No último dia 08 de julho, faleceu, aos 101 anos de idade,
Vitória de doutor Severiano. Assim era chamada por haver servido por mais de 60
anos, na casa do doutor Severiano Diniz, médico que foi o pioneiro a clinicar
na região. A negra Vitória, neta de escravizados, era irmã de Ana, que servia
no palacete dos Pereira. Em tempos passados Severiano era figadal adversário
político da família Pereira. Mesmo assim, as duas irmãs jamais confundiram as
coisas, tampouco bateram com as línguas nos dentes quanto ao que viam ou ouviam
nas casas das lideranças políticas em que serviam.
Ana, cozinheira na casa do ex-prefeito Gonzaga Bento, morreu
mais cedo. Vitória, negra alta e “espetecada”, falava alto, mas como um miado.
Alegre e bem-humorada, todas as tardes, descia a Rua Nova, com uma lata de
lavagem na cabeça para alimentar seus porcos. Nunca se casou e estava sempre
feliz. Aposentada, viveu o resto da vida na tranquilidade de sua casinha na Rua
da Saudade. Era Vitória um exemplo de quem nasceu para servir sem se sentir por
isso humilhada. O importante é que foi feliz. Uma Vitória.
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