A VERDADE SOBRE A
REVOLUÇÃO DE OUTUBRO – 1930
BARBOSA LIMA SOBRINHO
Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, conceituadíssimo
intelectual, jornalista e político pernambucano foi um dos pioneiros a escrever
sobre os fatos que culminaram com a Revolução de 1930. Ainda em 1933 lançou, em
primeira edição, o livro: A VERDADE
SOBRE A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO – 1930, publicado pela Gráfica Editora Unitas
Ltda. – São Paulo. Conforme nota do editor: “(...)
a obra do ilustre membro da Academia Brasileira de Letras, evidenciando a
seriedade e a isenção de ânimos com que foi escrita, alcançou um sucesso ímpar
e dentro de pouco tempo desapareceram dos balcões das livrarias os seus quatro
mil exemplares. (...) Escrito ainda sob o calor dos acontecimentos o livro do
meritório intelectual Barbosa Lima Sobrinho, constitui antes de tudo um
depoimento consciente de uma conturbada fase da História do Brasil”.
Contido de 209 páginas, o trabalho em tela, em seu capítulo
XIII – O Caso da Paraíba, trata dos motivos e das consequências, fundamentais
para a eclosão do movimento revolucionário de 1930. Nesse contexto, não
deixaria de estar presente a Guerra de Princesa. Nesse especial capítulo, o
autor inicia realçando as exageradas medidas fiscais tomadas pelo novo
presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque o que, no seu
entender, foi sim a mola propulsora para o desentendimento político que
culminaria com o rompimento das oligarquias rurais com o novo governo comandado
por Pessoa e o início das hostilidades que resultaram na Guerra de Princesa.
Nas páginas 114/115 o escritor anota que, João Pessoa, poderia haver tomado as
medidas necessárias para o soerguimento da economia do Estado com maior
parcimônia e menos exagero, quando pontua que aquele:
“Preferiu ação mais deliberada, por
meio de um sistema tributário exagerado e ríspido, que distinguia entre as
mercadorias importadas pelo litoral e as que vinham através do território de
Estados vizinhos. Aquelas pagariam imposto mínimo; as outras teriam que
enfrentar tarifas verdadeiramente proibitivas”.
Na página 117, Barbosa Lima, explica que o rompimento do
coronel José Pereira Lima com o presidente João Pessoa não se deu imediatamente
após a exclusão do ex-presidente João Suassuna dachapa proporcional que
concorreria aos cargos de deputado federal. Segundo o autor: “Ao contrário, hesitaram muitos dias ainda,
ante as responsabilidades e os riscos que iam enfrentar”. Com muita
lucidez, dada à proximidade dos fatos no tempo, o autor faz um comentário
importante e pouco citado pelos vários historiadores que trataram das coisas de
1930. Com o rompimento, João Suassuna telegrafa ao presidente João Pessoa: “Dado o rompimento de José Pereira, eu não pude
evitar o dever de acompanhá-lo, como ele tem feito em todas as emergências da
vida pública e particular”. Segundo o autor, Suassuna mentia, pois, a
intenção mesmo era preservar a indicação de seu nome como concorrente avulso a
uma cadeira de deputado federal pela minoria. Mais adiante, Babosa Lima,
reproduz um telegrama, divulgado no livro de Adhemar Vidal, enviado por
Suassuna a Zé Pereira – o que reputam todos haver sido a gota d’água para o
rompimento do coronel com o presidente paraibano. Segue o teor dessa missiva
telegráfica:
“Lira e Inácio Evaristo recusaram
assinar manifesto com minha exclusão e Oscar, apelando para mim. Momento
reunião presidente fez referências deprimentes minha pessoa e família e sei
fonte segura iguais conceitos sua pessoa. Diante disto, autorizei Oscar (Soares)
entender-se oposição, fim combinar nossa cooperação. Estou aguardando resposta.
Penso não devemos ter mais ilusões sobre gente assim nos ataca gratuitamente
com tamanha ingratidão. Amanhã ou depois seguirei Teixeira avisando para nosso
encontro ali”.
Após o recebimento desse telegrama do ex-presidente Suassuna,
o coronel José Pereira telegrafou ao presidente João Pessoa, rompendo
definitivamente. Como vemos, o verdadeiro articulador do rompimento foi João
Suassuna. Após o rompimento, João Pessoa providenciou o esvaziamento da cidade
de Princesa, chamando de volta àCapital todas as autoridades estaduais ali
destacadas. Segundo o autor, o presidente paraibano: (...) pertencia a essa classe de estadistas e de homens, para os quais
o melhor remédio contra as dores de cabeça é a guilhotina”.Na verdade, João
Pessoa intencionava impedir a realização das eleições na cidade rebelada. Mais
tarde, conforme anota Barbosa Lima Sobrinho, em telegrama enviado ao deputado
Araújo Cunha, o presidente paraibano informava:
“Nesta (em Princesa) e nos distritos
ocupados pelos cangaceiros armados e vigiados pela polícia – dizia João Pessoa
-, não houve eleições, nem podia haver e, quando houvesse, era nula de pleno
direito, por não se ter podido guardar a situação de ordem, garantia e
liberdade que a lei exige como imprescindíveis”.
Mesmo assim, as eleições aconteceram em Princesa e tiveram,
para os candidatos do Catete, a mesma unanimidade de votos que sempre foi
conferida aos candidatos apoiados pelo coronel José Pereira.
Na página 120, o autor descreve José Pereira Lima com letras
diferentes das usadas por seus opositores à época:
“Quanto a José Pereira, estava longe
de ser o bandido horripilante que a campanha aliancista descrevia. Era apenas
um chefe igual aos outros, com os defeitos e as virtudes do sertanejo, decidido
e valente, dissimulado, sagaz e convencido, como todos os habitantes daquelas
paragens, da necessidade e legitimidade do rifle do cangaceiro. Quando se
deliberou à luta, não pensava tornar-se instrumento de interesses distantes,
mas cedia ao desejo de fazer-se campeão das oligarquias locais, duplamente
desprezadas e hostilizadas na reforma tributária do governo paraibano e na
redução de influência política”.
Quanto ao assassinato do presidente João Pessoa, em 26 de
julho de 1930, perpetrado pelo advogado João Duarte Dantas, na Confeitaria
Glória, no Recife, Barbosa Lima Sobrinho, atribui o crime: “(...) à exaltação e violência das lutas partidárias na Paraíba”.
Leia-se “lutas partidárias”, a Guerra de Princesa. Daí a observação antológica
do autor desse escrito sobre a importância política da morte de João Pessoa:
“Nenhuma caravana política, de tantas
que percorreram o Brasil na propaganda das candidaturas aliancistas, pôde fazer
pela causa o que esse cortejo fúnebre vai conseguindo. E, paradoxo curioso das
forças ignotas, que o acaso conduz no seu bojo infinito! João Pessoa vivo foi
uma voz contra a revolução. Mas João Pessoa morto foi o verdadeiro
rearticulador do movimento revolucionário”.
Lá adiante, na página 136, o autor realça pronunciamento do
senhor Lindolfo Cólor, um dos próceres do movimento revolucionário, o que nos
dá mais uma evidência da importância de Princesa nesse contexto histórico. Da tribuna
da Câmara Federal, Cólor, quando da ocupação de Princesa, pelo Exército
Brasileiro, em 11 de agosto de 1930 “afirmava que a ocupação de Princesa
equivalia a um golpe de Estado, que sacrificava a autonomia da Paraíba”. Mais
lenha na fogueira.
Olivro de Barbosa Lima Sobrinho é considerado um estudo sobre
os fatos históricos daquele 1930. É um dos trabalhos mais respeitados e isentos
e uma das obras mais citadas pelos vários historiadores que já se debruçaram
sobre o tema. Por isso, leitura indispensável para os que querem melhor entender
sobre aquele importante capítulo da nossa História recente.
Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho nasceu no Recife (PE), a
22 de janeiro de 1897. Era filho de Francisco Cintra Lima e de dona Joana de
Jesus Cintra Barbosa Lima. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela
Faculdade de Direito do Recife, em 1917. Jornalista, trabalhou em vários
jornais, dentre eles o Jornal do Brasil.
Por duas vezes exerceu a presidência da ABI – Associação Brasileira de Imprensa.
Como político, foi deputado federal por três legislaturas e governador do
estado de Pernambuco (1948/1951). Intelectual refinado que foi, tomou cadeira
na ABL - Academia Brasileira de Letras da qual foi
presidente (1953/1954). Faleceu no Rio de Janeiro, aos 103 anos de idade, em 16
de julho de 2000.
DSMR, em 08 de abril de 2021.
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