ANTÔNIA FLORÊNCIO CARLOS
DE ANDRADE, mais
conhecida como “Dona Toinha”, princesense de boa cepa, pois, filha do Major
Feliciano Rodrigues Florêncio (um dos principais troncos das famílias
tradicionais de Princesa) e de dona Joaquina de Andrade Lima, nasceu em
Princesa (mais exatamente no Sítio Capoeiras) aos 23 de dezembro do ano de 1890.
Casou-se com Manoel Carlos de Andrade que era funcionário da antiga Mesa de
Rendas (atual Coletoria Estadual) e irmão do coronel José Pereira Lima. Dessa
união, nasceram os filhos: José Carlos, Maria das Neves, Maria do Socorro,
Policarpo, Terezinha e João. Dona Toinha era o que se pode chamar de “mulher
macho” sem macular sua feminilidade. Nos idos de 1930, por ocasião da “Guerra
de Princesa” essa varoa teve importante participação naquele conflito. Destemida
e determinada, ela fez parte ativamente daquela luta. Enquanto quase a totalidade
das mulheres das boas famílias de Princesa, se refugiaram nas cidades vizinhas
do estado de Pernambuco (Flores e Triunfo), “Dona Toinha” permaneceu em
Princesa durante toda a luta (de fevereiro a julho de 1930), prestando seu
apoio aos combatentes e participando também das estratégias traçadas pelos
comandantes daquela Revolta.
FOTO DO CASARÃO DE DONA TOINHA CARLOS
Mulher “cangaceira”
Segundo a historiadora princesense Serioja Rodrigues Cordeiro
Mariano, em seu livro: “Signos em
Confronto? O Arcaico e o Moderno na Cidade de Princesa (PB) na década de 1920”
pp. 178 e 179: “A literatura sobre a revolta diz que ficou uma só mulher na
cidade, o que foi reforçado nos depoimentos:”
(...) as mulheres saíram tudo daqui de Princesa, aqui só ficou Toinha
Carlos; era mulher de Manoel Carlos, o delegado, era muito mandona, o marido
não mandava em nada este era irmão de Zé Pereira, mas ela mandava naquela
redondeza toda, o povo tinha muita atenção a ela, era mulher cangaceira como se
diz. As outras tudo se mudaram daqui só ficou ela. (...) Quando João Pessoa
morreu aí cumadre Toinha foi presa, botaram ela em cima dum carro aberto ela e
os filhos, e levaram ela presa pela cidade em cima de um carro (...)”. (depoimento de dona Lindaura
Cordeiro Mariano).
Como vemos, “Dona Toinha” era uma
mulher singular, o que faz-nos lembrar da coronela do Ceará, Dona Fideralina
Augusto, avó do doutor Ildefonso Lacerda que foi barbaramente assassinado em
Princesa em 1902 (por coincidência, crime que teve a participação de um dos
irmãos de “Dona Toinha”), que mandava e desmandava em toda a região do Cariri
cearense, polarizada pela cidade de Lavras da Mangabeira.
Como vimos a
cunhada do coronel Zé Pereira permaneceu, destemidamente, durante todo o tempo
da luta de resistência de Princesa, em sua casa dando conta de suas
determinações para os afazeres domésticos e das necessidades dos que lutavam
nos campos de batalhas. Relata-se que, Nominando Muniz Diniz, mais conhecido
como “Seu Mano” (que viria a ser o futuro prefeito de Princesa após a eclosão
da Revolução de 30 que apeou o coronel Zé Pereira do poder em Princesa, e que
teria sido na qualidade de prefeito, o executor da prisão dessa valente mulher),
que havia se retirado da cidade - por ocasião do conflito -, para o município
pernambucano de Triunfo, vinha, todos os sábados (dia da feira-livre em
Princesa) para cuidar de seus negócios, ocasião em que tomava café e almoçava
na casa de “Dona Toinha”. Era assim a matriarca. Acolhia a todos, gostava de
ver sua casa cheia de gente. Tivera tido maior oportunidade, haver-se-ia
tornado, a nossa biografada, também uma coronela? Mandona que era, tivesse tido
maiores oportunidades ter-se-ia consagrado como a nossa “Maria Quitéria”? Ou
igual à “coronela” cearense, dona Fideralina? Sabe-se hoje que, além de também dar
ordens, sua residência constituiu-se, à época, uma espécie de Quartel General
da “Guerra de Princesa”. Conta-se que ali aconteciam reuniões do Estado Maior
comandado pelo coronel Zé Pereira. Prova disso é que, na década de 1980, foram
encontrados, embutidos nas paredes de sua casa, vários cartuchos para rifles e
fuzis, semelhantes aos mesmos usados na revolta de 1930.
Prisão e morte
Pelo seu destemor
e pela sua coragem em desafiar os poderosos que venceram a Revolução, quando se
pôs na linha de frente quando da Guerra de Princesa, foi Antônia Florêncio, vítima
de prisão com todos seus filhos menores e conduzida, em cima de um caminhão, exposta
ao deboche público para satisfazer ao abjeto desejo de seus adversários
políticos, de execrá-la perante toda a cidade. Conta-se que, mesmo sofrendo
tamanha humilhação, nesse vexatório desfile público, vestiu-se de verde (a cor
dos “perrepistas”) e pôs-se, aquela austera e valente mulher, de cabeça erguida
sem se submeter aos vitoriosos – a exemplo de Nominando Muniz Diniz, então
prefeito e ex-amigo - que, se antes se faziam de seus amigos, se constituíam
agora em seus algozes. Faleceu, “Dona Toinha”, já em idade provecta, nos anos
70, morando na mesma casa (foto acima) em que sempre viveu e também orgulhosa
de sua coragem e de seu compromisso com sua Terra. Pela sua altivez e pelo
efetivo envolvimento com a causa revolucionária que deixou marcas indeléveis na
história de Princesa, está dona Antônia Florêncio Carlos de Andrade, a merecer
figurar no panteão dos filhos e filhas ilustres desta Terra.
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