ODE

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

ANTÔNIA FLORÊNCIO CARLOS DE ANDRADE


ANTÔNIA FLORÊNCIO CARLOS DE ANDRADE, mais conhecida como “Dona Toinha”, princesense de boa cepa, pois, filha do Major Feliciano Rodrigues Florêncio (um dos principais troncos das famílias tradicionais de Princesa) e de dona Joaquina de Andrade Lima, nasceu em Princesa (mais exatamente no Sítio Capoeiras) aos 23 de dezembro do ano de 1890. Casou-se com Manoel Carlos de Andrade que era funcionário da antiga Mesa de Rendas (atual Coletoria Estadual) e irmão do coronel José Pereira Lima. Dessa união, nasceram os filhos: José Carlos, Maria das Neves, Maria do Socorro, Policarpo, Terezinha e João. Dona Toinha era o que se pode chamar de “mulher macho” sem macular sua feminilidade. Nos idos de 1930, por ocasião da “Guerra de Princesa” essa varoa teve importante participação naquele conflito. Destemida e determinada, ela fez parte ativamente daquela luta. Enquanto quase a totalidade das mulheres das boas famílias de Princesa, se refugiaram nas cidades vizinhas do estado de Pernambuco (Flores e Triunfo), “Dona Toinha” permaneceu em Princesa durante toda a luta (de fevereiro a julho de 1930), prestando seu apoio aos combatentes e participando também das estratégias traçadas pelos comandantes daquela Revolta.

FOTO DO CASARÃO DE DONA TOINHA CARLOS

Mulher “cangaceira”

Segundo a historiadora princesense Serioja Rodrigues Cordeiro Mariano, em seu livro: “Signos em Confronto? O Arcaico e o Moderno na Cidade de Princesa (PB) na década de 1920” pp. 178 e 179: “A literatura sobre a revolta diz que ficou uma só mulher na cidade, o que foi reforçado nos depoimentos:”

(...) as mulheres saíram tudo daqui de Princesa, aqui só ficou Toinha Carlos; era mulher de Manoel Carlos, o delegado, era muito mandona, o marido não mandava em nada este era irmão de Zé Pereira, mas ela mandava naquela redondeza toda, o povo tinha muita atenção a ela, era mulher cangaceira como se diz. As outras tudo se mudaram daqui só ficou ela. (...) Quando João Pessoa morreu aí cumadre Toinha foi presa, botaram ela em cima dum carro aberto ela e os filhos, e levaram ela presa pela cidade em cima de um carro (...)”. (depoimento de dona Lindaura Cordeiro Mariano).

     Como vemos, “Dona Toinha” era uma mulher singular, o que faz-nos lembrar da coronela do Ceará, Dona Fideralina Augusto, avó do doutor Ildefonso Lacerda que foi barbaramente assassinado em Princesa em 1902 (por coincidência, crime que teve a participação de um dos irmãos de “Dona Toinha”), que mandava e desmandava em toda a região do Cariri cearense, polarizada pela cidade de Lavras da Mangabeira.

     Como vimos a cunhada do coronel Zé Pereira permaneceu, destemidamente, durante todo o tempo da luta de resistência de Princesa, em sua casa dando conta de suas determinações para os afazeres domésticos e das necessidades dos que lutavam nos campos de batalhas. Relata-se que, Nominando Muniz Diniz, mais conhecido como “Seu Mano” (que viria a ser o futuro prefeito de Princesa após a eclosão da Revolução de 30 que apeou o coronel Zé Pereira do poder em Princesa, e que teria sido na qualidade de prefeito, o executor da prisão dessa valente mulher), que havia se retirado da cidade - por ocasião do conflito -, para o município pernambucano de Triunfo, vinha, todos os sábados (dia da feira-livre em Princesa) para cuidar de seus negócios, ocasião em que tomava café e almoçava na casa de “Dona Toinha”. Era assim a matriarca. Acolhia a todos, gostava de ver sua casa cheia de gente. Tivera tido maior oportunidade, haver-se-ia tornado, a nossa biografada, também uma coronela? Mandona que era, tivesse tido maiores oportunidades ter-se-ia consagrado como a nossa “Maria Quitéria”? Ou igual à “coronela” cearense, dona Fideralina? Sabe-se hoje que, além de também dar ordens, sua residência constituiu-se, à época, uma espécie de Quartel General da “Guerra de Princesa”. Conta-se que ali aconteciam reuniões do Estado Maior comandado pelo coronel Zé Pereira. Prova disso é que, na década de 1980, foram encontrados, embutidos nas paredes de sua casa, vários cartuchos para rifles e fuzis, semelhantes aos mesmos usados na revolta de 1930.

Prisão e morte

     Pelo seu destemor e pela sua coragem em desafiar os poderosos que venceram a Revolução, quando se pôs na linha de frente quando da Guerra de Princesa, foi Antônia Florêncio, vítima de prisão com todos seus filhos menores e conduzida, em cima de um caminhão, exposta ao deboche público para satisfazer ao abjeto desejo de seus adversários políticos, de execrá-la perante toda a cidade. Conta-se que, mesmo sofrendo tamanha humilhação, nesse vexatório desfile público, vestiu-se de verde (a cor dos “perrepistas”) e pôs-se, aquela austera e valente mulher, de cabeça erguida sem se submeter aos vitoriosos – a exemplo de Nominando Muniz Diniz, então prefeito e ex-amigo - que, se antes se faziam de seus amigos, se constituíam agora em seus algozes. Faleceu, “Dona Toinha”, já em idade provecta, nos anos 70, morando na mesma casa (foto acima) em que sempre viveu e também orgulhosa de sua coragem e de seu compromisso com sua Terra. Pela sua altivez e pelo efetivo envolvimento com a causa revolucionária que deixou marcas indeléveis na história de Princesa, está dona Antônia Florêncio Carlos de Andrade, a merecer figurar no panteão dos filhos e filhas ilustres desta Terra.




Nenhum comentário:

Postar um comentário