ODE

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 


 

“A CAMPANHA DE PRINCESA”

JOÃO LELIS DE LUNA FREIRE

 

Trabalho literário de relevante importância, o livro do paraibano, João Lelis de Luna Freire: “A CAMPANHA DE PRINCESA”, lançado em 1944 e reeditado em 2000, trata da Guerra de Princesa, ocorrida entre os meses de fevereiro a julho de 1930. Na verdade, essa minuciosa obra se impõe de detalhes, mais especificamente, sobre o cerco ao Distrito de Tavares. Informativa por si só de um episódio que teve repercussão nacional e é tido como precursor da Revolução de 1930, o escrito, que traz algumas informações históricas que localizam o leitor no tempo em que se passa o evento bélico – em que pese a sofisticação da narrativa -, está mais para um quase diário de guerra. Mesmo contido de alguns erros de datas, além de algumas inverdades¹, o livro é leitura indispensável para quem quer compreender a história de Princesa, da Paraíba e, sobretudo, os primórdios do movimento revolucionário que derrubou a República Velha.

 

O que é corriqueiro acontecer quando a história é contada por quem dela participou, o escrito de João Lelis peca pela falta de isenção quando da excessiva tendência em louvar o presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Nada que se possa estranhar em um jovem intelectual, à época articulista do órgão de imprensa oficial do estado da Paraíba, A União que, voluntariamente, adentrou pelo sertão paraibano com o intuito de noticiar as coisas daquele conflito. Segundo o jornalista Kubitschek Pinheiro, encontraremos no livro: (...) a saga de um repórter de guerra e todas as verdadeiras emoções vividas pelos homens em luta, na mais oportuna campanha de Princesa, sem rastro de espírito aventureiro”. Mostra de que o autor de “A CAMPANHA DE PRINCESA”, optou pelo lado da polícia, é a insistência em descrever os lutadores de Princesa como cangaceiros. Isso foi estabelecido pela propaganda do Governo do Estado, à época, para tentar desmerecer os homens do coronel José Pereira Lima. É bem verdade que, no seio da tropa princesense, existiam facínoras, mas é sabido que a maioria dos lutadores de 1930, eram trabalhadores e homens de bem. Melhor seria, haver nominado os estranhos na luta como voluntários ou mercenários. Excerto do livro às páginas 40:

 

“Êsse ajuntamento de homens os mais diversos, pela procedencia excusa e pela má conduta, a que não faltava a figura do autentico cangaceiro, armas na mão e pronto à execução de ordens mais temerárias, foi logo conhecido das autoridades do estado. Daí a urgência de medidas que, por sua prestesa e eficiência, fizessem voltar a Paraíba à calma e à ordem, que uma tal ameaça transformara em intranquilidade e receio”.

 

Exatamente o oposto do também parcial autor do livro: “A Heróica Resistência de Princesa” (resenha imediatamente anterior), José Gastão Cardoso, que tece rasgados elogios a José Pereira Lima, assim João Lelis descreve o Coronel de Princesa:

 

“Era civil por índole, por convivência e por atitudes. Um político – proselitista e regougante de vaidades, tecido dos defeitos e virtudes de sua gente, de sua época, do seu meio. Egoista, como quase todo sertanêjo, centralizador e abafante, franco e desconfiado, impetuoso e diplomata”.

 

Enquanto isso, sobre João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, Lelis, sempre se refere a ele como “O Grande Presidente”. Reforçando o caudal de informações diversas sobre a Guerra – o que faz da publicação em tela, uma fonte espetacular do que aconteceu no dia-a-dia do sítio de Tavares, o autor, a bem da informação isenta, oscila no dizer das diversas e diferentes situações, enfrentadas pelos combatentes dos dois lados. Vejamos o contido às páginas, 278 e 279:

 

“As colunas (Norte e Leste), que formavam as linhas da vanguarda das tropas que combatiam em Princêsa, viviam num grande isolamento, o que lhes acarretava um sofrimento permanente, cheio de atrocidade e desalentos”. (...) O inimigo era mais poderoso em gente e balas. Não o atrofiava a magrém dos bornais e o seu efetivo atingia a mais do duplo das tropas legais. Além disso, não deixava ao adversário a iniciativa de avançar sempre que lhe descobria intenções de investir sobre Princêsa, fazendo-o gastar a munição que vinha, avaramente, acumulando nos períodos de estacionamento. E isso era uma tortura”.

 

Nascido em Alagoa Nova/PB, aos 04 de abril de 1909, foi casado com dona Maria de Lourdes Costa Luna Freire, com quem teve os filhos: João, Jorge, Ronaldo, Roberto, Sérgio, Fernanda e Alexandre. Com apenas 21 anos de idade, João Lelis de Luna Freire, tornou-se repórter de guerra como testemunha presencial do maior conflito civil já havido no estado da Paraíba. Jornalista, professor e advogado por formação; membro da Academia Paraibana de Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, foi também prefeito das cidades paraibanas de Taperoá e Mamanguape e da comuna norteriograndense de Santa Cruz de Inharé e deputado estadual pela Paraíba. Faleceu em 24 de julho de 1954. Nas palavras do jornalista Osias Gomes: “Deixando sua marca, a história de um humanista que ainda hoje se cultua”. Além dessa importante obra em contributo à historiografia paraibana, Lelis escreveu mais três livros.

 

DSMR, em 02 de dezembro de 2020.

Nenhum comentário:

Postar um comentário