ODE

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

90 ANOS DA GUERRA DE PRINCESA – CRONOLOGIA DE UM CONFLITO

 


MORTO JOÃO PESSOA, A COMOÇÃO POPULAR

Nada mais estranho do que os fatos que antecederam o assassinato do malogrado presidente João Pessoa. Primeiro, pelo fato de o presidente haver pedido sigilo sobre seu deslocamento para a Capital pernambucana, depois, pelo anúncio, feito nas páginas do Órgão Oficial do Estado, dando conta não somente da viagem de João Pessoa, como também de seu itinerário no Recife. Colhido do livro “Nas Vésperas da Revolução”, em que o então 1º Vice-Presidente, Álvaro Pereira de Carvalho, relata em suas memórias, às páginas 20 e 21, temos:


“Ao dizer-me [João Pessoa], no dia 25, que aparecesse à noite em Palácio para receber o governo, pediu-me reserva, acrescentado que não desejava se soubesse de sua viagem. A notícia a que acima me referi [o comunicado da viagem presidencial] causou-me, por isso, sério aborrecimento, o que me levou a interpelar o Diretor da “A União”, que me respondeu havê-la feito por ordem do Presidente”.


Naquele momento, João Pessoa, se achava em um momento cruciante. A Guerra de Princesa lhes trazia as maiores preocupações. O conflito se apresentava inglório por vários motivos. Primeiro, porque os cofres do Estado estavam vazios, depois, pelo abandono de seus aliados gaúchos e mineiros da Aliança Liberal que, segundo Álvaro de Carvalho, na mesma edição, o presidente em seus pedidos de ajuda, não era atendido:


“(...) E foi isto, justamente, o que João Pessoa não cessou de pedir, abertamente, a seus aliados, a seus conterrâneos, a todo mundo. Mas, foi precisamente o que lhe não souberam, puderam, ou quiseram mandar, seus aliados de Minas e o fizeram, com parcimônia, os do Rio Grande do Sul (...)”.


Desesperado, o presidente paraibano, via-se num beco sem saída. Mesmo assim, afirmava em comunicado peremptório“Tenho o povo da Paraíba ao meu lado. E com os paraibanos lutaremos contra o banditismo armado pelo Governo Federal, lutaremos de armas brancas, faca, facão, espada e baioneta, até o último homem”. Em uma de suas últimas confabulações com um de seus principais aliados, o cônego Mathias Freire, João Pessoa, desesperado, disse: “Por que não me matam?”. Foi nesse estado de espírito que o presidente paraibano viajou para o Recife, na madrugada do fatídico dia 26 de julho de 1930. Nas palavras de Álvaro de Carvalho: “Foi esta situação que o levou a Recife, às fauces hiantes dos inimigos, contra os conselhos, os rogos e súplicas de todos os que gozavam da sua confiança”. Dá-se a entender que João Pessoa partiu, como um verdadeiro suicida, em busca da morte, como um lenitivo definitivo para suas agruras.


Comoção na Capital


Por volta das 17:00 horas, chegou à cidade de Parahyba, capital do Estado de mesmo nome, a trágica notícia do assassinato de João Pessoa, ocorrido no Recife. A inominável desgraça, rápido se espalhou por toda a cidade. Cerca de duzentos presos arrombaram a Cadeia Pública e, em conjunto com a população enfurecida, invadiram as ruas, quebrando, depredando, incendiando, saqueando, enfim, praticando toda sorte de desvarios. Os alvos preferidos dos vandalizados pela notícia nefasta, eram as residências e propriedades dos chamados perrepistas,adversários do Presidente morto. A Polícia, quase todo o efetivo se encontrava no sertão, em luta contra Princesa; a Guarda Civil desorganizada e, o Corpo de Bombeiros, incapacitado de acudir aos vários incêndios que iluminavam a cidade. Restou ao Presidente, Álvaro de Carvalho - que com o desaparecimento de João Pessoa, assumiu a titularidade do cargo -, recorrer ao Exército para manter a ordem. Mesmo à revelia daqueles avessos a esse recurso por acharem ser uma submissão às forças federais, isso foi feito. Sob as ordens do Secretário de Segurança Pública do Estado, José Américo de Almeida, o Exércitopassou o combater a insanidade da massa, conseguindo ser, o desvario, gradual e efetivamente controlado. Na verdade, a comoção e os atos de violência adstringiram-se à capital do Estado, onde o malsinado presidente gozava de grande popularidade. No resto do Estado, aconteceram pouquíssimas manifestações populares, restringindo-se, as homenagens, à celebração de missas e alguns discursos nas sessões dos Conselhos Municipais.


Em Princesa


Chegada a Princesa, a notícia da morte de João Pessoa, o coronel José Pereira, ordenou cessarem todas as atividades bélicas. Recolheu-se em segurança aguardando o caminhar dos acontecimentos. Somente no dia seguinte (27/07), chegou ao front de luta, em Tavares, a notícia da tragédia. Os comandados do capitão João Costa, posicionados em defesa do sitiamento em que se achavam naquele Povoado, ouviram, através de gritos proferidos pelos homens de Zé Pereira: “’João Porteira’ morreu!”; “Mataram João Pessoa! Vencemos a Guerra! Viva Princêza!”. Enviado um emissário, da frente de luta ao capitão João Costa, para certificar-se daquela terrível informação, o chefe informou que não tinha conhecimento daquele fato e que se tratava de propaganda enganosa engendrada pelo inimigo para “nos enfraquecer”. Pelo que se colhe do livro do jornalista paraibano, João Lelis de Luna Freira: “A CAMPANHA DE PRINCESA”, p.p. 355, temos:


“Apenas palavras destacadas se colhiam, ora numa posição, ora noutra. Com mais de uma hora de observação, conseguiu-se concatenar o sentido da informação. Era mesmo de causar assombro. Todos ficaram perturbados e não deram crédito ao que estavam ouvindo. Trocavam, os oficiais, comentários a respeito, opinando, em conjunto, ser aquela notícia unicamente para causar efeito”.


Somente às 10:00 horas da manhã, veio a confirmação - através de um radiograma -, que transmitiu o seguinte: Capitão Costa. TAVARES. Com profundo pezar comunico Presidente João Pessôa foi assassinado ontem em Recife no Café ‘Glória’, ás 17 horas. (as.) Ademar Vidal”.  Essa notícia espalhou-se entre a tropa, causando grande consternação e revolta. Alguns praças, aos prantos e indignados com o trágico acontecimento que, de imediato, capitalizavam na conta do coronel José Pereira, gritavam :“Vamos pegar Zé Carnaval a dentes!”. Foram necessárias enérgicas providências do comandante, João Costa, para que os soldados se acalmassem e desistissem de empreender, naquele dia, temerária e suicida marcha sobre Princesa.


DSMR, EM 07 DE AGOSTO DE 2020.

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