JOSÉ GOMES SOBRINHO
JOSÉ GOMES SOBRINHO nasceu na cidade paraibana de
Itaporanga, em 16 de janeiro de 1911. Era filho de Euclides de Carvalho e de
dona Maria Alves de Carvalho. Casou-se com dona Francisca Chaves Gomes Necy,
com quem teve os filhos: Judith; Euclides; Francisco; Ruth; Maria Célida; Maria
das Vitórias; Maria das Graças; Arsênio e Maria do Carmo. Estudou as primeiras
letras e o curso primário na cidade onde nasceu. Desde criança demonstrou muito
interesse pelas coisas da Igreja Católica. Foi coroinha e, aos 12 ou 13 anos,
revelou ao pai que desejava ser padre. Naquele tempo, eram três as profissões
almejadas pelos pais para seus filhos: sacerdócio, exército e medicina. Por
conta disso, de pronto, o senhor Euclides apoiou a intenção do filho. Segundo
me relatou o saudoso João Mandú Neto, o pai do nosso biografado teria
familiares residindo na então Capital Federal, Rio de Janeiro e foi para lá que
enviou José Sobrinho para o Seminário dos Padre Redentoristas. Periodicamente,
José vinha visitar a família em Itaporanga. Já com cerca de 18 anos de idade,
Sobrinho contraiu uma pneumonia e veio do Seminário para casa, para ser
tratado. Chegado a sua cidade, continuou frequentando os ofícios religiosos na
Igreja Matriz. Certo dia viu na fila da comunhão uma bela jovem por quem se
interessou imediatamente. Dias depois, abordou-a e encetou uma conversa,
aparentemente banal, mas já contida de algum interesse amoroso. Em face da
receptividade da moça, falou namoro a ela, no que foi correspondido. Dada à sua
situação de seminarista o fato provocou alguns comentários, porém, logo se
tornou público e virou uma coisa normal. Diante disso, José dirigiu-se ao pai e
comunicou ao mesmo sobre sua paixão, acrescentando que não voltaria mais para o
Seminário. Mesmo triste e decepcionado,
o senhor Euclides aceitou a escolha do filho. A partir daí, José Sobrinho
continuou seus estudos chegando quase a se formar advogado e logo que conseguiu
ser nomeado para o cargo de Coletor Estadual, casou-se com sua querida Necy.
Chegada a Princesa
Ocupando o cargo para o qual foi nomeado, José foi
transferido para trabalhar na chefia da Coletoria Estadual de Princesa. Chegou
aqui no ano de 1951 onde logo fez muitas amizades, pois era homem muito
sociável, de bom trato e de educação refinada. Além da atividade como Coletor,
assumiu uma cadeira, como professor de francês no então Ginásio “Nossa Senhora
do Bom Conselho”. O professor Zé Sobrinho, como era chamado, era homem
inteligente e ilustrado. Além de dominar
muito bem o idioma Latim (que aprendera no Seminário), falava fluentemente,
além do Português, o Francês e o inglês. Na referida escola, Zé Sobrinho
ensinava francês aos ginasianos e latim aos alunos do curso Clássico. Quando
chegou a Princesa, já tinha todos os filhos e, estes, lhe chamavam
carinhosamente de “Pai Zé”. Essa forma de ser chamado disseminou-se de forma
tal, que quase todos em Princesa - principalmente os jovens a quem ele ensinava
-, o chamavam também de “pai Zé”. Na escola, o professor era querido por todos
e tinha uma forma peculiar de lecionar. Começava pela chamada pela caderneta
quando não fazia uso da prática de chamar os alunos pelos números
correspondentes, mas sim, pelo nome de cada um. Quando calhava de um aluno ter
o nome homônimo de algum santo da Igreja Católica, Pai Zé, conhecedor profundo
das coisas dessa religião, fazia preleções sobre a vida dos santos. No meu
caso, Domingos Sávio, quando chamava meu nome, dizia: “São Domingos Sávio, chamava-se realmente, Domenico Joseph Savio. Santo
mártir que foi morto aos 15 anos e idade quando levava a eucaristia para
presos... Foi aluno de Dom Bosco”. Nos dias em que estava muito inspirado,
o horário destinado para ministrar a aula era totalmente consumido com essas
dissertações religiosas. Outra coisa interessante do professor eram as notas
que ele dava pelos trabalhos que fazíamos. Se a apresentação do trabalho estivesse
bem feita, com uma capa bem ornada por uma flor, um coração ou com inscrições
em letras góticas ou garrafais, Pai Zé nem abria o trabalho, apunha na capa a
nota: 100. A única vez que vimos o professor irritado foi quando de uma
brincadeira de mau gosto feita por um dos alunos. Certa noite, ao adentrar à
sala de aula, Pai Zé, após fazer a chamada, escutou do aluno Rafael Teodósio,
mais conhecido como “Pacú”, a seguinte brincadeira: “professor, Elizabeth tá com o cu sujo”. Na verdade, Pacú se
referia ao pescoço da colega que, em francês, se escreve cou e se pronuncia cu.
Diante disso, o professor repreendeu seriamente e expulsou-o da sala. O
professor Zé Sobrinho era um homem bom, porém, não admitia falta de respeito
com ninguém.
Religioso, rábula, cervejeiro e desportista
José Gomes Sobrinho, flechado pelo cupido, desistiu do
sacerdócio, mas não se afastou das atividades religiosas. Frequentava a Igreja
de forma contumaz e era Zelador do Apostolado da Oração, associação que
reverenciava o Sagrado Coração de Jesus. Nas solenidades religiosas, Zé
Sobrinho participava ativamente, inclusive fazendo coro com as cantoras da
Igreja: Odívia Maximiano; Doralice Marrocos; Antônia Gastão, dona Nina Marrocos
e outras, que cantavam acompanhadas por dona Irene Sérgio dedilhando a
Serafina. Nessas ocasiões, pai Zé, que tinha a voz de tenor, entoava os hinos
em voz alta. Lembro-me, nitidamente, quando ele cantava o hino sacro: “Coração Santo, Tu Reinarás. O Nosso
Encanto, Sempre Serás”. Além da atividade como funcionário público
estadual, nosso biografado fazia também as vezes de advogado amador, o que se
chamava, à época, de rábula. Funcionava nos juris populares, defendendo réus,
principalmente aqueles que não tinham meios para contratar um advogado. Além de
todos esses “fazeres”, Zé Sobrinho, que não era de ferro, gostava também de
tomar cerveja, o que o fazia, quando não no bar de Chico França, na bodega de
Mirô Arruda. Bebia com vontade e, quando já estava no ponto, ficava vermelho
igual um peru e começava a discursar de forma muito veemente, porém,
incompreensível pela impostação da voz já prejudicada pelo líquido ingerido.
Amante do futebol emprestava apoio ao time Esplanada, que era dirigido por doutor
Zezito Sérgio e gostava de assistir às partidas daquele esporte que eram
realizadas no Estádio Municipal. José Gomes Sobrinho, embora não tenha nascido
em Princesa, foi a terra que adotou como sua e aqui viveu até o fim da vida.
Somente daqui saiu quando já doente, foi residir em João Pessoa, onde faleceu.
Por tudo o que representou para a educação; o esporte; a religião e o serviço
público está, esse importante homem a merecer figurar com destaque no panteão
dos princesenses ilustres.
ESCRITO POR DOMINGOS
SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 09 DE JANEIRO DE 2020.
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