ODE

terça-feira, 24 de março de 2020

APENAS UMA REFLEXÃO





O trabalho de Átila Lamarino, cientista brasileiro e pesquisador na área de progressão viral, pega uma curva de progressão viral européia. Nós estamos na progressão 4. O que significa isso? A cada quatro dias o número de infectados dobra. Dos infectados muitos são assintomáticos, contrairão o vírus e ficarão resistentes a ele. Ocorre que passarão o vírus para a frente. Os acima de setenta anos de idade, e que sejam portadores de precomodidades, terão um percentual de dez por cento de chance de morrer. Ocorre que temos uma população de duzentos e vinte milhões de habitantes. Qualquer percentual, incidente sobre um número tão elevado,  chega a números catrastóficos. Está é a realidade do Brasil. Lembre-se um fator favorável e outro desfavorável se compararmos com a realidade da Itália: a nossa população é mais jovem do que a da Itália; nossa estrutura urbana de favelas será um inferno para a proliferação viral. No final das contas todo mundo será contaminado. O detalhe do Covid-19: ele contamina muita gente ao mesmo tempo e acaba por destruir a capacidade hospitalar de qualquer país. Não é o vírus em si, mas, a sua propagação rapidíssima e em escala geométrica que o torna terrível. Estou confinado em casa. Fique em sua casa. Quando menos expostos estivermos menos contribuiremos para a disseminação do contágio.  A China teve uma cidade altamente contagiada: Wuhan, que fica no Sul. Foi completamente isolada e teve, pelo menos até agora, um grande êxito no isolamento. Os Estados Unidos estão com pelo menos dois enormes focos virais: o Estado da Califórnia, a Leste, e Nova York, na Costa Leste. O Brasil, por sua própria população, provavelmente terá focos virais em seus grandes centros. A epidemia, quando se alastra por mais de um local, fatalmente sairá do controle público.  A saúde pública na cidade de Nova York entrará em colapso, em breve. No Brasil não será diferente. Não haverá tempo também para vacinas. A produção de remédios, que possam diminuir os impactos da progressão viral, também não alcançará a velocidade de propagação do próprio vírus. Diante de tudo isso resta-nos o isolamento social como método. Um indivíduo que se recolha em casa, que exercite a prática da solidão necessária e que não se deixe levar pela fragilidade psicológica estará fazendo um enorme bem a si próprio e a toda sociedade. Um não infectado quebra a linha progressiva do vírus. E isso é tudo que poderemos fazer de concreto no momento. Esperemos pela resposta da ciência. Nesses momentos é que paramos para avaliar o verdadeiro valor de um cientista que, em um estalo de inteligência, poderá salvar milhões de vidas e retornar a paz que fora interrompida na Terra. Imaginemos  se Alexander Fleming não tivesse descoberto a penicilina. A humanidade teria sido destruída pelas bactérias. Passado este pesadelo, no qual toda a humanidade é protagonista na condição de vítima ou de potencial vítima, teremos que nos lembrar que outros vírus virão para desfiar, mais uma vez, a inteligência dos cientistas. Acredito que somente teremos paz nessa guerra viral e bacteriológica quando uma enfermeira, um médico, um fisioterapeuta e um cientista, todos juntos, conseguirem ganhar um por cento do salário de um jogador de futebol famoso, de uma celebridade do cinema ou de um lutador de box. Os vírus nós atacam porque ainda estamos engatinhando na nossa escala de valores. Valorizamos o supérfluo e desprezamos a essência da própria razão humana do existir.  Contra os médicos é comum se ouvir a expressão Máfia de Branco. Pois bem: enquanto eu estou em casa, preservando a minha saúde e tentando evitar uma contaminação viral, meu filho está arriscando a própria vida, em favor dos infectados e sabendo do perigo que corre. Ele é um "mafioso"  que veste roupa branca. Ele é médico. Temos dois olhos para ver, dois ouvidos para ouvir e apenas uma boca para falar. Que esta confinação sirva para que possamos aprender a falar menos, que a fala seja uma consequência lógica de um pensamento, que possamos ouvir mais, que respeitemos mais aqueles que estão arriscando suas próprias vidas em favor das nossas. 

Wellington Marques Lima

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