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segunda-feira, 14 de março de 2022

MARCOLINO FLORENTINO DINIZ


MARCOLINO FLORENTINO DINIZ, mais conhecido como Marcolino Pereira Diniz ou, simplesmente, “Cabôclo Marcolino”, nasceu no Distrito de Patos de Irerê, então pertencente a Princesa, em 10 de agosto de 1894 e era filho do coronel Marçal Florentino Diniz e de dona Maria Augusta de Andrade Lima. Casou-se com dona Alexandrina Florentino Diniz (descendente de franceses, oriunda de Cajazeiras/PB, que veio acompanhando uma irmã freira, designada para dirigir o Colégio “Stella Maris” em Triunfo/PE), filha do major Florentino Rodrigues Diniz (major Floro), com quem teve os filhos, Maria Augusta, Antônio e Wilson. Marcolino criou-se naquele povoado e ali aprendeu as primeiras letras. Alfabetizado, foi estudar o curso primário na cidade pernambucana de Triunfo. Concluída essa etapa, foi enviado pelo pai para estudar o curso secundário na cidade do Recife. Submetido a exame equivalente ao vestibular, foi aprovado e ingressou na Faculdade de Odontologia da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco, porém, por motivos que não sabemos, abandonou o curso na metade de sua ministração.

Comerciante e boêmio

Desistido de estudar, Marcolino convenceu o pai de que deveria adentrar no ramo comercial. Homem de posses, o coronel Marçal Florentino resolveu instalar um estabelecimento comercial para o filho na Vila de Cajazeiras/PB. Ali, Marcolino morou por um período de mais ou menos cinco anos, tempo em que, além de comercializar estivas num grande armazém, editava também um pequeno Jornal Regional que noticiava os fatos ocorridos em todo o sertão paraibano e promovia acontecimentos sociais e políticos. Participava também, ativamente, dos eventos futebolísticos da Vila cajazeirense. Bom Vivant que era, gostava de se apresentar bem vestido, usar as melhores fragrâncias (o que chamavam de extrato) e namorar as moças mais bonitas do lugar. Perdulário, não economizava quando promovia farras com os amigos. Sem motivos que conheçamos, o nosso biografado fechou as portas de seu negócio em Cajazeiras e retornou a Patos de Irerê. Ali chegando, casou-se com Alexandrina Douettes e passou a trabalhar junto ao sogro, o major Floro.

MARCOLINO, O AMIGO DE LAMPIÃO, EM 1930.

 

Coiteiro de Lampião

A partir do início da década de 1920, Marcolino estabeleceu forte amizade com Lampião, cangaceiro famoso do Nordeste cognominado “Rei do cangaço”. A ligação com Lampião era tão forte que este se hospedava frequentemente na casa de Marcolino, onde jogavam baralho numa grande mesa existente na sala de jantar de sua casa. Foi também na casa de Marcolino que o médico princesense, doutor Severiano Diniz, tratou de grave ferimento no pé direito de Lampião. Há quem diga que o butim resultante do assalto dos cangaceiros à cidade paraibana de Sousa, em 27 de julho de 1924, foi entregue, por Lampião, para Marcolino guardar: 40 contos de reis. Daí a polêmica existente sobre a inimizade de Lampião com o coronel José Pereira Lima (tio e cunhado de Marcolino), quando, segundo as más-línguas - conforme suposta alegação de Marcolino a Lampião -, Zé Pereira teria se apossado do dinheiro do cangaceiro sem a anuência do amigo guardião. Mas isso é outra história (ou estória?) que carece de maiores esclarecimentos. O certo é que, enquanto o sobrinho dava guarida a Lampião, Zé Pereira o mandava perseguir. Daí, a existência de mal-estares e de forte estremecimento na convivência dos dois parentes. Há quem diga que após o rompimento do coronel Zé Pereira com o “Rei do Cangaço”, este passou a praticar mais e maiores atos de violência, com requintes de crueldade, contra o povo da região tida como feudo do Coronel, com o intuito de vingar-se de seu ex-amigo e agora desafeto.

Na “Guerra de Princesa”

Marcolino foi um dos mais importantes “chefes de turma” das tropas dos “Libertadores de Princesa”, por ocasião da rebelião promovida pelo coronel José Pereira em 1930 contra o governo de João Pessoa. O filho do coronel Marçal foi, juntamente com Luiz do Triângulo, responsável pela estratégia que desbaratou a chamada “Coluna da Vitória”, enviada por João Pessoa para invadir Princesa e que foi destroçada na saída do então distrito de Água Branca. Com muita coragem, Marcolino comandou a luta que expulsou a polícia paraibana do povoado de Patos de Irerê, ocasião em que morreram vários soldados e somente dois “libertadores”. O também chamado “Cabôclo Marcolino”, imortalizado na música de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”: “(...) O ‘Cabôclo Marcolino’ tinha oito boi zebu, uma casa de varanda, dando pro norte e pro sul... Ai Xanduzinha, Xanduzinha meu xodó (...)”, teve também problemas graves com a polícia quando, independente das lutas de 30, nas festas natalinas de 1926, assassinou o juiz da cidade de Triunfo/PE num acerto de contas por motivo de velhas rixas, e dizem que foi resgatado da cadeia daquela cidade pernambucana atendendo às ameaças de Lampião de que, se não libertassem seu amigo, invadiria aquele burgo.

LÁPIDE DE MARCOLINO FLORENTINO (PEREIRA) DINIZ

Vida atribulada

Marcolino Florentino Diniz teve existência por demais atribulada e nada construiu na vida, pois, mesmo havendo sido filho de pai rico e genro de homem riquíssimo, terminou seus dias de vida pobre e no ostracismo, fazendo jus ao velho ditado: “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Segundo pessoas que o conheceram, Marcolino foi mesmo responsável pela dilapidação do patrimônio do pai e parte do do sogro quando, em sua eterna vida de boêmio só gastava o que os dois passaram a vida construindo. Ademais, vale salientar que, em face de uma vida tão movimentada, pouco ou nada se tem a dizer de algo importante ou benéfico que possa ter produzido, Marcolino, pelo bem comum. O famoso “Caboclo Marcolino” faleceu em Princesa, aos 86 anos de idade, no dia 21 de dezembro de 1980. Em que pese a ausência de qualquer benemerência, promovida pelo nosso biografado, mesmo assim, está o homem a merecer ser inscrito na galeria dos filhos ilustres pela participação em muitos dos acontecimentos importantes de sua Terra.









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