Quem, com mais de 60 anos de idade, não lembra do famigerado
Emulsão Scott? Era um remédio que as nossas mães, quando crianças, nos
obrigavam a tomar, que servia (segundo elas), para estimular o apetite e
promover um crescimento saudável. A meizinha era um líquido pastoso, contido de
ferro e fósforo, com um gosto horrível de peixe, mas que “fortalecia os ossos”.
Associado à essa emulsão, tomávamos também o famoso Biotônico Fontoura. Esse,
pelo menos era gostoso de beber e servia também como vitamina e estimulante do
apetite para crianças e adolescentes em crescimento. Na composição do
Biotônico, havia 9,1% de álcool, o que nos fazia alegres e que fez Sebastião de
“seu” Mano se viciar na cachaça. Há, inclusive, uma história engraçada quando
Maria Aurora mandava, junto da feira, para João Pessoa, alguns frascos de
Biotônico Fontoura para os meninos de doutor Antônio. Dirigindo a ambulância do
Hospital São Vicente, que conduzia a feira, Sebastião bebia tudo na estrada e
jogava os frascos do remédio no mato e, lá chegando, dizia, descaradamente: Eita! Tita esqueceu de mandar o Biotônico”.
Eram muitos os remédios receitados por doutor Severiano e,
depois, por doutor Zezito Sérgio e que eram comprados na farmácia de Edezel
Frazão e na de “seu” Alfredo Carlos. Para as doenças mais simples e
corriqueiras, como dor de cabeça e febre, os remédios mais receitados eram os
cachetes de Acetin para as crianças e Atroveran para os adultos. O Veramon era
também muito usado para as dores de cabeças mais persistentes e, o Cibalena,
analgésico e antipirético, servia para todo tipo de dor, inclusive a dor de
dente. Porém, o mais famoso de todos os comprimidos para o alívio das dores era
o Cibazol. De todos os remédios que tomávamos quando crianças, o que todos
gostávamos era o Benadryl – uma solução doce de sabor maravilhoso que servia
como antialérgico e relaxante para dormir. Um dos remédios mais comuns, ministrados
nas crianças para curar problemas intestinais, era o Leite de Magnésia
Phillips, um laxante e antiácido que era também terrível de beber. Mas, o pior
tormento para as crianças era o tal de Merthiolate, que era usado como
antisséptico nos cortes e arranhões.
Além desses medicamentos para a cura de doenças corriqueiras,
sofríamos também com os piolhos. Além da intermitente coceira, sempre que
chegávamos da Escola, as mães botavam Detefon nos cabelos e amarravam nossas
cabeças com um pano. O veneno matava os bichos mas nos deixava tontos. A
tristeza não era maior porque, via de regra, a mãe dava também uma colher de
Benadryl para desintoxicar. Naquele, tempo, tratava-se as febres também com a
introdução de supositórios e para combater a ascaridíase e matar as lombrigas,
tomávamos Mebendazol. Lembro-me aqui de outra história engraçada: Juarez era um
menino mais novo do que eu e neto de uma vizinha chamada Amália. Certo dia,
estando sua avó, Amália, conversando com minha mãe, chegou Juarez, chorando e com
as calças nos joelhos, dizendo: “Vó,
caguei uma cobra!”. Amália correu para ver e viu três lombrigas
serpenteando em meio à bosta. Correu em “seu” Alfredo e comprou um supositório
de Mebendazol pro neto.
Doutor Severiano era aficionado nas doenças do fígado. Diante
dos desconfortos e das reclamações de seus pacientes, quase sempre, ele
atribuía o mal a problemas hepáticos. Para tanto, Severiano receitava o famoso
Chophytol associado às drágeas de Xantinon, necessários para a liberação de
mais bile pelo fígado e assim resolver os problemas digestivos e suas
consequências. Para as inflamações nos brônquios, um dos remédios mais
indicados eram os xaropes expectorantes de Fimatosan e Melagrião. Para as
mulheres com problemas da menstruação, os médicos receitavam o Regulador Xavier
nº 1 para as que tinham excesso de sangria e o nº 2 para as que menstruavam em
escassez. Naquele tempo, quando as mulheres davam à luz uma criança, passavam
30 dias na cama, de meias e com a cabeça amarrada. Banho? Só depois de 8 dias
do parto e, para estimular a contração do útero, tomavam generosas doses de
cachaça. Nesse período, as parturientes eram abastecidas também de suplementos
vitamínicos como o Selectocálcio e o Rarical. A grande maioria dessas meizinhas
saíram de linha, não existem mais, residem apenas na memória dos que hoje estão
no usufruto da terceira idade.
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