Em 1930, a Parahyba tinha pouco mais de um milhão de habitantes e Princeza, a oitava cidade do Estado em número de pessoas, possuía cerca de 33.000 moradores (o município compreendia, à época, além da sede, as seguintes localidades: Água Branca, Juru, Tavares, São José e Manaíra). A sede do município era constituída deaproximadamente 1.200 almas. O burgo princesense, quando da deflagração da Guerra de Princesa, era uma cidade próspera que muito se desenvolvera durante toda a década anterior [Anos 20]. Nas palavras da historiadora princesense, Serioja Mariano, extraídas de seu livro: “Signos em Confronto? O Arcaico e o Moderno na Cidade de Princesa na Década de 1920”:
“A cidade prosperava. De uma economia baseada na agricultura e no criatório, em que o campo se sobressaía, Princesa cresceu e passou por um processo acelerado de modernização, com a alta da economia algodoeira. Transformou-se velozmente. Adquiria ares de moderna, com a construção de casas, ruas, praças e melhoramento de estradas; a chegada da iluminação elétrica; concessionária de automóveis e agências de bancos.”.
Nesse tempo, a Parahyba do Norte era a unidade da Federação maior produtora de algodão, o chamado “Ouro Branco” (28.936.730 kg/Ano), e Princeza, o terceiro município maior produtor do Estado (superado apenas por Santa Luzia do Sabugi e Campina Grande), cultivando uma área de 7.566 hectares. Essa cultura foi o carro-chefe do desenvolvimento e do progresso repentino da cidade. Alavancou o comércio, transformando Princesa num centro comercial importante e abastecedor dos municípios do entorno, inclusive os do estado vizinho de Pernambuco. Várias casas comerciais foram abertas na cidade: “Casa Grande Ponto” do senhor José Sitônio Filho; “Casa Pereira Lima”, pertencente ao coronel José Pereira Lima que era também representante da “Esso” em Princesa; “Casa José Muniz”, de José Muniz Diniz, todas comercializavam no varejo e em grosso, os seguintes produtos: fazendas, miudezas, calçados, chapéus, estivas, perfumarias, querosene, gasolina, ferragens, molhados, etc. A energia elétrica que em Princesa havia chegado em 1905, servia tanto para alimentar as máquinas que processavam o algodão quanto para prover a iluminação pública e a de algumas das casas dos mais abastados. O primeiro automóvel chegado à cidade foi em 1917 e, à época da guerra, segundo o escritor paraibano José Joffily, Princesa era: “(...) um dos mais prósperos municípios, onde, na época, havia 20 automóveis particulares, tantos quantos os da capital”. Ainda da lavra da escritora Serioja Mariano, em seu mesmo trabalho:
“(...) O centro comercial de Princesa dispunha de armazéns que vendiam em grosso para as praças de Nova Olinda, Sant’Ana, Conceição, Misericórdia, e outras cidades. Os comerciantes prosperavam com o dinheiro trazido pelo algodão. As lojas, situadas na rua principal, não fechavam mais para o almoço, como antigamente, aproveitavam a onda crescente de consumo de novidades. Na cidade estavam instaladas uma usina elétrica e uma usina de beneficiamento e prensagem de algodão.”.
De acordo com depoimento contido no livro: “A Heróica Resistência de Princeza”, o escritor José Gastão Cardoso completa - com relação ao desenvolvimento de Princesa na década de 1920, o que culminou com grande pujança, eque já se observava no início do conflito:
“(...) Uma verdadeira febre de construções acelerou o progresso urbano da terra, com abertura de avenidas e bairros residenciais, estabelecimentos comerciais bem sortidos, casas de diversões, sociedades recreativas, cinema, luz elétrica, grupo escolar e tantos outros melhoramentos que elevaram Princeza ao seu verdadeiro posto de soberana da Borborema. A cidade transformou-se num grande centro comercial, dispondo de armazéns que vendiam em grosso (...). (...) Firmas estrangeiras, como a “Ford” e a “Standard”, mantinham agências, fazendo grandes negócios. Havia no município mais de vinte automóveis particulares, a serviço exclusivo dos seus proprietários.”.
O coronel José Pereira Lima, homem letrado e de posses, não descuidou também da cultura do município e criouuma biblioteca particular, recheada de títulos de autores famosos: Menotti del Picchia; Oswald de Andrade; Euclides da Cunha; Humberto de Campos; Mário de Andrade; Graça Aranha; Machado de Assis; José de Alencar; Shakespeare; Dante, dentre outros. Além da biblioteca que se dispunha ao acesso dos que quisessem ilustrar-se, o coronel apoiou a iniciativa do professor Waldemar Emygdio de Miranda em criar, em 17 de maio de 1925 – incentivado pela “Semana de Arte Moderna”, ocorrida em São Paulo, em 1922 – o “Grêmio Literário Joaquim Inojosa” e a fundação de uma “Sociedade de Letras” que levava aos alunos do “Externato Pereira Lima” leituras novas que até então eram desconhecidas. Com todos esses meios, era a cidade de Princesa uma das mais importantes do Estado da Paraíba. Findo o conflito de 1930, o município foi relegado ao esquecimento do poder estadual e amargou longos anos de declínio político, econômico e social, somente conseguindo soerguer-se novamente, a partir da década de 1960.
(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 27 DE ABRIL DE 2020).
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