ODE

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

MARIA AURORA DINIZ

MARIA AURORA DINIZ nasceu na Villa de Princesa às 17 horas do dia 27 de dezembro de 1914. Era a filha mais velha daquele que seria, mais tarde, o importante líder político princesense, Nominando Muniz Diniz, mais conhecido por “Seu Mano”. Sua mãe era dona Aurora Sérgio Diniz. Viveu toda sua vida em Princesa, onde logo cedo fez os primeiros estudos na Escola do professor Adriano Feitosa Cavalcanti, completados no Grupo Escolar “Gama e Melo”. Diferente de seus irmãos (José, Antônio, Inês e Maria do Socorro) cursou somente o ensino fundamental. Na verdade, Maria Aurora, que era carinhosamente chamada de “Tita” pelos familiares e amigos íntimos – sem prejuízo à sua condição de mulher -, constituiu-se como se fora um filho varão do comerciante, industrial, proprietário de terras e político Nominando Muniz Diniz. A filha mais velha de “Seu Mano” - que morreu solteira -, teve apenas um namorado, chamado Agnélo França Diniz. Este, que era seu primo e também secretário particular de seu pai, mesmo assim não caiu nas graças do líder político que não via com simpatia aquele relacionamento. Malgrado a desaprovação do pai quanto ao namoro, Maria Aurora o manteve até que uma fatalidade a separou de seu grande amor. Agnélo contraiu um mal reumático grave que o matou precocemente, em 17 de fevereiro de 1943, aos 32 anos de idade.

Nos bastidores da política

Depois dessa desilusão amorosa, a moça, então contando apenas 29 anos, resolveu manter-se solteira para sempre. Com essa decisão, passou Maria Aurora, a dedicar-se à administração da chamada “Casa Grande” da importante e rica família Diniz. Com o tempo, foi-se especializando na arte dos bastidores da política, tornando-se auxiliar importante do pai e do irmão (Antônio Nominando Diniz) nas articulações político-eleitorais. Nunca se candidatou a cargo eletivo algum, porém, sempre teve efetiva participação nas negociações políticas e nas campanhas eleitorais de “Seu Mano” e de doutor Antônio (ambos foram eleitos prefeitos de Princesa e deputados estaduais).

Envelhecido Nominando, a filha passou a dar as cartas na mesa da política nominandista no município. Seu irmão, Antônio, na qualidade de deputado estadual, articulava na capital João Pessoa, enquanto Maria Aurora mandava em Princesa. Com o falecimento do pai, em 1974, “Tita” tomou, definitivamente, as rédeas do comando, tanto político, quanto dos bens e dos negócios da família. Cuidava de tudo. Administrava as fazendas, os imóveis, negociava a produção de algodão, a venda de gado, enfim, exercia o papel de curadora do patrimônio deixado pelo velho patriarca. Tinha tanto poder de liderança no seio familiar, que nem o inventário dos bens foi feito após a morte do velho.

DONA MARIA AURORA JOVEM

Murros na mesa

Em 1976, por ocasião da escolha dos candidatos para comporem a chapa majoritária para a eleição de prefeito e vice-prefeito de Princesa, Maria Aurora apresentou o nome de Sebastião Feliciano dos Santos (Batinho), como seu candidato preferido para encabeçar a chapa. Essa indicação causou sérias objeções por parte de outros próceres do partido que intencionavam ser também ungidos como candidatos naquela eleição. A hegemonia nominandista reinava em Princesa e o pleito se apresentava fácil para o grupo “Diniz”. No entanto, a filha de “Seu Mano” bateu o pé num acintoso enfrentamento à liderança do irmão Antônio e dos demais representantes da agremiação partidária no município e manteve sua determinação pela preferência do nome por ela escolhido. Diante da insistência do irmão deputado para que ela enveredasse pelo caminho da ponderação e do consenso partidário, mudando a sua decisão e optando por um nome que agradasse a todos, “Tita” deu um murro na mesa e disse: “O candidato a prefeito, da minha e da nossa preferência, é Batinho e tá encerrado o assunto!”. Insatisfeitos com essa monocrática decisão de Maria Aurora e contundente determinação em defender sua própria vontade – isso em detrimento do interesse da maioria -, vários membros do partido, sentindo-se desprestigiados e preteridos em suas pretensões ameaçaram rompimento político, alegando que Batinho era um “pé-rapado”, “moleque de recados” e que não reunia as condições necessárias para concorrer ao mais alto cargo do município, tampouco possuía meios para bancar uma campanha eleitoral e garantir uma vitória nas urnas. Diante desses argumentos a matrona deu outro murro na mesa, desta vez mais forte ainda do que o primeiro e invectivou: “Se preciso for, vendo o derradeiro boi da fazenda de papai, mas elejo Batinho!”. Em face dessa arrojada e definitiva determinação, somado à passividade do irmão Antônio e, impotentes para enfrentarem a matriarca que se consolidava como a “chefa” do clã político, a maioria dos correligionários acatou a decisão e, com o ostensivo apoio de Maria Aurora, Batinho submeteu-se às urnas e foi eleito prefeito de Princesa, derrotando João Pacote que teve o amparo eleitoral do grupo “Pereira”.

Na verdade, a maioria dos partidários do grupo “Diniz”, sem alternativa, se submeteu à vontade da “matrona”. Porém, alguns, afoitos, se revoltaram e se bandearam para as hostes do partido adversário, comandado por Aloysio Pereira e Gonzaga Bento. Foi o caso de João Brandão (João Pacote) e Epaminondas Bezerra Leite (Novo Bezerra), que não somente aderiram como formaram a chapa - adversária à encabeçada por Batinho -, como prefeito e vice-prefeito, respectivamente, apoiada do grupo “Pereira”. Em que pese ser uma mulher educada, de boa conversa, alegre, simpática e, aparentemente, afável, “Tita” não tergiversava em suas decisões ou opiniões, fossem políticas, negociais ou de cunho particular. Quando contrariada, agia com determinação e até rispidez, sendo por isso sempre muito respeitada.

Devotada à religião

Muito religiosa, Maria Aurora, frequentava com assiduidade os ofícios da Igreja Católica. Pertencia à associação do “Apostolado da Oração” como Zeladora do Sagrado Coração de Jesus e contribuía financeiramente para suprir às necessidades da Igreja Matriz. Muito caridosa, praticava aquela máxima que diz: “Dê com a mão direita, sem que a esquerda perceba”, e assim o fazia. Em casa, praticava com presteza a sua generosidade nata com relação aos menos favorecidos. A chamada “Casa Grande”, situada à Praça José Nominando, após a morte de seus pais, passou a ser por ela comandada com mão de ferro, porém, de portas sempre abertas e garrafas de café sobre uma grande mesa para servir a todos de forma indiscriminada. Recebia correligionários e amigos, tratando-os sempre com muita atenção e presteza, além de realizar também a política do assistencialismo – ajudava até financeiramente aos muitos que lhes procuravam -, o que, sob sua égide, certamente ajudou a proporcionar muitas vitórias eleitorais ao grupo político comandado por sua família.

O fim

Em 1996, já aos 82 anos de idade, passou o bastão do comando da agremiação partidária nominandista para o marido de sua sobrinha, Flora Diniz, doutor José Sidney Oliveira que, a partir daí tornou-se o comandante político do grupo “Diniz” em Princesa. Teve idade provecta e, enquanto lúcida, até certo ponto administrou a política. Quanto os bens e aos negócios da família, somente deixou de tudo resolver quando adoeceu. Já passando dos 80 anos de idade foi acometida do mal de Alzheimer, cessando suas atividades quando se evidenciaram exacerbados os sintomas da doença. Completamente senil faleceu, a matriarca da política princesense, aos 87 anos de idade, em 02 de junho de 2002 e foi sepultada no cemitério de Princesa. Hoje, existem uma Rua e uma Praça (com seu busto, ali colocado quando da minha administração como prefeito) construídas em sua homenagem, num justo reconhecimento àquela que muito fez por sua Terra e, principalmente, pela influência que teve na condução dos destinos políticos de Princesa. Em face disso, é considerada, Maria Aurora Diniz, uma das personalidades mais ilustres de Princesa.




2 comentários:

  1. Parabéns Dominguinhos por essa homenagem muito merecida a pessoa de minha querida tia Maria Aurora. Realmente o norte da minha família, por um bom período em nossas vidas.

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  2. Maria Aurora, nossa saudosa Tita, sempre será um marco de ferrenha defensora da ética em todas as suas manifestações! Viveu com extrema simplicidade e dedicou sua vida a praticar benfazejas em favor dos mais humildes e prol de nossa amada Princesa Isabel. Foi uma grande prova de que humildade não se confunde com omissão nem tampouco submissão, e, quando necessário, ela sempre teve pulso firme. Esse episódio da escolha de Betinho como candidato a prefeito, foi, salvo lapso de memória, a única vez que Maria Aurora precisou subir o tom, e, no caso concreto, em favor de uma pessoa simples, do povo, contrariando, como muito bem descrito, os interesses de "poderosos" da época!!! Viveu e nos deixou um grande legado de simplicidade e luta!!! Tenho a honra de ser filho da sobrinha mais velha de Tita, Maria Adelaide Diniz , filha de José Nominando Diniz, cuja semelhança com a saudosa Tita, seja com relação à firmeza de caráter, capacidade de lutar e se reinventar em defesa dos menos favorecidos, inclusive nos levou à graduação em Direito, pois a busca por justiça, consolidade na história familiar, posteriormente marcada por perdas de entes queridos em razão de homicídios que vitimaram meu saudoso irmão Bebeto e meu saudoso Tio Manito, jamais nos fizeram deixar de lutar pela justiça por intermédio dos Tribunais, mantendo limpas nossas mãos e consciências!!! Tenho muita honra de ser descendente dessas mulheres e espero em Deus ver a Justiça prosperar, em quaisquer de suas esferas, seja nos Tribunais, seja a Justiça Divina! Rogo, ainda, pela possibilidade de ter um pouco que seja, da fibra de ambas, com as quais, muito aprendi (e aprendo) a ser mais ético e humano. Registro meu apreço ao Domingos Sávio Maximiano Roberto Dominguinhos , pela homenagem prestada e pela sua ética em nos proporcionar leituras isentas de quaisquer contornos político-eleitorais ao tratar com muito respeito e lastreado em verdades, inclusive os que não mais figuram como seus parceiros eleitorais. Meus respeitos e gratidão por tão justa homenagem!

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