nesse período, as parturientes eram abastecidas também de suplementos vitamínicos como o Selectocálcio e o Rarical. A grande maioria dessas meizinhas saíram de linha, não existem mais, residem apenas na memória dos que hoje estão no usufruto da terceira idade.



 

 

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