Em face do lançamento da 2ª edição do livro “A Tragédia de
Princesa”, da escritora cearense, Cristina Couto, pelo que me chega, vem
repercutindo, principalmente, a figura demoníaca do padre Manoel Raymundo de
Nonato Pitta. Esse sacerdote, embora investido do sacerdócio, um verdadeiro
demônio, é um dos protagonistas, o pivô da história que disserta sobre o assassinato
do doutor Ildefonso Augusto de Lacerda Leite. Esse médico veio do Ceará para
clinicar em Princesa contra a epidemia de Febre Amarela. A história se passa no
início do século passado (1901/02) e tem como principal urdidor daquele crime o
padre Nonato Pitta.
Vigário da paróquia de Princesa entre 1900 e 1902, esse
demoníaco padre, logo que chegou à freguesia, mancomunou-se com os poderosos do
lugar e, como era sua praxe de vida, começou logo a prestar-lhes vassalagem em
busca de vantagens e prestígio. Aboletou-se no poder eclesial mas não se
imiscuiu de estar sempre à disposição do coronel, do juiz, do promotor, do
delegado e das demais autoridades. Esta resenha é recorrente e foi estimulada
pelo fato de eu haver encontrado uma fotografia desse demônio travestido de
religioso.
O padre Nonato Pitta já conhecia o médico Ildefonso desde os
tempos em que, ambos, foram contemporâneos no Seminário Episcopal de Fortaleza,
ocasião em que divergiram sobre matérias de fé e passaram a nutrir ojeriza um
pelo outro. Com a chegada do doutor em Princesa – lugar onde Pitta destacava
como vigário - e o estabelecimento do namoro do doutor com a bela Dulce - filha
do comerciante e capitão reformado Erasmo Campos -, estabeleceu-se nova querela
entre os dois, o que culminou com o assassinato de Ildefonso.
O delegado Manoel Florentino de Andrade, mais conhecido por
Neco Florentino, era apaixonado por Dulce, que o rejeitou como namorado.
Insatisfeito com a preterição, Neco, mesmo assim, continuou assediando a moça.
Esta, com a chegada do jovem médico a Princesa, em fins de 1900, que por ela se
apaixonou – amor à primeira vista – correspondeu ao sentimento de Ildefonso e
com ele se casou em março de 1901. Insatisfeito por ver sua preferida nos
braços de outro, Neco jurou vingança e, para tanto, encontrou no padre Pitta,
um aliado perfeito porque sempre ávido em fazer o mal.
O maligno sacerdote viu também aí a oportunidade de vingar-se
de Ildefonso pelas divergências antigas, e passou a urdir, junto com o
delegado, sob os olhares complacentes das demais autoridades da Vila de
Princesa, o assassinato do médico cearense, o que veio a acontecer em 06 de
janeiro de 1902. Morto Ildefonso, foi enterrado em cova rasa e, sem nenhuma
punição para os executores do crime (Neco Florentino e José Policarpo), tampouco
para o padre que urdiu tudo, o caso ficou por isso mesmo.
Logo após o assassinato do doutor Ildefonso, os autores do
crime morreram acometidos da Febre Amarela. Nonato Pitta foragiu-se para a
capital do Estado e foi se esconder debaixo da batina do bispo Diocesano da
Parahyba, dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques. Sem punição alguma o sacerdote
foi designado para destacar numa paróquia erma no interior da Bahia e, depois
para a cidade cearense de Brejo Santo onde participou da urdidura do
assassinato do coronel Chico Chicote, em 1927, na chamada “Tragédia das
Guaribas”.
Pela fotografia acima, dá para ver - pela fisionomia
debochada - que esse padre, ao invés de ser um Cura d’Almas, agia como se fora
um cangaceiro, agente do mal que se comprazia em promover tragédias.
Dissimulado, bajulador e interesseiro, o padre Manoel Raymundo de Nonato Pitta
adorava uma confusão. Era como se sentisse com isso, um prazer mórbido. Morreu
em Barbalha/CE de causas naturais e, pelo comportamento que adotou durante toda
sua vida, com certeza deve estar ardendo nas profundezas do inferno. O diabo, à
vezes, também veste batina.
*Para saber mais sobre o padre Pitta e o crime que
ceifou a vida do doutor Ildefonso Augusto de Lacerda Leite, são leituras
indispensáveis os livros: “A Tragédia de Princesa” da historiadora, Cristina
Couto; “Peste e Cobiça” de Tião Lucena e “Amor, Pecado e Sangue – 5 Crimes que
Abalaram Princesa” de autoria deste que escreve.
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