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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

ZACHARIAS SITÔNIO



ZACHARIAS SITÔNIO

ZACHARIAS SITÔNIO E SUA ESPOSA DONA HERMOSA PEREIRA SITÔNIO

ZACHARIAS SITÔNIO era filho de José Francisco da Silva Sitônio e de dona Rita Cardoso Sitônio. Nasceu aos 24 de novembro de 1909, no povoado pernambucano de Jericó, pertencente ao município de Triunfo. Mesmo não havendo nascido em Princesa, foi aqui que foi criado desde tenra idade e afirmava sempre ser princesense. Segundo sua filha Mariângela, o nosso biografado “considerava a sua aldeia o mundo. E que Princesa era a melhor e a mais bonita terra da Terra”. Casou-se com dona Hermosa Pereira Góes Sitônio, com quem teve as filhas – todas nascidas em Princesa: Marta; Maria Ângela e Margareth. Aos 10 anos de idade, matriculou-se na escola do professor Adriano Feitosa Cavalcanti, onde foi aluno da professora Herondina Wanderley. Terminou o curso primário em 1924, um pouco antes da inauguração (1926) do Grupo Escolar “Gama e Melo”. Foi essa a formação de Zacharias Sitônio. Porém, muito inteligente e afeito à leitura, mesmo sem instrução formal tornou-se autodidata adquirindo ilustrada formação intelectual. Homem pacato, honesto, educado, de temperamento afável e por demais cordato foi visto, mais tarde, pelo grande tribuno princesense, Alcides Vieira Carneiro, como talhado para a atividade política.

Notário, Empresário e Intelectual.

Em 1936 Zacharias Sitônio foi nomeado, pelo Governo do Estado, para o cargo de Partidor do Juízo do termo da Comarca de Princesa, cargo que ocupou até 1939. Nesse ano foi nomeado Tabelião Público e Escrivão, exercendo o cargo até sua aposentadoria em 1959. Entre 1960 e 1961 tornou-se Diretor do Departamento de Assistência ao Cooperativismo do Estado da Paraíba. Além dos cargos públicos que ocupou com excelente desempenho, o nosso biografado atuou também na área privada da indústria e da comunicação. Na iniciativa privada, integrou as empresas TEONE: foi diretor do Moinho Teone, diretor do Jornal “Correio da Paraíba”; diretor fundador da “Rádio Correio da Paraíba” (que deu origem ao atual Sistema Correio.). Na qualidade de intelectual, foi membro do Grupo Literário “Joaquim Inojosa”, fundado em Princesa e que, em 1925, aderiu ao movimento de renovação literária e artística, iniciado com a Semana de Arte Moderna de 1922, tendo sido signatário do Manifesto de Adesão ao Movimento Modernista, juntamente com Emygdio de Miranda; José Cipriano Maracajá; Manuel Monteiro Domingos; José Vieira de Melo; João Maximiano dos Santos; Manoel Francelino de Souza; Renato de Freitas; Epaminondas Monteiro Diniz; Cláudio Pinheiro Santos; Manuel Lima e Belarmino Medeiros. Ainda na iniciativa privada, promoveu a publicação de importantes obras literárias de escritores paraibanos pela Editora Teone.

ZACHARIAS SITÔNIO TOMANDO POSSE COMO PREFEITO DE PRINCESA EM 1951.

 

Político e Administrador

No início do ano de 1951, os próceres do PSD – Partido Social Democrático se reuniram - já órfãos da presença do coronel José Pereira Lima, que havia falecido em 13 de novembro de 1949 - sob a liderança do então deputado federal Alcides Carneiro e do médico e filho do coronel Zé Pereira, Aloysio Pereira Lima, com o fito de escolher um nome para disputar as eleições municipais daquele ano, para o cargo de prefeito. Sem muitas delongas, a preferência recaiu sobre o nome do Tabelião Zacharias Sitônio. Este, admirado por Alcides, topou a parada e foi ungido candidato do partido, tendo como seu companheiro de chapa, para disputar como vice-prefeito, o também intelectual, Belarmino Medeiros. Foram às urnas, numa disputa acirrada, uma vez que a agremiação adversária entronada no poder, sob a égide do então prefeito Nominando Muniz Diniz (“seu” Mano), se apresentava bastante fortalecida. O partido nominandista, PL – Partido Libertador, apoiou os nomes do médico Severiano dos Santos Diniz para prefeito e o do então vereador Benedito Lima para vice-prefeito. Mesmo concorrendo numa campanha muito dura, Zacharias saiu vitorioso obtendo 348 votos de maioria. O resultado foi questionado na Justiça pelos opositores, porém, numa recontagem dos votos, a vitória da chapa Sitônio/Medeiros foi confirmada. Prefeito, Zacharias fez uma boa administração. A despeito dos parcos recursos disponíveis, realizou algumas obras importantes, dentre elas – segundo relata o ex-vereador e escritor aguabranquense, Luís Nunes Alves -, a total recuperação da estrada carroçável que liga Princesa a Teixeira, em toda a extensão do município, facilitando assim os deslocamentos e a comunicação no âmbito municipal, entre a sede e seus distritos e povoados. Teve também, Zacharias Sitônio, atuação no campo da educação e da cultura. Recuperou a Banda Marcial “José Pereira Lima”; criou uma Escola de Música e construiu escolas em todos os Distritos que não possuíam estabelecimentos de ensino. Mesmo ocupando ainda o cargo de prefeito, Zacharias candidatou-se ao cargo de deputado estadual nas eleições de 1954. Não logrou êxito nas urnas, ficando na 5ª Suplência. Porém, com a vacância de algumas cadeiras na Assembleia Legislativa, o ex-prefeito assumiu o cargo de deputado no período de 1956 a 1957.

Eleição questionável

Em 1959, Zacharias Sitônio foi novamente convocado pelo partido (PSD) para disputar a eleição para prefeito no pleito daquele ano. Desta feita, teve como seu companheiro de chapa, concorrendo ao cargo de vice-prefeito, o genro do coronel Zé Pereira, Luiz Gonzaga de Sousa, mais conhecido como Gonzaga Bento. Nessa eleição, o ex-prefeito teve como concorrentes, indicados pelo então prefeito Nominando Muniz Diniz, pelo PL, o comerciante Antônio Maia de Oliveira para prefeito e o senhor Manoel Severo (Vereador representante do Distrito de Manaíra) para o cargo de vice-prefeito. Nessa disputa, o nosso biografado, se recebeu total apoio de seu partido, o mesmo não ocorreu com relação à sua família. Desiludida da política e mais preocupada com o encaminhamento educacional das filhas, dona Hermosa Sitônio postou-se contrária à candidatura do marido, porém, impotente quanto à possibilidade de fazê-lo desvanecer desse intento, resolveu, por conta própria, mudar-se com suas três filhas, para a capital paraibana. Mulher resoluta tomou a decisão e já no início do ano mudou-se para João Pessoa. Zacharias, a partir daí, passou a dividir sua residência entre Princesa e a capital do Estado. Mesmo sem a presença da esposa, tocou a campanha que é conhecida, até hoje, como a disputa eleitoral mais acirrada da história de Princesa. Após uma campanha – embora incruenta -, contida de episódios violentos, aconteceu a eleição em 02 de agosto de 1959. Apuradas as urnas - após denúncia de fraude eleitoral, impetrada pelo candidato do PSD e que foi, estranhamente, ignorada pela Justiça Eleitoral -, foi proclamado o resultado que deu a vitória a Antônio Maia, com uma diferença de apenas 13 votos. Para aumentar as suspeitas de fraude, o candidato a vice-prefeito, Gonzaga Bento do PSD (nesse tempo a votação para prefeito e vice era feita em chapas separadas), em que pese a derrota do titular, foi eleito, derrotando Manoel Severo, do PL. Mesmo com a derrota, Zacharias Sitônio não desistiu da militância política, pois, já em 1963 - numa inversão da chapa concorrente em 1959 -, candidatou-se como postulante ao cargo de vice-prefeito da chapa encabeçada pelo então vice-prefeito Gonzaga Bento. Desta feita, obtiveram êxito, quando, numa campanha antológica, derrotaram o decano do grupo nominandista o “imbatível”, “seu” Mano.

O fim

Após essa disputa, Zacharias Sitônio abandonou a política passando a morar definitivamente, junto à sua família, em João Pessoa. Porém, nunca se esqueceu de sua querida Princesa e, sempre que podia, estava a passear pela cidade que tanto amou. Certa vez, este que escreve já interessado em obter informações sobre a história de Princesa, abordou “seu” Zacharias numa das ruas da cidade o inquirindo por informações sobre a “Guerra de Princesa”, ao que o ex-prefeito e ex-deputado princesense respondeu quase a sussurrar: “Aqui aconteceram coisas que não podemos relatar, sob pena de sermos queimados na fogueira. Ainda hoje, somos impedidos de falar para não causar mal-estares aos outros”. Lamentavelmente muitas informações valiosíssimas foram para o túmulo junto com esse condestável princesense de Jericó, que faleceu, aos 88 anos de idade, em 13 de maio de 1998. Exatamente hoje, se vivo fosse, estaria o nosso biografado, completando 110 anos de nascimento. Em sua homenagem, uma das ruas da cidade leva seu nome. Por tudo que representou para Princesa, está Zacharias Sitônio reconhecido como um dos filhos mais ilustres desta Terra.



 

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