Durante os quarenta dias que contam após a Quarta-Feira de Cinzas, cultua-se o período da Quaresma. Antigamente, nesse período era obrigatório o jejum, a abstinência de carnes e a constante penitência. A Quaresma culminava com as solenidades da Semana Santa, que comemorava a Paixão e Morte de Jesus Cristo; era essa a maior festa da Igreja. Na quarta-feira, chamada de “Trevas”, eram as imagens de santos da igreja de Princesa vestidas com sacos da cor roxa e, os altares eram também cobertos por cortinas da mesma cor, numa demonstração do luto pela morte do Cristo. Nesse dia, recomendava-se que fosse evitada a prática de tomar banho, sob pena de que, quem desobedecesse a essa orientação, tornar-se um entrevado. Na Quinta-Feira Santa ocorria a cerimônia do Lava-Pés, ocasião em que o vigário escolhia doze homens da comunidade (geralmente os potentados do lugar) para, solenemente, lavar-lhes os pés em demonstração de humildade, repetindo o gesto que houvera feito Jesus quando da Última Ceia. Após esse serviço, era exposta, no altar mor da igreja, a Custódia contida da hóstia consagrada para adoração durante toda a noite de quinta-feira, madrugada, manhã e tarde da sexta-feira. Essa adoração homenageava o sofrimento de Cristo no Horto das Oliveiras. Na Sexta-Feira Santa, o ápice da Semana Sagrada, dia em que não se podiam varrer casas, tirar leite das vacas, pentear os cabelos, bater punheta, trabalhar em ofício algum, ou fazer amor (diziam a boca pequena que, da relação sexual levada a efeito nesse dia sagrado, poderiam nascer lobisomens). Todos se comportavam contritamente. As atividades religiosas da sexta-feira começavam com a Missa Solene - que era concelebrada por vários padres e, ao invés de rezada era cantada -, realizada a partir das três horas da tarde, incluída do beija-cruz (exercício por demais anti-higiênico quando se faziam filas para beijar o cristo crucificado nas mãos de um coroinha), culminando com a procissão do Senhor Morto que percorria as principais ruas da cidade, num desfile fúnebre carregando a imagem (de madeira e também esculpida pelo Mestre Belinho) de Jesus Cristo morto. As flores e galhos que enfeitavam o esquife divino eram disputados a tapa pelos participantes da procissão, pois, segundo se acreditava à época, serviam como lenitivos para todas e quaisquer doenças quando promovia a cura através do chá que proporcionavam. A ingestão de bebidas alcoólicas era proibida durante a semana chamada “Santa”; fazia-se exceção ao vinho – bebida consumida pelos padres durante o ano todo – que podia ser usado em módica quantidade. Já os pobres, durante a semana que comemorava a paixão de Cristo, percorriam as ruas principais da cidade, pedindo, de porta em porta (de preferência nas casas dos ricos), “jejuns” para que se alimentassem melhor naquele período tido como sagrado. Findo o período de tristeza, aguardava-se com ansiedade a chegada da meia-noite do sábado no afã de que o vigário, na celebração da missa encontrasse a Aleluia. Diziam, naquele tempo, que o mundo se acabaria no sábado que procedia à Semana Santa e que, o que poderia salvar a humanidade de seu extermínio era o fato de o padre, durante a celebração da missa encontrar a graça e bradar o cântico da alegria na forma de Aleluia. Com isso, estava proclamada a Páscoa. Ainda hoje existem pessoas que acreditam que, se o padre não “achar” a Aleluia, o mundo se acaba!
ODE
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