ODE

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O inusitado da “Guerra de Princesa”

Dois componentes fizeram da Guerra de Princesa um movimento diferente, inusitado: aviões e estrangeiros. O levante dos rebelados de Princesa, em 1930, contra o governo do presidente paraibano, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, liderados pelo coronel José Pereira Lima, o que durou longos cinco meses, teve a participação de 4 importantes personagens que não nasceram no país, de 2 aeronaves também fabricadas no exterior e de 1 filho de estrangeiros. Essa situação caracteriza, aquele conflito, diferente de todas as lutas ocorridas – até então, no interior do Brasil.

Quanto aos personagens, o primeiro e mais importante é o japonês Yege Kumamoto. Nascido no outro lado do mundo, “seu Iês”, como era conhecido em Princesa, aqui chegou na década de 1920, trazido pelo coronel José Pereira que o conheceu, como imigrante - egresso da I Guerra Mundial -, no porto do Recife. Chegando a Princesa, Kumamoto, mesmo sem falar uma única palavra de português, rapidamente se adaptou e começou a trabalhar nas usinas de algodão do coronel. Durante a Guerra de Princesa, Yege assumiu o papel de tesoureiro-geral e era o responsável pela busca do dinheiro (em Arcoverde, então Rio Branco), que vinha do Recife, e pelo pagamento dos homens de Zé Pereira em armas.

Outros dois estrangeiros que tiveram efetiva participação na Guerra de Princesa, foram os italianos Florindo Peroni - exímio piloto de avião e Luigi Fossati, competente mecânico. Estes dois, foram contratados pelo governo da Paraíba com a finalidade de promover o “bombardeio” de Princesa. Essa empresa foi um fiasco. O aviãozinho “flit”, comprado por João Pessoa, não conseguiu alçar voo e despedaçou-se ao esbarrar numa cerca num campo de aviação improvisado, na cidade de Piancó. Mas o presidente da Paraíba, açulado por José Américo de Almeida, não desistiu. Logo foi providenciada outra aeronave.

Nessa nova empreitada, mais um estrangeiro participou daquele movimento de guerrilha. Foi o francês, nascido na Argélia, Charles Garcia Astor. Este, também aviador, foi o responsável por pilotar o avião monomotor, apelidado de “Garoto”, que, em face da avaria sofrida pelo “flit”, foi adquirido em São Paulo para efetivar o desejado bombardeio da cidade rebelada. Diante da impossibilidade do intento bélico, que seria de grande monta, o monomotor pilotado pelo francês limitou-se a apenas despejar sobre o reduto rebelde, panfletos conclamando a população a evacuar da cidade, e aos homens de Zé Pereira a entregarem-se em face do iminente bombardeio da cidade. Não aconteceu uma coisa nem outra, tampouco o prometido bombardeio.

Além desses quatro estrangeiros que participaram do conflito armado de Princesa, um outro, neto de alemães, teve também participação efetiva naquela guerra. Foi o militar, Jacob Guilherme Frantz. Nascido no Rio Grande do Sul, sabedor da guerra que aqui se desenrolava, veio à Paraíba e apresentou-se como voluntário para lutar ao lado da polícia paraibana, contra os rebeldes de Princesa. Terminou sendo major da Polícia paraibana, deputado estadual, deputado federal e prefeito de duas cidades paraibanas. Diante do aqui exposto, constata-se haver sido, a Guerra de Princesa, um dos poucos eventos bélicos ocorridos no Brasil, que tiveram a participação de estrangeiros e o uso de aeronaves em seus movimentos. Algo verdadeiramente inusitado.




Nenhum comentário:

Postar um comentário