ODE

terça-feira, 18 de agosto de 2020

90 ANOS DA GUERRA DE PRINCESA – CRONOLOGIA DE UM CONFLITO

 

 


PRINCESA OCUPADA PELO EXÉRCITO


No dia 11 de agosto de 1930, por volta do meio-dia, chegaram a Princesa, sob o comando do capitão João Facó, via a fronteira com o estado de Pernambuco, 0 19º e o 21º Batalhões de Caçadores do Exército Brasileiro. Além do comandante, mais quatro oficiais superiores, os tenentes: Canela, Ericson, Túlio Paes Leme e Monclaro Menna Barreto. Comandados por estes, mais seiscentos soldados armados e equipados. Esse contingente vinha com orientação superior para promover o desarmamento do coronel José Pereira Lima e pacificar a cidade rebelada. Previamente comunicado da vinda das forças federais, Zé Pereira providenciou esconder parte de seu arsenal de guerra. Cerca de trezentos fuzis e várias caixas de munições foram postos em locais seguros (na década de 1980, foram encontradas, escondidas nas paredes da casa de dona Toinha Carlos, várias caixas recheadas de balas de fuzil). A ocupação foi um alívio para todos, tanto para o Coronel como para o presidente Washington Luís e para o presidente (governador) Álvaro de Carvalho. Exauridos pelo longo período em guerra, ambos os lados estavam ansiosos pela paz. O coronel José Pereira recebeu a tropa do exército com muita presteza. Providenciou casas de residência para os oficiais (O capitão João Facó estabeleceu residência numa casa situada à Praça Epitácio Pessoa) e acomodou a soldadesca no prédio de sua usina de algodão (antiga SANBRA), no final da hoje chamada Avenida Presidente João Pessoa. No dia 19 de agosto daquele ano, em visita de inspeção à cidade ocupada, o general Lavenère Wanderley enviou ao presidente (governador) Álvaro de Carvalho, o seguinte telegrama:

“Princesa 19 – Presidente Estado – Participo a V. Exa. Que deputado José Pereira dissolveu suas forças e hoje terminou entrega armamento e munição em poder das mesmas e existentes depósitos nesta cidade pt. Atenciosas saudações. (a) General Wanderley”.

Em seu livro de memórias: Nas Vésperas da Revolução, o presidente Álvaro de Carvalho escreveu: “(...) tive de transigir um pouco com os poderes federais, que, tomando Princesa e desarmando José Pereira, tiravam-me, sem que o pedisse, da situação insustentável em que me achava, livrando-me de uma das pontas do dilema em que teria caído o meu nobre antecessor, se a arma assassina não o houvera abatido: pedir intervenção ou ser vencido por cangaceiros”. Ocupada, Princesa, tudo se fazia tranquilo. No dia 07 de setembro, em comemoração ao Dia da Pátria, as tropas federais, sob o comando do capitão Facó, desfilaram pelas principais ruas da cidade culminando, o evento, numa concentração cívica na Praça Epitácio Pessoa, onde foram proferidos discursos pelas várias autoridades. No dia 29 de setembro, a cidade de Princesa foi surpreendida com a chegada de um contingente da Polícia Militar da Paraíba, sob as ordens do Coronel Emerson Benjamin, composto de 350 praças. Esse exagerado número de militares, manifestava a frustração do chefe do Estado Maior da polícia paraibana durante a Guerra de Princesa, José Américo de Almeida que, sediado em Piancó não conseguiu ocupar Princesa durante o conflito, o fazendo agora, de forma ostensiva, depois de tudo pacificado. Um verdadeiro exagero, pois, até o estouro da Revolução, Princesa abrigava quase mil soldados do Exército e da Polícia paraibana. Enquanto os soldados das forças federais se comportaram com civilidade e disciplina, os da Polícia, promoviam toda sorte de desmandos e provocações, o culminou com o assassinato de um dos Libertadores de Princesa, João Flor, pelo sargento Vicente Chaves. O crime aconteceu na rua do baixo meretrício, ao que se sabe, sem motivo que o justificasse. Sabedor desse atentado, o coronel José Pereira, que se encontrava no Distrito de Tavares, assistindo aos serviços religiosos em homenagem a São Miguel, padroeiro daquele lugar, voltou imediatamente a Princesa, reuniu os oficiais do Exército e proferiu o seguinte discurso:

“(...) Tratei-os bem, como é dos meus hábitos, senhores componentes das Forças Armadas Brasileiras, mas saibam que não me submeterei à orientação destes destemidos lutadores da Polícia estadual que aqui acabam de chegar, sem lhes oferecer uma reação que ainda posso ter, e surpreendê-los, com o risco da minha própria vida, mas que ficarão resguardados para todo o País e a qualquer preço os brios de um homem que não se entregou, nem se entregará, à sanha de um governante despótico ou dos seus continuadores oportunistas”.

Referia-se, nessa fala, o Coronel, ao desditoso presidente João Pessoa e ao senhor José Américo de Almeida e, como vemos, contava, o Coronel, com o total apoio dos comandantes das forças federais, aos quais tratou com esmerada atenção e zelo, chegando mesmo a estabelecer amizade e até compadrio. Em face desse assassinato desnecessário, o capitão João Facó, determinou – com o intuito de proteger José Pereira e sua família -, a interdição da “Rua Grande” (Coronel Marcolino Pereira), onde se situava a casa de residência do Coronel. Passado esse incidente e, pacificada a cidade, essa situação perdurou até a eclosão da Revolução. Com a vitória do movimento revolucionário em todo o País, o que se deu em 03 de outubro de 1930, o líder tenentista, Juarez Távora, expediu o seguinte telegrama para o capitão João Facó, em Princesa:

 “Capitão Facó – Princesa – Apelo prezado colega de armas aderir imediatamente Revolução pois a mesma se acha vitoriosa em todos Estados do Brasil como deve ser vosso conhecimento. Não hesiteis tomar essa atitude. Logo após prenda José Pereira conduzindo o mesmo para Salvador me comunicando que darei novas instruções. Atenciosamente, Juarez Távora”.

Amigo do Coronel e grato pela acolhida recebida, Facó e os demais oficiais apresentaram o telegrama a José Pereira e este, sabedor das perseguições de que seria vítima, deixou Princesa, em fuga para lugar incerto, no dia 05 de outubro de 1930.

DSMR, EM 18 DE AGOSTO DE 2020.

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