ODE

quinta-feira, 8 de abril de 2021

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

 




A VERDADE SOBRE A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO – 1930

BARBOSA LIMA SOBRINHO

Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, conceituadíssimo intelectual, jornalista e político pernambucano foi um dos pioneiros a escrever sobre os fatos que culminaram com a Revolução de 1930. Ainda em 1933 lançou, em primeira edição, o livro: A VERDADE SOBRE A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO – 1930, publicado pela Gráfica Editora Unitas Ltda. – São Paulo. Conforme nota do editor: “(...) a obra do ilustre membro da Academia Brasileira de Letras, evidenciando a seriedade e a isenção de ânimos com que foi escrita, alcançou um sucesso ímpar e dentro de pouco tempo desapareceram dos balcões das livrarias os seus quatro mil exemplares. (...) Escrito ainda sob o calor dos acontecimentos o livro do meritório intelectual Barbosa Lima Sobrinho, constitui antes de tudo um depoimento consciente de uma conturbada fase da História do Brasil”.

Contido de 209 páginas, o trabalho em tela, em seu capítulo XIII – O Caso da Paraíba, trata dos motivos e das consequências, fundamentais para a eclosão do movimento revolucionário de 1930. Nesse contexto, não deixaria de estar presente a Guerra de Princesa. Nesse especial capítulo, o autor inicia realçando as exageradas medidas fiscais tomadas pelo novo presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque o que, no seu entender, foi sim a mola propulsora para o desentendimento político que culminaria com o rompimento das oligarquias rurais com o novo governo comandado por Pessoa e o início das hostilidades que resultaram na Guerra de Princesa. Nas páginas 114/115 o escritor anota que, João Pessoa, poderia haver tomado as medidas necessárias para o soerguimento da economia do Estado com maior parcimônia e menos exagero, quando pontua que aquele:

“Preferiu ação mais deliberada, por meio de um sistema tributário exagerado e ríspido, que distinguia entre as mercadorias importadas pelo litoral e as que vinham através do território de Estados vizinhos. Aquelas pagariam imposto mínimo; as outras teriam que enfrentar tarifas verdadeiramente proibitivas”.

Na página 117, Barbosa Lima, explica que o rompimento do coronel José Pereira Lima com o presidente João Pessoa não se deu imediatamente após a exclusão do ex-presidente João Suassuna dachapa proporcional que concorreria aos cargos de deputado federal. Segundo o autor: “Ao contrário, hesitaram muitos dias ainda, ante as responsabilidades e os riscos que iam enfrentar”. Com muita lucidez, dada à proximidade dos fatos no tempo, o autor faz um comentário importante e pouco citado pelos vários historiadores que trataram das coisas de 1930. Com o rompimento, João Suassuna telegrafa ao presidente João Pessoa: “Dado o rompimento de José Pereira, eu não pude evitar o dever de acompanhá-lo, como ele tem feito em todas as emergências da vida pública e particular”. Segundo o autor, Suassuna mentia, pois, a intenção mesmo era preservar a indicação de seu nome como concorrente avulso a uma cadeira de deputado federal pela minoria. Mais adiante, Babosa Lima, reproduz um telegrama, divulgado no livro de Adhemar Vidal, enviado por Suassuna a Zé Pereira – o que reputam todos haver sido a gota d’água para o rompimento do coronel com o presidente paraibano. Segue o teor dessa missiva telegráfica:

“Lira e Inácio Evaristo recusaram assinar manifesto com minha exclusão e Oscar, apelando para mim. Momento reunião presidente fez referências deprimentes minha pessoa e família e sei fonte segura iguais conceitos sua pessoa. Diante disto, autorizei Oscar (Soares) entender-se oposição, fim combinar nossa cooperação. Estou aguardando resposta. Penso não devemos ter mais ilusões sobre gente assim nos ataca gratuitamente com tamanha ingratidão. Amanhã ou depois seguirei Teixeira avisando para nosso encontro ali”.

Após o recebimento desse telegrama do ex-presidente Suassuna, o coronel José Pereira telegrafou ao presidente João Pessoa, rompendo definitivamente. Como vemos, o verdadeiro articulador do rompimento foi João Suassuna. Após o rompimento, João Pessoa providenciou o esvaziamento da cidade de Princesa, chamando de volta àCapital todas as autoridades estaduais ali destacadas. Segundo o autor, o presidente paraibano: (...) pertencia a essa classe de estadistas e de homens, para os quais o melhor remédio contra as dores de cabeça é a guilhotina”.Na verdade, João Pessoa intencionava impedir a realização das eleições na cidade rebelada. Mais tarde, conforme anota Barbosa Lima Sobrinho, em telegrama enviado ao deputado Araújo Cunha, o presidente paraibano informava:

“Nesta (em Princesa) e nos distritos ocupados pelos cangaceiros armados e vigiados pela polícia – dizia João Pessoa -, não houve eleições, nem podia haver e, quando houvesse, era nula de pleno direito, por não se ter podido guardar a situação de ordem, garantia e liberdade que a lei exige como imprescindíveis”.

Mesmo assim, as eleições aconteceram em Princesa e tiveram, para os candidatos do Catete, a mesma unanimidade de votos que sempre foi conferida aos candidatos apoiados pelo coronel José Pereira.

Na página 120, o autor descreve José Pereira Lima com letras diferentes das usadas por seus opositores à época:

“Quanto a José Pereira, estava longe de ser o bandido horripilante que a campanha aliancista descrevia. Era apenas um chefe igual aos outros, com os defeitos e as virtudes do sertanejo, decidido e valente, dissimulado, sagaz e convencido, como todos os habitantes daquelas paragens, da necessidade e legitimidade do rifle do cangaceiro. Quando se deliberou à luta, não pensava tornar-se instrumento de interesses distantes, mas cedia ao desejo de fazer-se campeão das oligarquias locais, duplamente desprezadas e hostilizadas na reforma tributária do governo paraibano e na redução de influência política”.

Quanto ao assassinato do presidente João Pessoa, em 26 de julho de 1930, perpetrado pelo advogado João Duarte Dantas, na Confeitaria Glória, no Recife, Barbosa Lima Sobrinho, atribui o crime: “(...) à exaltação e violência das lutas partidárias na Paraíba”. Leia-se “lutas partidárias”, a Guerra de Princesa. Daí a observação antológica do autor desse escrito sobre a importância política da morte de João Pessoa:

“Nenhuma caravana política, de tantas que percorreram o Brasil na propaganda das candidaturas aliancistas, pôde fazer pela causa o que esse cortejo fúnebre vai conseguindo. E, paradoxo curioso das forças ignotas, que o acaso conduz no seu bojo infinito! João Pessoa vivo foi uma voz contra a revolução. Mas João Pessoa morto foi o verdadeiro rearticulador do movimento revolucionário”.

Lá adiante, na página 136, o autor realça pronunciamento do senhor Lindolfo Cólor, um dos próceres do movimento revolucionário, o que nos dá mais uma evidência da importância de Princesa nesse contexto histórico. Da tribuna da Câmara Federal, Cólor, quando da ocupação de Princesa, pelo Exército Brasileiro, em 11 de agosto de 1930 “afirmava que a ocupação de Princesa equivalia a um golpe de Estado, que sacrificava a autonomia da Paraíba”. Mais lenha na fogueira.

Olivro de Barbosa Lima Sobrinho é considerado um estudo sobre os fatos históricos daquele 1930. É um dos trabalhos mais respeitados e isentos e uma das obras mais citadas pelos vários historiadores que já se debruçaram sobre o tema. Por isso, leitura indispensável para os que querem melhor entender sobre aquele importante capítulo da nossa História recente.

Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho nasceu no Recife (PE), a 22 de janeiro de 1897. Era filho de Francisco Cintra Lima e de dona Joana de Jesus Cintra Barbosa Lima. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, em 1917. Jornalista, trabalhou em vários jornais, dentre eles o Jornal do Brasil. Por duas vezes exerceu a presidência da ABI – Associação Brasileira de Imprensa. Como político, foi deputado federal por três legislaturas e governador do estado de Pernambuco (1948/1951). Intelectual refinado que foi, tomou cadeira na ABL - Academia Brasileira de Letras da qual foi presidente (1953/1954). Faleceu no Rio de Janeiro, aos 103 anos de idade, em 16 de julho de 2000.

DSMR, em 08 de abril de 2021.

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