As eleições de 2018 foram muito parecidas com o pleito
realizado em 1989. Naquela ocasião, o povo brasileiro foi às urnas e escolheu
um candidato fanfarrão – Fernando Affonso Collor de Mello -, que prometia tirar
o Brasil do buraco inflacionário, caçar os marajás e, de uma varredura,
moralizar tudo. O povo votou, principalmente, com medo do “sapo barbudo”
[Lula], que despontava nas pesquisas com chances reais de vitória. Damos todos
com os burros n’água. Fernando Collor não debelou a inflação, revelou-se o
marajá número um do Brasil e desmoralizou a Nação quando foi vítima de um impeachment por atos de corrupção. Em
2018, o povo sufragou o nome de Jair Messias Bolsonaro, não por considerá-lo
credenciado para o cargo, mas pelas suas propostas moralizadoras, pela
sinalização do advento de uma nova forma de governar e de fazer política e,
principalmente para se livrar da corrupção promovida pela gang do PT. O atual
presidente da República fez uma campanha eleitoral diferente. Usou e abusou das
redes sociais; não participou de nenhum debate televisivo; fez pouquíssimos
comícios e foi beneficiado por uma “providencial” peixeirada que, felizmente
não ceifou sua vida, mas ajudou a dar-lhe a vitória nas urnas. Eleito, formou
um ministério de notáveis (?) sem interferência política ou troca de apoios.
Com isso, deu a entender (até aos integrantes do Congresso Nacional), que
adentrávamos para um novo tempo na política brasileira, que a política velha do
toma-lá-da-cá havia sucumbido ao passado. Ledo engano.
Cai o pano
Em face dos últimos acontecimentos políticos, constatamos que
o “mito” é uma farsa. Tal qual um avião desgovernado, igual ao que provocou o
maior ataque terrorista da história moderna, quando abateu as duas torres
gêmeas do World Trade Center nos EUA
em 2001 – Jair Bolsonaro acaba de derrubar dois [Mandetta e Moro] dos seus mais
competentes ministros, e já frita o terceiro [Paulo Guedes], numa demonstração
de que a fase de enganação está acabando. No momento, Bolsonaro já se volta
para os deputados do chamado “Centrão” e abre o balcão de negócios para obter a
garantia de sua estadia no Palácio do Planalto e poder continuar defendendo as
estripulias de seus garotos sapecas. Demitiu Moro - a quem havia dado carta
branca para combater a corrupção -, pelo “irrelevante” motivo de que o ministro
não permitiu que ele [Bolsonaro] interferisse nas ações da PF - Polícia Federal.
Primeiro demitiu o diretor geral da PF, Maurício Valeixo, para colocar em seu
lugar, um delegado de sua confiança que – segundo revelou o então ministro
demissionário, Sérgio Moro -, possa abastecê-lo de informações, relatórios,
etc. sobre as atividades e investigações que correm tanto na PF quanto no STF –
Supremo Tribunal Federal. Diante dessa decisão do presidente, Moro alegou que
isso não era republicano, mas sim politicagem. Bolsonaro desrepublicanizou o
ministro da justiça, demitiu-o. E vai politizar a Polícia Federal. Sérgio
Fernando Moro saiu atirando, revelando comportamentos não republicanos do
presidente, o que fez o “mito” conceder entrevista chamando aquele [Moro] - que
antes era tido como o protótipo da honestidade -, de “inimigo da Nação”.
Um retrato na parede?
A farsa do presidente Bolsonaro se revela quando ele começa a
se desvencilhar daqueles que entraram para o governo com o pensamento de fazer
diferente e agora se veem impedidos pela nova ordem que é o retorno à velha
política. Lá, quem manda são os filhos enumerados: 01, 02 e 03. O nº 01
[Flávio] está envolvido até o pescoço com a tal “rachadinha” da Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro; o nº 02 [Eduardo], além de já haver demonstrado
o desejo de fechar o Congresso Nacional e de criticar seriamente o maior
parceiro [China] comercial do Brasil, pode estar envolvido na organização das
manifestações antidemocráticas ocorridas no domingo passado; o nº 03 [Carlos]
está sendo investigado pelo STF por suspeitas de que comanda, de dentro do Palácio
do Planalto, o chamado “gabinete do ódio” que cuida em promover a destruição de
reputações de autoridades da República, através de Fake News nas redes sociais. São esses os motivos que induzem o
nosso presidente a querer ter interferência nas investigações da PF, para
livrar a cara de seus problemáticos rebentos. Aumenta a crise quando acrescem
os efeitos da fala do ex-ministro Moro - que já começou a apresentar as provas
sobre suas afirmações – e a incapacidade de o presidente realizar seu intento
de interveniência em órgãos de inteligência e segurança, uma vez que as
instituições brasileiras, a exemplo da PF, resistirão a isso. Resta ao “mito”,
seguir o conselho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse: “Renuncie antes de ser renunciado e
poupe-nos de, além desse sofrimento causado pela pandemia do Coronavírus, o
sofrimento de um longo processo de impeachment”. Diante de tudo isso, fica
a impressão de que Bolsonaro já é somente um retrato na parede.
(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO
ROBERTO, EM 26 DE ABRIL DE 2020).
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