ODE

domingo, 26 de abril de 2020

A FARSA SE REVELA




As eleições de 2018 foram muito parecidas com o pleito realizado em 1989. Naquela ocasião, o povo brasileiro foi às urnas e escolheu um candidato fanfarrão – Fernando Affonso Collor de Mello -, que prometia tirar o Brasil do buraco inflacionário, caçar os marajás e, de uma varredura, moralizar tudo. O povo votou, principalmente, com medo do “sapo barbudo” [Lula], que despontava nas pesquisas com chances reais de vitória. Damos todos com os burros n’água. Fernando Collor não debelou a inflação, revelou-se o marajá número um do Brasil e desmoralizou a Nação quando foi vítima de um impeachment por atos de corrupção. Em 2018, o povo sufragou o nome de Jair Messias Bolsonaro, não por considerá-lo credenciado para o cargo, mas pelas suas propostas moralizadoras, pela sinalização do advento de uma nova forma de governar e de fazer política e, principalmente para se livrar da corrupção promovida pela gang do PT. O atual presidente da República fez uma campanha eleitoral diferente. Usou e abusou das redes sociais; não participou de nenhum debate televisivo; fez pouquíssimos comícios e foi beneficiado por uma “providencial” peixeirada que, felizmente não ceifou sua vida, mas ajudou a dar-lhe a vitória nas urnas. Eleito, formou um ministério de notáveis (?) sem interferência política ou troca de apoios. Com isso, deu a entender (até aos integrantes do Congresso Nacional), que adentrávamos para um novo tempo na política brasileira, que a política velha do toma-lá-da-cá havia sucumbido ao passado. Ledo engano.

Cai o pano

Em face dos últimos acontecimentos políticos, constatamos que o “mito” é uma farsa. Tal qual um avião desgovernado, igual ao que provocou o maior ataque terrorista da história moderna, quando abateu as duas torres gêmeas do World Trade Center nos EUA em 2001 – Jair Bolsonaro acaba de derrubar dois [Mandetta e Moro] dos seus mais competentes ministros, e já frita o terceiro [Paulo Guedes], numa demonstração de que a fase de enganação está acabando. No momento, Bolsonaro já se volta para os deputados do chamado “Centrão” e abre o balcão de negócios para obter a garantia de sua estadia no Palácio do Planalto e poder continuar defendendo as estripulias de seus garotos sapecas. Demitiu Moro - a quem havia dado carta branca para combater a corrupção -, pelo “irrelevante” motivo de que o ministro não permitiu que ele [Bolsonaro] interferisse nas ações da PF - Polícia Federal. Primeiro demitiu o diretor geral da PF, Maurício Valeixo, para colocar em seu lugar, um delegado de sua confiança que – segundo revelou o então ministro demissionário, Sérgio Moro -, possa abastecê-lo de informações, relatórios, etc. sobre as atividades e investigações que correm tanto na PF quanto no STF – Supremo Tribunal Federal. Diante dessa decisão do presidente, Moro alegou que isso não era republicano, mas sim politicagem. Bolsonaro desrepublicanizou o ministro da justiça, demitiu-o. E vai politizar a Polícia Federal. Sérgio Fernando Moro saiu atirando, revelando comportamentos não republicanos do presidente, o que fez o “mito” conceder entrevista chamando aquele [Moro] - que antes era tido como o protótipo da honestidade -, de “inimigo da Nação”.

Um retrato na parede?

A farsa do presidente Bolsonaro se revela quando ele começa a se desvencilhar daqueles que entraram para o governo com o pensamento de fazer diferente e agora se veem impedidos pela nova ordem que é o retorno à velha política. Lá, quem manda são os filhos enumerados: 01, 02 e 03. O nº 01 [Flávio] está envolvido até o pescoço com a tal “rachadinha” da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro; o nº 02 [Eduardo], além de já haver demonstrado o desejo de fechar o Congresso Nacional e de criticar seriamente o maior parceiro [China] comercial do Brasil, pode estar envolvido na organização das manifestações antidemocráticas ocorridas no domingo passado; o nº 03 [Carlos] está sendo investigado pelo STF por suspeitas de que comanda, de dentro do Palácio do Planalto, o chamado “gabinete do ódio” que cuida em promover a destruição de reputações de autoridades da República, através de Fake News nas redes sociais. São esses os motivos que induzem o nosso presidente a querer ter interferência nas investigações da PF, para livrar a cara de seus problemáticos rebentos. Aumenta a crise quando acrescem os efeitos da fala do ex-ministro Moro - que já começou a apresentar as provas sobre suas afirmações – e a incapacidade de o presidente realizar seu intento de interveniência em órgãos de inteligência e segurança, uma vez que as instituições brasileiras, a exemplo da PF, resistirão a isso. Resta ao “mito”, seguir o conselho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse: “Renuncie antes de ser renunciado e poupe-nos de, além desse sofrimento causado pela pandemia do Coronavírus, o sofrimento de um longo processo de impeachment”. Diante de tudo isso, fica a impressão de que Bolsonaro já é somente um retrato na parede.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 26 DE ABRIL DE 2020).

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